Para Mauro Lima, personagens de "Reis e Ratos" são "sedutores e canalhas com charme"
Com Rodrigo Santoro, Cauã Reymond, Selton Mello e Rafaela Mandeli no elenco, "Reis e Ratos" é ambientado às vésperas do Golpe Militar de 64 e conta uma história fictícia sobre os bastidores do evento que levou à ditadura. Dirigido por Mauro Lima ("Meu Nome Não é Johnny") e produzido por Paula Lavigne, o filme foi rodado em apenas 17 dias, no início de 2009, e estreia nos cinemas brasileiros em 20 de janeiro de 2012. A trilha tem uma faixa criada por Caetano Veloso e foi lançada no Festival de Paulínia de 2011.
Novo pôster do filme
Elenco de "Reis e Ratos" em pôster do filme
O filme começa com a explosão de um coreto no centro de um pequeno município. A partir daí, o longa mostra, por meio de uma narrativa em flashback, a atmosfera conspiratória às vésperas do golpe de 1964 e seus personagens "sedutores e canalhas com charme", como define o diretor Mauro Lima em entrevista ao UOL.
UOL Cinema: Como você definiria "Reis e Ratos?"
Mauro Lima: O que a trama tem de interessante é talvez o fato de que ela não tenha uma prateleira certa, gênero certo ou pré-definido. O filme pode ser engraçado, pode ser um drama, um thriller. Mas ao mesmo tempo não é uma paródia. Quando é agua com açúcar, é água com açúcar. Quando é comédia, é engraçado mesmo. Quando é drama, é drama de verdade.
UOL Cinema: Como foi a escalação do Rodrigo Santoro?
Mauro Lima: Tudo meio que deu certo em um curto espaço de tempo. Quando resolvemos fazer essa pequena loucura, comecei a falar com os amigos e eles foram aparecendo no meu caminho. No dia seguinte que decidimos fazer, fui a uma churrascaria com uns amigos e o Rodrigo (Santoro) estava na mesa, e ele se interessou. Deu o e-mail dele, pediu pra ler e topou logo em seguida.
UOL Cinema: E o Selton?
Mauro Lima: O Selton estava em uma espécie de “retiro artístico”, sem fazer filme, sem nada. Mas eu mandei o roteiro e ele disse: ‘Pra fazer esse filme até saio do retiro’ (Risos). E o Cauã, o produtor o encontrou em um avião indo pro Carnaval da Bahia. Assim de ele pousar lá, mandei o e-mail e ele leu o roteiro, me ligou horas depois, antes de sair pra aproveitar o Carnaval.
UOL Cinema: Como foi a rotina de gravação com esses atores, que conciliam com novelas e outros filmes?
Mauro Lima: O filme foi feito em 17 dias. Na verdade, tudo isso só foi possível porque foi feito em pouco tempo. O filme estava pegando carona em um maior, que era “O Bem Amado”. Usamos a mesma infra e cenário de “O Bem Amado”. Aí, a produtora perguntou se conseguíamos fazer em 15 dias. Como tenho essa vivência de minissérie, topei na hora. A proposta foi de fazer um filme alternativo em pouco tempo e com pouco roteiro. Além dos personagens, acho que os atores se interessaram por isso. Você não consegue grandes atores por um período grande de tempo. O que mais custa em cinema é o tempo.
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UOL Cinema: E como foram os ensaios sem esse tempo?
Mauro Lima: Tivemos um pouquinho de ensaio. Na pré-produção a gente agitava tudo. Fizemos umas poucas leituras. Se o Cauã tinha cena com a Rafaela, a gente marcava e fazia leituras separadas. Era muito difícil reunir o elenco todo. Mas como todo mundo é amigo, se conhece, a gente fazia isso num clima legal. Não tinha tensão, tinha uma diversão que mantinha leve. A gente sempre teve a diária normal, de acordo com o sindicato (risos). Não viramos madrugada gravando.
UOL Cinema: E de onde vieram as referências desse filme? Ele tem um estilo bem parecido com o Tarantino.
Mauro Lima: O Tarantino é um aglutinador de referências. Ele não serve de referência pra um cara da minha época. Nós nos baseamos nos mesmos caras, ele assistia as mesmas sessões da tarde que eu. Ou da minha geração pelo menos. Apesar de sermos primos por influências, tem menos Tarantino ainda nesse filme. As referências desse filme vieram mais da literatura e do teatro.
UOL Cinema: E de onde surgiu a ideia de "Reis e Ratos"?
Mauro Lima: O roteiro já é bem antigo, foi escrito em 2002. Meu estalo veio com “6 Mil Em Espécie”, do James Ellroy. Achei interessante como ele colocava personagens fictícios dentro da História americana. E pensei que queria fazer algo parecido com isso. No Brasil, misturar personagens históricos com ficção é mais difícil que na América. Se colocasse alguém esbofeteando o Carlos Lacerda, a família dele poderia me processar.
UOL Cinema: E qual a principal característica desses personagens?
Mauro Lima: Queria falar de canalhas, sedutores. Canalhas com charme. Queria pensar nos conspiradores, na direita, nas pessoas na antessala do golpe. Achei interessante falar sobre isso no cinema. Não queria que o filme fosse ambientado nessa parte dos anos de chumbo e pós AI-5. Essa fase do Golpe Militar nunca tinha visto no cinema desse jeito. Esse filme tem mais personagens do que trama. Jogadores e picaretas, um dando golpe no outro. Tem um pouco de Nikolai Gogol aí também.
UOL Cinema: E você fez pesquisas históricas pra entrelaçar as histórias?
Mauro Lima: Me lembro de ouvir essas histórias na infância, lendas como o cara que psicografava mensagens da KGB (personagem de Cauã Reymond), fui checar e algumas histórias dessas realmente aconteceram. A ficção está mais nos personagens.
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