Com Leonardo DiCaprio, "J. Edgar" mostra que nada é o que parece na esfera do poder
"J. Edgar" é um romance em todos os sentidos. No literário, por ser uma ficção em torno da vida e obra de um dos personagens mais polêmicos da política americana do inicio do século passado. E no literal, por revelar, ainda que de forma ficcional, a faceta afetiva do homem que criou o FBI (Federal Bureau of Investigation), agência responsável por investigar crimes de âmbito federal nos Estados Unidos.
Sob a direção segura de Clint Eastwood, Leonardo DiCaprio interpreta o personagem-título da juventude até a maturidade. É um dos melhores trabalhos da carreira do ator, a despeito do incrível esforço de maquiagem que permitiu não só a ele, mas a todo o núcleo central de atores, cobrir um arco de mais de 50 anos sem a necessidade de se recorrer a mudanças de elenco.
J. Edgar Hoover construiu reputação de bastião da moral e dos bons costumes americanos ao criar uma agência de investigação baseada em análise de informação e no uso de recursos científicos para examinar pistas. A criação e o estabelecimento do FBI como órgão federal foi uma revolução no combate ao crime organizado nos EUA.
Mas a entronização de Hoover no cargo de diretor e a perpetuação de suas idiossincrasias abriu espaço para todo tipo de excessos. Perseguições infundadas, chantagens veladas, corrupção e toda uma série de vícios foram comprovados após sua morte.
O filme toca em tudo isso tendo como pano de fundo a vida pessoal – ou o que se sabe dela – e as relações afetivas de Hoover. A relação submissa com a mãe dominadora (Judy Dench), a ligação com a leal secretária (Naomi Watts), o caso não declarado com o número dois da agência, Clyde Tolsen (Armie Hammer), nenhum desses fatos passa ao largo do olhar aguçado de Eastwood. Ao contrário, dão sustentação à tese, vista em mais de um filme do cineasta, de que nada é o que parece no mundo em que gravitam os poderosos.
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