Diretor de "Sherlock Holmes" diz que escolheu Robert Downey Jr. para protagonista por ele ser "um gênio com problemas sérios"
Vagamente atrasado, num terno esporte cinza com um lenço de bolinhas azuis no bolso e camisa listrada azul e branca, Guy Ritchie chega a um salão de baile do hotel Beverly Hilton – o mesmo onde os Globos de Ouro são entregues – e imediatamente pede um chá "bem quente com mel e limão". Estamos no início de dezembro e hHá uma semana Ritchie fala sem parar, promovendo "Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras", a segunda aventura do herói criado pelo médico e escritor escocês Sir Conan Doyle, no final do século 19, e reinventado para o cinema do século 21 por Ritchie.
Bem humorado e menos rouco depois do chá, Ritchie falou sobre os problemas do primeiro filme, os desafios do segundo --que estreia no Brasil nesta sexta-feira (13)-- , a escolha de Robert Downey Jr. para o papel e o novo filme de sua ex-mulher, Madonna. Confira a entrevista.
UOL - Por que você voltou a Sherlock Holmes?
Guy Ritchie - Sempre quis fazer uma segunda aventura de Sherlock, é o que Conan Doyle faria. Seu prazer era continuar a narrativa de Holmes e do Dr. Watson com novas histórias. Me tornei grande amigo de Robert e de sua esposa durante as filmagens do primeiro. Não tinha a menor dúvida de que, num nível pessoal, seria ótimo, delicioso mesmo, continuar com o trabalho e fazer um segundo filme. Nossa única dúvida era se o primeiro teria uma bilheteria boa o bastante para que nos deixassem fazer um segundo...
UOL - O que você aprendeu com o primeiro e que o ajudou a pensar no segundo?
Ritchie - Eu aprendi muito. Quando soubemos que o segundo tinha sido aprovado, imediatamente comecei a ver os pontos fortes e fracos do primeiro. Eu sabia que o segundo tinha que representar um desafio ainda maior e, ao mesmo, precisava de uma narrativa mais limpa, clara e fácil do espectador seguir.
UOL - Você poderia ter escolhido um ator britânico para ser Sherlock...
Ritchie - Poderia. Sei que é uma opção arriscada colocar um ator americano como um personagem tão inglês. Ao mesmo tempo é uma decisão que imediatamente expande o personagem e o torna acessível mundialmente, e não apenas limitado a um mundo britânico. E Robert Downey... com risco de provocar e enfurecer muita gente, é o único ator americano que conheço que dominou completamente o sotaque britânico. Além disso, Sherlock é um personagem de extremos, um gênio com problemas sérios. E Robert tem esses mesmos traços.
UOL - Você deu uma atualizada radical no conceito de Sherlock Holmes. Será que o público de hoje só reconhece o personagem por meio da sua visão?
Ritchie - Espero que não. Minha visão, na verdade, é inteiramente calcada na obra de Conan Doyle. Eu me criei com as histórias de Sherlock Holmes --minha educação foi num colégio interno, e os livros de Sherlock eram os que nos davam na hora de dormir. Sherlock, Watson e Moriarty povoaram meus sonhos... de verdade! As histórias eram ousadas e repletas de ação. Eu sempre disse que Conan Doyle teria sido um excelente roteirista. Sempre vi Sherlock e Watson como uma dupla de cinema. Tudo o que faço é realizar plenamente o que Conan Doyle imaginou em seus livros. De outro modo, não faria sentido.
UOL - E como você chegou a Noomi Rapace para incluí-la no elenco?
Ritchie - Eu vi "Os Homens que Não Amavam as Mulheres" [filme sueco de 2009 baseado em livro de Stieg Larsson] enquanto trabalhava no roteiro, e ela me pareceu a resposta para algo que eu queria adicionar --um novo rosto feminino, forte. A personagem da cigana foi escrita com ela em mente.
UOL - Por que maior parte da sua filmografia é sobre crime?
Ritchie - Porque é um terreno fértil para a narrativa, é onde acontece a polarização entre bem e mal, heroi e vilão, e é onde se dá o conflito claro. É o melhor ambiente para o entretenimento. Para mim é como terra firme, um ambiente narrativo que conheço e onde me movimento com facilidade.
UOL - O que você achou de "W.E.", o novo filme de Madonna?
Ritchie - Eu tentei ajudá-la com esse projeto. Ela usou uma boa parte da minha equipe e eu fiz o que pude para assessorá-la nessa parte. Mas não li o roteiro. Imagino que, como uma americana que passou muito tempo na Inglaterra ela acha que tem uma visão especial sobre o tema. Mas não quero supor nada por ela.
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