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Animação 3D de Spielberg sobre Tintim "empobrece o cinema" e é "divertimento frágil"

Spielberg posa com condecoração que recebeu na Bélgica, na estreia mundial de "As Aventuras de Tintim" (22/10/11) - AFP
Spielberg posa com condecoração que recebeu na Bélgica, na estreia mundial de "As Aventuras de Tintim" (22/10/11) Imagem: AFP

Sérgio Alpendre

Do UOL, em São Paulo

09/01/2012 17h52

Steven Spielberg volta ao calendário cinematográfico com dois filmes realizados em 2011: "Cavalo de Guerra", que estreou em 6 de janeiro, e "As Aventuras de Tintim", que estreia dia 20.

Apesar de ser uma animação em 3D, não é difícil encontrar paralelos entre esta nova aventura de Tintim e as quatro que o diretor realizou com Indiana Jones (a última delas, "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal", é de 2008). De fato, alguns críticos americanos compararam "Os Caçadores da Arca Perdida" com as histórias de Tintim, e o próprio Spielberg declarou na época que era fã dos quadrinhos criados por Hergé em 1929. Como o personagem interpretado por Harrison Ford, o repórter loirinho é curioso e aventureiro. Interessa-se por documentos históricos e tem uma índole insuspeita.

Spielberg parecia ter superado seu complexo de Peter Pan nos anos 2000, mas agora teve uma recaída. Voltou a um projeto que acalenta desde os anos 1980, uma versão para o cinema de alguma aventura com Tintim, para dirigir esta adaptação de três histórias das famosas aventuras do personagem, lançadas entre 1941 e 1944. Assim realiza seu primeiro filme de animação.

A história é simples: Tintim persegue um segredo escondido em um galeão naufragado. Para isso atravessa o mundo com seus incansáveis companheiros, incluindo o mais fiel de todos, o simpático cachorrinho Milu.

SPIELBERG CONTA COMO CONHECEU TINTIM; ASSISTA

Trata-se de mais uma produção a cair na febre do 3D que tem empobrecido o cinema contemporâneo. Outras adaptações das aventuras de Tintim já haviam sido realizadas desde os anos 1940, algumas em stop motion, outras com atores. Mas esta é a primeira a causar alarde no mundo inteiro. A máquina hollywoodiana amassa e engole a criação belga que encantou jovens e crianças de várias nacionalidades.

Primeiramente, é necessário dizer que "As Aventuras de Tintim" é superior a "Cavalo de Guerra", longa que parece mais um gigantesco biscoito confeitado com belas iguarias, mas totalmente oco por dentro. Podemos reclamar do excesso de clímaxes, com Tintim correndo de um lado para o outro o tempo todo (e a câmera voando, pulando, virando de ponta-cabeça). Ritmo é algo que Spielberg nunca controlou muito bem em seus filmes. Em alguns momentos, o espectador pode se cansar dos óculos 3D e daquela movimentação toda. Pior ainda se for o caso de acompanhar as legendas. O que não dá para deixar de reconhecer é o potencial deste novo longa nas bilheterias.

A música de John Williams, que contribui para o sentimentalismo barato de "Cavalo de Guerra", desta vez é apenas funcional. Quando as cenas são aceleradas, a música também é. Quando as cenas são mais aceleradas ainda, a música acompanha essa velocidade absurda. É uma espiral radical de entretenimento, como num turbinado vídeo game de ação.

O gancho para a continuação é evidente (o final meio em aberto, por sinal, pode frustrar momentaneamente quem estava embarcando na aventura).

"As Aventuras de Tintim" é um divertimento frágil, mas eficaz. Não vai atrair a adesão dos detratores de Spielberg (entre eles o cineasta franco-suiço Jean-Luc Godard), mas também não deve enfurecê-los. Provavelmente vai popularizar o personagem e alavancar as vendas de suas histórias.