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"Roteirista é a grande carência do cinema brasileiro", diz diretor Jorge Furtado na Mostra de SP

O cineasta Jorge Furtado durante entrevista coletiva do júri da Mostra de São Paulo 2011, no Frei Caneca Unibanco Arteplex (29/10/11) - Mario Miranda/Agência Foto
O cineasta Jorge Furtado durante entrevista coletiva do júri da Mostra de São Paulo 2011, no Frei Caneca Unibanco Arteplex (29/10/11) Imagem: Mario Miranda/Agência Foto

ANA OKADA

Da Redação

30/10/2011 15h42Atualizada em 31/10/2011 15h15

Definindo-se mais como roteirista, o diretor Jorge Furtado disse neste domingo (30), em bate-papo na Mostra de Cinema de São Paulo, que a maior carência do cinema brasileiro ocorre numa das etapas mais baratas da produção cinematográfica --o roteiro. Para ele, isso acontece porque lemos pouco. "A gente quer escrever mas não lê; a literatura é quem cria os filmes. Se você quiser criar filmes, tem que ser leitor."

Ele explica que o roteiro é o primeiro lugar em que é possível ver o filme, e que nessa etapa é que se define como cada cena deve ser --surpreendente e inevitável. "Cada cena, cada fala tem que ter um motivo. Tudo isso está no papel, e isso está no roteiro e na dramaturgia", diz.

Espectador comum
O diretor, famoso por filmes como os longas "Meu Tio Matou um Cara" e "O Homem que Copiava" e o curta "Ilha das Flores", conta que sempre foi ao cinema e era um "espectador comum": "Fui um espectador comum de cinema até os 17 anos, quando vi 'Deu pra Ti Anos 70'". O filme, que se passa em Porto Alegre e retrata a juventude da época, mostrou a Furtado que era possível fazer cinema não só no país, mas na sua própria cidade.

Outro marco em sua visão sobre a sétima arte foi assistir ao cinema feito fora de Hollywood. "Via os ciclos de filmes da sala Bristol (em Porto Alegre), e aquilo foi uma coisa muito chocante. Vi Kurosawa, nouvelle vague; cada dia via um filme. Foi uma mudança total", diz. "O cinema de Hollywood se impõe como uma forma, e todas as histórias são mais ou menos as mesmas. De repente, vi que havia filmes que não eram assim."

Esses encontros fizeram com que Furtado deixasse a medicina e fosse estudar jornalismo --na época, era o que havia de mais próximo do cinema, diz ele. A partir daí, conta o diretor, começou a prestar muito mais atenção aos filmes como forma de ver o mundo, sem no entanto perder o olhar de espectador. "Hoje, o que me prende [num filme] é a mesma coisa de sempre, é a capacidade de representar o sentimento humano, a alma humana. A gente acha que já viu tudo, mas sempre aparece uma forma diferente de representar isso."

Favoritos

Convidado pela mostra para falar dos filmes de sua vida, Jorge Furtado enumerou seus três favoritos: "Nós que Nos Amávamos Tanto", de Ettore Scola; "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa", de Woody Allen; e "Meu Tio da América", de Alain Resnais. O diretor aponta a mistura de estilos deles como um denominador comum entre eles e sua obra. "A pureza não me interessa, me interessa muito mais a mistura. Filmes fragmentados, que não seguem uma ordem... Essa mistura diz muito sobre nós."

Ele conta que "Ilha das Flores", primeiro filme que escreveu e dirigiu, foi muito influenciado por esses longas e que trouxe, antes do "boom" da internet, a ideia do "hiperlink", de que um assunto está relacionado com outros. "Essa salada, essa história de a gente ir pulando de uma coisa para outra é muito bem representada nesses filmes."

Veja o curta "Ilha das Flores"