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Atriz de "In The Land of Blood and Honey" diz que era dolorosa a sensação após filmagens

Cartaz de "In the Land of Blood and Honey", de Angelina Jolie - Divulgação
Cartaz de "In the Land of Blood and Honey", de Angelina Jolie Imagem: Divulgação

ANA MARIA BAHIANA

18/12/2011 09h20

“Eu não faria este filme de nenhum outro modo a não ser na região onde a história se passa,  e com atores locais”, diz Angelina Jolie, explicando o processo de realização de seu  filme de estreia como diretora, "In the Land of Blood and Honey". O drama de guerra, filmado em duas versões, em bósnio e em inglês, acaba de ser indicado na categoria melhor filme estrangeiro do Globo de Ouro e estreia nos Estados Unidos no dia 23 de dezembro.

“Escrevi o roteiro em inglês, e contei com excelentes tradutores para vertê-lo para o bósnio", Angelina explica. “Nas filmagens, fazíamos uma primeira tomada em inglês, para que eu pudesse compreender e avaliar o trabalho dos atores. Logo a seguir, repetíamos a mesma tomada, em bósnio. Eu trabalhava  na montagem simultâneamente à filmagem, e podia ir acompanhando as duas versões de forma que elas fossem consistentes entre si e com relação ao roteiro.”

Filmado na Hungria porque “o país tem algumas das melhores equipes e equipamentos da Europa”, "Blood and Honey" tem um elenco central de três atores bósnios de Sarajevo – Zana Marjanovic, Goran Kostic e Vanessa Glodjo – e um da Croácia – Rade Serbedzija.

Trailer de "In The Land of Blood and Honey"

Serbedzija,  poeta, diretor teatral , ator internacionalmente consagrado desde o sucesso de "Antes da Chuva" em 1994 e amigo de Angelina, foi o primeiro a ler o roteiro, não para uma possível escalação de elenco, mas como uma espécie de consultor: “Eu queria saber como ele via o texto pelos olhos de alguém da região, alguém que compreendia os personagens de um modo profundo”, diz Jolie. “Eu queria saber se aquela enxurrada de emoções que eu tinha colocado na página eram mesmo um roteiro, um filme, e não apenas uma ilusão minha.”

As mudanças sugeridas por Serbedzija, e seus conselhos para a escolha do elenco foram essenciais para o formato final do filme. “Eu não ia dizer a Angelina o que fazer”, ele diz. “Mas podia abrir para ela as portas de um lugar que, antes da guerra, tinha uma cultura profunda e sofisticada., com uma longa tradição nas artes.”

Serbedzija ficou com o papel do General Nebojsa, líder dos sérvios na área onde o drama se passa no filme. O papel de seu filho Danijel, que passa de patrulhar as ruas de Sarajevo para um posto de comando militar com a eclosão da guerra, ficou com o bósnio Goran Kostic. Como Rade, ele mora em Londres e já trabalhou em "Deuses e Homens e Filhos da Esperança". Também bósnia de Sarajevo, Zana Marjanovic interpreta Ajla, a muçulmana que namora Danijel antes da guerra e o reencontra em circunstâncias terríveis durante a guerra.

Zana e Goran tiveram experiências semelhantes durante as filmagens. "Era um sentimento complexo", diz Zana, que saiu de Sarajevo com a família quando tinha 10 anos. "Por um lado sabíamos que estávamos fazendo algo importante não apenas como respeito a quem tinha passado por tudo aquilo, mas também para, esperamos, fazer com que o mundo reflita sobre o que se passa durante as guerras. Quando o dia terminava e voltávamos para o hotel, era uma sensação muito pesada, muito dolorosa".

"Todo artista acha que, se sua arte não é penosa, não deve ser arte", Goran completa. "Isso me consolava quando o dia de trabalho terminava. Isso e pensar nas pessoas que haviam passado por tudo aquilo de verdade".

Todo o elenco contribuiu com ideias e sugestões para tornar cenas e diálogos mais verídicos. A contribuição de Zana foi, para todos, a lembrança mais alegre das filmagens: uma das primeira sequencias, quando Ajla e Danijel se encontram num clube de Sarajevo ao som da banda Zabranjeno Pušenje.

"Aquilo para mim é a memória que eu tenho de Sarajevo", diz Zana. "É a alegria e a energia de uma cidade que aceitava todas as diferenças de etnia e crença e ainda não havia aprendido a odiar".