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"Não quero que usem esse filme politicamente", diz Marina Silva sobre filme que vai retratar sua vida

Marina Silva com a cineasta Sandra Wernek, que está produzindo um filme sobre a trajetória da ex-senadora (8/11/11) - Leticia Moreira/ Folhapress
Marina Silva com a cineasta Sandra Wernek, que está produzindo um filme sobre a trajetória da ex-senadora (8/11/11) Imagem: Leticia Moreira/ Folhapress

AMANDA SERRA

Da Redação

30/11/2011 07h00

Com uma história marcada pelas lutas socioambientais, a ex-candidata à Presidência, Marina Silva, 53, espera que o filme “Marina e o Tempo” (nome provisório) mostre para o público que é possível dar um novo rumo para a vida quando há esperança. “Estou ansiosa", diz Marina em entrevista ao UOL. "A expectativa é boa, a história do Acre é muito interessante. Retrata um grupo de jovens sonhadores que mostram ser possível criar uma nova história e até mesmo trajetórias relevantes para o país”

Marina Silva não queria ter sua vida retratada no cinema e demorou a aceitar o pedido da diretora Sandra Werneck. “Eu resisti muito por causa da minha família e também pela questão política", diz a ex-senadora. "A Sandra ficou no meu pé, na minha mão, na minha orelha, até chegar ao meu coração. Não quero que usem esse filme politicamente, mas sim como um testemunho de fé e determinação."

Segundo Werneck, o gênero biográfico no cinema é difícil por definição. “Biografia é sempre um desafio", diz ela. "Não importa se a pessoa está viva ou morta.”

O filme vai mostrar a trajetória de Marina e as dificuldades que teve, como o fato de ter aprendido a ler e escrever apenas aos 16 anos, o trabalho na extração de borracha, como empregada doméstica, a luta ambiental. Além de sua constante “briga” para sobreviver, já que enfrentou tratamentos fortes para não ter seu organismo deteriorado pelo mercúrio.

“Estava assistindo TV uma noite e vi uma entrevista da Marina falando um pouco sobre sua vida pessoal e me interessei", conta Werneck. "No mesmo dia, comprei a biografia dela e li inteira.O pano de fundo será a trajetória pessoal dela, a luta ambiental e não a carreira política. Quero que o filme seja reconhecido internacionalmente."

Elenco

  • Guilherme Gobbi

    Lucy Ramos caracterizada como a ex-senadora Marina Silva (14/11/11)

Para fazer o papel de Marina Silva está confirmado o nome da atriz Lucy Ramos, que se encontrou com a personagem recentemente. Há outros nomes aguardando confirmação, como Wagner Moura, que faria o seringueiro Chico Mendes. Thiago Fragoso deve interpretar o técnico agrícola Fábio Vaz de Lima, marido de Marina. E Regina Casé pode interpretar a avó da ex-ministra do Meio Ambiente.  "Fiquei muito feliz quando soube da Regina Casé", disse a ex-ministra. "Ela é uma parceira, quando a encontrei pela primeira vez parecia que eu a conhecia há anos."

 

“Mesmo antes de conhecer pessoalmente a Lucy, já havia gostado muito dela. É uma atriz jovem, bonita, talentosa e que teve uma trajetória humilde, ou seja, muito do que eu vivi, ela também deve ter presenciado. Já tem um quê de identidade. Assisti ao teste dela e vi que ela pegou uns cacoetes meus, que eu imaginei que só eu sabia que existiam [risos]. Minha filha viu e disse: ‘nossa mãe, ela fica mexendo a caneta igual a você. ’”, conta Marina.

Marina nos cinemas

Lucy Ramos, que recentemente interpretou Maria Cesária na novela “Cordel Encantado”, da Globo, está ansiosa para viver seu primeiro papel como protagonista. “Vou viver a Marina de janeiro a junho e quero que a vejam na tela e esqueçam-se da atriz", diz Ramos. "Pretendo passar uns dias no Acre, tentar fazer o que ela fez. Não sou uma pessoa ligada em política, mas agora vou atrás para entender tudo relacionado à luta da Marina”.

Werneck pretende conduzir os atores com laboratórios de interpretação: “A Lucy vai iniciar uma pesquisa sobre a trajetória da Marina e também fará umas aulas com a atriz Camila Amado. Eu gosto de acompanhar os atores, mas no set de filmagem costumo deixa-los livres”.

Contato com a Marina

  • Divulgação

    Primeiro encontro entre Marina Silva e Lucy Ramos, que irá interpretar a ex-candidata à Presidência, no cinema (24/11/11)

Lucy Ramos e Marina Silva se encontraram a primeira vez no fim de novembro. “Eu achava que ia conhecê-la ano que vem, quando começam as filmagens", diz a atriz. "Mas o destino nos juntou antes do esperado. Fui mestre de cerimônia do ‘Prêmio Personalidade Acreana’, no qual a ela foi homenageada. Disseram que quando a encontrasse eu ia sentir uma coisa boa, uma energia positiva. De fato, fiquei muito emocionada, ela tem algo diferente, é iluminada, é simples. Posso dizer que tenho muito orgulho de poder representar a Marina Silva no cinema.”

Participação
Sempre com o cuidado de não invadir o espaço alheio, Marina diz que quer acompanhar a filmagem, prevista para abril de 2012, se a diretora achar pertinente. “Estou disposta a acompanhar as gravações, se a Sandra achar que posso contribuir em algo e se a minha agenda ajudar”, diz ela. A ex-ministra já está colaborando com a produção do roteiro, que deve ter sua segunda versão pronta no fim de 2011.

A arte é algo que deve falar com todos seja para agradar, desagradar ou ser indiferente, mas tudo isso dentro da apreciação artística, sem se deixar contaminar pelas nossas escolhas políticas. Arte é arte e é assim que quero, acredita Marina Silva

“Tenho falado com a Sandra e pedi para ela conversar com outras pessoas para mergulhar no mundo ruralista, ambiental... Entender a linguagem, os tempos, as formas de comunicação, os ditos e não ditos do universo dos seringueiros. Isso requer uma carpintaria artística árdua. O sentimento que rodeia a floresta é muito sútil. Sentimos muitas coisas dentro da floresta as quais não somos capazes de explicar.”

Sandra gosta da aproximação da ambientalista com a equipe -- “Eu procuro manter uma parceria com a Marina, afinal de contas ela pode contribuir muito. Boa parte das filmagens vai ocorrer no Seringal do Bagaço, no Acre, onde Marina cresceu”.

Sem dar muitos detalhes, Sandra adianta apenas que o longa “terá muitas histórias engraçadas e peculiares do local. É filme que além de emocionar também vai divertir o público”.