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"Desaparecidos" é empreitada brasileira no gênero de terror à moda "A Bruxa de Blair"; veja origens do gênero

Cena do filme "Desaparecidos", de David Schurmann - Reprodução
Cena do filme "Desaparecidos", de David Schurmann Imagem: Reprodução

MARCUS VINÍCIUS BRASIL

Editor-assistente de UOL Entretenimento

08/12/2011 14h00

Um grupo de jovens documentaristas americanos se embrenha na floresta para rodar um filme sobre lendas sinistras que chegaram a seus ouvidos aventureiros (e inconsequentes). Desaparecimentos, assassinatos ritualísticos... Com pouco equipamento além de câmeras, eles partem em expedição, mas logo se tornam protagonistas de sua própria história de terror, perdidos, caçados pelo que era seu objeto de investigação. Anos depois, as fitas de seus últimos dias de filmagem na mata são resgatadas.

Para fãs de filme de terror, a descrição acima deve lembrar imediatamente as imagens escuras e tremidas de “A Bruxa de Blair” (1999). Mas, 19 anos antes, na Itália, o diretor Ruggero Deodato usava a mesma premissa (e estética) na trama do polêmico “Canibal Holocausto”.

O filme, esquecido pelo grande público, inaugurava o gênero cinematográfico apelidado de “found footage”, ou de “sequências recuperadas”. Na história, são exibidos os registros de uma turma de cineastas que viaja à Amazônia para investigar tribos de indígenas canibais. Os rolos de fita são mais tarde encontrados por uma segunda expedição, emaranhados numa pilha de ossos humanos...

Esse estilo, que tem as franquias “REC” e “Atividade Paranormal” como representantes (além de “A Bruxa de Blair”), ganha agora um exemplar nacional.

Em “Desaparecidos”, de David Schurmann, as cenas resgatadas vêm de um grupo de jovens sumidos na mata de Ilhabela, litoral de São Paulo. O longa estreia nesta sexta (9) com os enquadramentos toscos e suspense intimista inventados por Deodato.

"O filme é no mesmo gênero e linguagem que “A Bruxa de Blair”, mas é completamente diferente. Até eu acho que ele tem muito mais de “Cloverfield” e “Atividade Paranormal” do que de “A Bruxa de Blair”. O que tem de “A Bruxa de Blair” é óbvio: jovens, no meio do mato, perdidos", diz Schurmann

“Canibal Holocausto” chegou a ser banido da Itália, e seu diretor acusado de homicídio (a justiça suspeitava que os atores tivessem mesmo sido assassinados durante as gravações).

Trailer do filme "Desaparecidos"

Apesar de a morte dos protagonistas ser encenada, os animais sacrificados não tiveram a mesma sorte, e o longa permanece uma das produções mais polêmicas e cruéis de todos os tempos. (Quem tiver estômago fraco deve evitar a sequência em que uma dócil tartaruga é estripada.)

Apesar de o crédito pelo pioneirismo pertencer a Deodato, “A Bruxa de Blair” foi responsável por popularizar o gênero e, principalmente, torná-lo lucrativo. Com um orçamento inicial de US$ 25 mil, o filme dos diretores Daniel Myrick e Eduardo Sánchez faturou US$ 250 milhões.

Com o barateamento de câmeras portáteis nos anos 1990 e 2000, além do surgimento de sites de vídeo como o YouTube, os roteiros desses filmes se tornaram ainda mais críveis. Quem afirmava que era irreal uma pessoa manter a câmera ligada na iminência da morte foi obrigado a mudar de ideia depois de ver os vídeos registrados pelas vítimas do tsunami que atingiu o Japão neste ano.

Após “A Bruxa de Blair”, a lista de títulos (com pequeno e grande orçamento) explode e o “found footage” vira senso comum na cultura pop. “REC”, “Cloverfield”, “O Último Exorcismo”... O gênero de horror, maioria absoluta, é uma escolha óbvia: ângulos fechados e claustrofóbicos, respiração pesada capturada pelo microfone, pouca luz. Tudo torna a experiência mais assustadora e imersiva para o espectador.

Mesmo produções como “Cloverfield”, mais inclinadas para a ação, têm seus momentos de suspense, como a sequência da perseguição nos túneis do metrô. Até a ficção espacial virou alvo: em “Apollo 18”, o enredo gira em torno de uma sinistra viagem à Lua.

Entre esses exemplos, a franquia “Atividade Paranormal” se destaca pelo sucesso arrasador nas bilheterias. Seu terceiro episódio, lançado neste ano, se tornou a estreia mais lucrativa da história para um filme de terror, faturando US$ 54 milhões. Para reciclar a fórmula, a Paramount fez de tudo: usou gravações de câmeras de segurança e apelou à estética vintage das fitas caseiras dos anos 1980 no segundo e terceiro filme, respectivamente.

Remakes americanos de produções estrangeiras também se tornaram uma maneira de Hollywood ganhar dinheiro com roteiros para esse tipo de formato. O espanhol “[REC]” (2007), por exemplo, que acompanha uma repórter infeliz cobrindo o trabalho de bombeiros num prédio cheio de zumbis, rendeu “Quarentena” (2008) e “Quarentena 2” (2011) nas mãos dos diretores John Erick Dowle e John Pogue.

O brasileiro “Desaparecidos” também pode entrar nessa onda. Depois de exibir seu filme numa feira em Los Angeles, Schurmann já recebeu propostas de três produtoras americanas interessadas em adaptar o longa. Espere, portanto, assistir em breve aos registros recuperados de turistas estrangeiros gritando por socorro no litoral brasileiro.