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Cameron Crowe gravou CD para convencer Matt Damon a atuar em "Compramos um Zoo"

A atriz Scarllet Johansson e o ator Matt Damon em cena de "Compramos um Zoo" - Divulgação
A atriz Scarllet Johansson e o ator Matt Damon em cena de "Compramos um Zoo" Imagem: Divulgação

ANA MARIA BAHIANA

Especial para o UOL, de Los Angeles

20/12/2011 11h14

“A histórias que amamos dizem algo a respeito de quem nós somos. Esta história, de Benjamin Mee em busca de um lugar que fosse um santuário para sua família e indo parar num zoológico, calou fundo em mim. Eu sempre gostei de histórias que contem um elemento de busca impossível, alguma coisa romântica, sincera e um pouco maluca.” Cameron Crowe está falando de seu primeiro filme em seis anos, "Compramos um Zoo", que estreia dia 23 nos Estados Unidos e na maior parte do mundo.

A história, por mais incrível que possa parecer, é verdadeira. Em 2006, o jornalista britânico Benjamin Mee, colunista do "The Guardian", comprou o Parque Zoológico Dartmoor, na região de Devon, Reino Unido. Mee não tinha nenhuma experiência zoológica --sua especialidade era carpintaria e construção, temas de sua coluna no Guardian–, mas foi atraído pela novidade da experiência. Era principalmente um modo de dar a seus filhos –um garoto adolescente e uma menina de sete anos– um novo começo depois da morte da mãe deles, de câncer, um ano antes.

Quando alguém me diz : 'nem pense em fazer um filme com animais selvagens de verdade', aí mesmo é que eu tenho vontade de fazer

O diretor Cameron Crowe, que fez questão de não usar animais digitais no filme

“Ben aceita o zoológico porque acha que pode salvar os animais, mas na verdade são os animais que vão curar e salvar ele mesmo e sua familia, diz Crowe.

A história da família Mee e seu zoológico já tinha sido contada num livro do próprio Ben e numa minissérie da BBC e do National Geographic, "Ben’s Zoo", quando a 20th Century Fox comprou os direitos e propôs o projeto a Crowe. Depois de algum tempo de hesitação –“eu? Animais selvagens? Não me parecia uma boa combinação”--, o diretor de "Quase Famosos" disse sim. Com uma condição: os animais seriam para valer, e não digitais.

“Quando alguém me diz : 'nem pense em fazer um filme com animais selvagens de verdade', aí mesmo é que eu tenho vontade de fazer, ele diz. “Acredito que devemos nos desafiar constantemente, testar nossa coragem. Para mim as palavras chaves da vida --e que são as últimas do filme-- são: Por que não? 'Por que não' é a pergunta que abre a possibilidade do risco, e eu gosto disso.”

Trailer de "Compramos um Zoo"

Adaptando o livro de Mee juntamente com a roteirista Aline Brosh McKenna ("O Diabo Veste Prada"), Crowe transportou a história do Reino Unido para o sul da Califórnia, próximo à sua cidade natal de San Diego onde, fato, existem vários parques zoológicos. E, depois de considerar Ben Stiller para o papel de Benjamin Mee, decidiu que Matt Damon seria o protagonista ideal.

Para convencê-lo, Crowe usou sua isca favorita: música. Preparou um CD com 17 canções que, segundo ele, “descreviam o personagem muito melhor que qualquer coisa que eu pudesse dizer”. A seleção incluía, entre outras, “Save It for Later”, de Pete Townshend, “Buckets of Rain”, de Bob Dylan, “Child of the Moon”, dos Rolling Stones, “Helpless”, de Neil Young, “I’m Open”, de Eddie Vedder e “Airline to Heaven”, do Wilco.

E deu resultado. Damon disse "sim", solidificando o projeto. Scarlett Johansson, Elle Fanning, Patrick Fugit (de "Quase Famosos") e Angus Macfadyen como os funcionários do zoo, Colin Ford (da série "Supernatural") e Maggie Elizabeth Jones como os filhos do casal, e Thomas Haden Church (de "Sideways- Entre Umas e Outras") como o irmão de Benjamin completaram o elenco. E Crowe continuou usando a música no set --inclusive o “mix tape” de Damon-- para guiar seus atores.

Nós, os humanos, é que tínhamos que nos ajeitar. Mas é o certo? E tornava tudo mais divertido

Matt Damon, sobre a precedência dos animais na hora das filmagens

“Nunca trabalhei com um diretor que fizesse isso, e adorei", diz Damon.  “Todos os atores comentavam sobre como isso facilitava o trabalho. Existe alguma coisa na música que conecta imediatamente como nossas emoções e faz com que você passe por cima da parte racional do seu cérebro. Vai direto para o coração, e isso ajuda muito o trabalho dos atores, especialmente nas cenas mais emotivas.”

Mas os grandes astros foram mesmo os animais –leões, tigres, zebras, ursos, cobras– tratados com toda atenção e carinho  por uma equipe de treinadores e veterinários. “Eles tinham a precedência nas tomadas”, diz Damon. “Cameron explicava aos treinadores sua visão para as cenas, e eles diziam o que era possível fazer sem perturbar ou magoar os animais. Nós, os humanos, é que tínhamos que nos ajeitar. Mas é o certo… E tornava tudo mais divertido, também.”

O que estava em acordo com a visão de Crowe para todo o filme: “Estamos vivendo um período em que a esperança é algo muito raro e muito precioso. Fazer um filme que possa trazer alguma esperança e alguma alegria para as pessoas certamente é um desafio, e certamente vale a pena. E é divertido, também.”

Veja a lista completa de músicas da mixtape de Cameron Crowe para Matt Damon:

1. "Save it for Later" - Pete Townshend
2. "I'm Open" (Live) - Eddie Vedder
3. "War of Man" (Live) - Neil Young
4. "Soul Boy" - The Blue Nile
5. "Mohammed's Radio" - Jackson Browne
6. "Sanganichi" - Shugo Tokumaru
7. "Airline to Heaven" - Wilco
8. "Buckets of Rain" - Bob Dylan
9. "The Heart of the Matter" (Live) - Don Henley
10. "I Will Be There When You Die" - My Morning Jacket
11. "Ain't No Sunshine" - Tom Petty and the Heartbreakers 
12. "Child of the Moon" - Rolling Stones
13. "If I Am a Stranger" - Ryan Adams
14. "Concrete Sky" - Beth Orton
15. "Helpess" (Live) - Neil Young
16. "Don't Be Shy" (no piano) - Cat Stevens
17. "Nerstrand Woods" - Mark Olson and the the Creekdippers