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Ganhador do Globo de Ouro e favorito ao Oscar, "A Separação" expõe dilema dos divórcios no Irã

Cena do filme iraniano ""A Separação"", de Asghar Farhadi , que estreia no Brasil nesta sexta-feira (20) - Divulgação
Cena do filme iraniano ''A Separação'', de Asghar Farhadi , que estreia no Brasil nesta sexta-feira (20) Imagem: Divulgação

Alessandro Giannini

Do UOL, em São Paulo

19/01/2012 07h00

"A Separação" é a quinta realização do diretor iraniano Asghar Farhadi e a segunda dele a ser premiada no Festival de Berlim. Há três anos, Farhadi foi ao festival alemão com "Procurando Elly", que lhe valeu o Urso de Prata de melhor direção. No ano passado, ganhou o Urso de Ouro pelo novo filme. Esta semana, o diretor esteve em Los Angeles para receber o Globo de Ouro de melhor filme em língua estrangeira e está na lista de nove concorrentes à categoria no Oscar. O filme estreia nesta sexta-feira (20) no Brasil.
 
Farhadi coloca em cheque várias questões morais a partir da história de um casal laico de classe média que decide se separar. Simin (Leila Hatami) conseguiu um visto e tem 40 dias para sair do país, mas seu marido Nader (Peyman Moaadi) não quer abandonar o pai doente e dependente. Entre os dois, há a filha de 11 anos, Termeh (Sarina Farhadi). A mãe não quer se afastar dela, mas a menina prefere ficar com o pai.

 
Esse é apenas o ponto de partida. A jovem mãe contratada para cuidar do pai de Nader enquanto ele e a filha estão fora se vê constrangida diante de questões religiosas. Em uma cena, ela liga para uma espécie de conselheiro para perguntar se lavar um homem senil com incontinência urinária constitui pecado. Mais: ele não sabe que a nova empregada está grávida e tampouco que está trabalhando sem o conhecimento do marido.
 
Logo, um acontecimento trágico vai resultar em acusações recíprocas e colocar as duas famílias em confronto num tribunal. Assim como em seus outros filmes, Farhadi optou por um fim em aberto, no qual cabe ao espectador completar o quebra-cabeças proposto. "O fim de um filme não precisa necessariamente fechar uma história", disse ele, ao comentar o filme durante o Festival de Berlim 2011. "Pode também ser o início de um questionamento. É uma oportunidade de o público levar o filme consigo."


"A Separação" tem uma simbologia muito clara: Nader está ligado ao velho pai senil, enquanto Simin pensa no futuro da filha ainda pequena. "Mas essa simbologia tem um propósito", explicou Farhadi por ocasião do festival alemão. "O pai do marido está senil e tem Alhzeimer, não se comunica direito. Logo, não há conversação entre eles. Enquanto a mãe se comunica com a filha."
 
Sobre a escolha do divórcio como ponto de partida da história, Farhadi disse que é mais comum do que parece. "Pessoalmente, não tenho experiência com divórcio; aliás, minha mulher e minha filha estão aqui", disse ele. "Quando comecei a escrever o filme, fui à corte para ver como acontecia. E o Irã tem uma taxa altíssima de divórcios. E é um país tradicional. Mas o divórcio é um fenômeno moderno. O fato de contrapor uma família religiosa e tradicional e uma família que quer viver sob padrões modernos é para mostrar que essa oposição pode nos trazer problemas no futuro."