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"Augustas", que estreia em Tiradentes, retrata personagens da famosa rua paulistana

Cena do filme "Augustas", de Francisco Cesar Filho - Divulgação
Cena do filme "Augustas", de Francisco Cesar Filho Imagem: Divulgação

Sérgio Alpendre

Do UOL, em Tiradentes (MG)

28/01/2012 08h02

Estreia neste sábado (28/01), último dia da 15ª Mostra de Cinema de Tiradentes, "Augustas", o primeiro longa de ficção de Francisco Cesar Filho, diretor, curador, jornalista e promotor cultural conhecido no meio cinematográfico como Chiquinho.

Baseado em romance de Alex Antunes intitulado "A Estratégia de Lilith", "Augustas" foi definido por Chiquinho como um filme sobre o próprio Antunes, jornalista outsider de São Paulo. Mas ao reler a obra de Antunes, encontrou inúmeros paralelos com sua própria trajetória.

 "A Estratégia de Lilith" relembra uma cena paulistana muito rica do início da década de 1980, quando bandas como Akira S e as Garotas que Erravam, Smack, Fellini e Mercenárias lançavam discos elogiados, e o cinema da maior cidade do Brasil também entrava em um período fértil. Apesar disso, segundo Chiquinho, "não é um livro sobre os anos 80, é um livro sobre um jornalista e músico que entra em crise por não se adequar às novas redações. A cena e os amigos estão presentes. Tem um cara que faz curta-metragem e tem um Gurgel, como eu, mas que se chama Paulinho. Tata Amaral vira Lara, e por aí vai.”

Assista reportagem sobre filmagens de "Augustas"


Francisco Cesar Filho faz um filme que é mais sobre a Rua Augusta do que o livro de Antunes. Ou seja, é o livro de Antunes filtrado por sua visão da cena que viveu nos anos 1980.

 “A Augusta do filme não tem nada a ver com a Augusta das baladas, das drogas, das tribos jovens urbanas. É uma Augusta de quem mora lá, come e trabalha lá", diz o cineasta. Ao ser questionado sobre as transformações ocorridas na rua mítica, argumenta: "ela vai se modificando, mas os cortiços estão lá até hoje, as prostitutas também".

 

Chiquinho pretendia retratar uma rua descolada de algumas de suas marcas mais evidentes: "tivemos o cuidado de não pegar locações ligadas ao cinema ou às casas noturnas de lá". Dessa forma acredita que muitos que frequentam a rua não irão reconhecê-la na tela. Por outro lado, quem vive ou passa por lá todos os dias certamente se sentirá representado de alguma maneira.

Ao ser perguntado sobre a adaptação, disse: "Sou fiel ao livro. Tive de abrir mão de muitos episódios, pois se fosse filmar tudo que acontece no livro o filme teria umas quatro horas. O que me interessava era o trajeto do personagem diante de uma enorme crise.”

No processo de roteirização, ainda teve que cortar coisas: "Mesmo o roteiro tinha histórias demais. O filme se vale de um certo tempo de maturação do material filmado. Não pude finalizá-lo logo apos a filmagem. 'Augustas' ficou adormecido por mais de três anos. Quando partimos para a montagem final estava muito claro o que era excesso. Jogamos fora pelo menos 1/3 do que foi filmado."

A tensão pela estreia nacional de seu longa é evidente, e passa pela possibilidade de aceitação de dois dos envolvidos com o projeto: "Bortolotto e Antunes são muito malucos, muito outsiders. Tenho medo da maneira como eles vão encarar o filme. Se vão gostar do fluxo. Temo que o que eles mais gostavam no livro eram as dispersões. Mas se eu as mantivesse, não seria bom para o filme."

Saberemos daqui a algumas horas o que todos vão achar de "Augustas", o primeiro longa de ficção de Francisco Cesar Filho.