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"É como se ele fosse meu amigo e estivesse ali", diz Walter Carvalho sobre documentário em que retrata Raul Seixas

NEUSA BARBOSA

Do Cineweb

27/10/2011 00h10

Sete anos após “Cazuza - O Tempo Não Pára” (2004), o diretor Walter Carvalho volta ao universo do rock nacional para investigar outro mito – agora, Raul Seixas (1945-1989), o personagem por trás do documentário “Raul - O Início, o Fim e o Meio”, atração de duas únicas e certamente muito disputadas sessões na programação da Mostra de São Paulo, nesta quinta-feira (27).

Diretor de fotografia experiente e premiado, com mais de 70 filmes nas costas, além de seis incursões na direção, o próprio Carvalho assim define “Raul...”: “Este foi talvez o trabalho que me consumiu mais tempo e dedicação”.

O mais desgastante de todo o processo, segundo ele, foi a montagem, a cargo de Pablo Ribeiro, que levou um ano e meio. “Tínhamos mais de 400 horas de material. Foram 90 entrevistas. Éramos eu e meu montador, na solidão, oito horas por dia. É um trabalho quase insano de equação, de achar enlaces, conexões, desenlaces, conjunções, disparates que estão dentro daquele universo de um bloco chamado Raul e tirar tudo que não é Raul do bloco”.

Apesar de sua larga experiência, Carvalho faz uma confissão surpreendente, quando perguntado como enfrentou todo este material: “Sempre penso que não vou dar conta. Aí, centrei através das músicas para tentar entender a trajetória do Raul através delas. Aos poucos, isso foi se diluindo dentro do próprio mito”.

Segundo o diretor, o filme se passa em dois planos: o privado, cronológico, e o público, não cronológico. “Depois, os dois se encontraram”, conta. “Fiz um filme sobre um mito libertário, irreverente, provocador. Quem vai saber se dei conta dele ou não é o público”.

Pagamento aos herdeiros
O material de arquivo, que inclui entrevistas e apresentações do cantor e compositor baiano, ocupa entre 30 a 40% do total de “Raul...”, proveniente de várias origens: emissoras de TV, familiares, produtores. Há inclusive material inédito, como uma gravação num estúdio, filmada por Marcos Mazola.

TRAILER DE "RAUL - O INÍCIO, O FIM E O MEIO"

Outro ano foi consumido na filmagem das entrevistas, que acarretou inclusive algumas viagens internacionais, aos EUA, para entrevistar o cunhado e as três filhas de Raul, e à Suíça, onde mora o escritor Paulo Coelho, parceiro do roqueiro em composições como “Há Dez Mil Anos Atrás” e “Sociedade Alternativa”.

Familiares e as várias ex-companheiras de Raul não constituíram nenhum empecilho ao documentário, segundo o diretor. “Todos, sem exceção, foram atenciosos, tanto para dar seus depoimentos quanto para abrir seus arquivos. Evidentemente, tivemos que pagar todos os direitos aos herdeiros”.

Carvalho estima que quase 25% do orçamento do filme – cerca de R$ 2,4 milhões – foi gasto no pagamento desses direitos de imagens e fonogramas, não só aos herdeiros quanto às gravadoras. O diretor salienta que nem todos esses pagamentos, porém, referem-se às composições de Raul Seixas. “Também tivemos que pagar imagens de Elvis Presley, da Jovem Guarda e de alguns filmes que usamos”.

Entre esses filmes, Carvalho usou cenas de “Sem Destino” (1969), de Dennis Hopper. A razão: “Para mim, é um divisor de águas. É a ruptura com a contracultura nos anos 1970 no viés dos beatniks. Isso se mistura com o Elvis e se espalha para o mundo. É nesse momento que o Raul começa a emergir como artista, ele é fruto de tudo isso”.

Ponte entre gerações
O diretor conta que chegou a conhecer Raul “mas não o frequentava”. Muito tempo depois, seus dois filhos, de 34 e 24 anos, reintroduziram suas músicas no cotidiano de Walter. “Os dois, em fases diferentes, o ouviam em casa. O Raul tinha essa característica mesmo, de atingir várias gerações”.

Quando lhe perguntam se, depois de realizar o filme, mudou alguma coisa em sua visão de Raul, ele responde: “Posso ser sincero? Quando olho o filme, vendo, como vi no Rio, numa sessão interrompida por aplausos quatro vezes, a sensação é como se ele estivesse conversando comigo, como se ele fosse meu amigo e estivesse ali. Eu tinha a impressão de que ele estava falando para mim”.

Depois das exibições no Festival do Rio e na Mostra de São Paulo, “Raul...” tem estreia prevista para a segunda quinzena de janeiro de 2012.
 


RAUL - O INÍCIO, O FIM E O MEIO

Qui. (27), às 22h, no Frei Caneca Unibanco Arteplex 2 (shopping Frei Caneca - r. Frei Caneca, 569, 3º piso, Cerqueira César, tel. 0/xx/11/3472-2362)

Qui. (27), às 22h20, no Frei Caneca Unibanco Arteplex 1 (shopping Frei Caneca - r. Frei Caneca, 569, 3º piso, Cerqueira César, tel. 0/xx/11/3472-2362)

A programação está sujeita a alterações.