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Clint Eastwood sugere relação entre vida pública e íntima de J. Edgar Hoover

Leonardo DiCaprio estrela "J. Edgar", novo filme de Clint Eastwood - Divulgação
Leonardo DiCaprio estrela "J. Edgar", novo filme de Clint Eastwood Imagem: Divulgação

Mauricio Stycer

Crítico do UOL

28/01/2012 10h00

Personagem importante na história política norte-americana no século 20, John Edgar Hoover (1895-1972) foi decisivo na criação do FBI em 1935, dirigindo-o até a sua morte. Antes, a partir de 1924, comandou o órgão que precedeu o famoso Bureau, totalizando 48 anos de poder no coração do Estado. Atuou sob a direção de oito presidentes e 18 secretários de Justiça.


Retratado em dezenas de filmes, personagem de uma montanha de livros, Hoover é uma figura controversa, importante no imaginário americano, cujos feitos e defeitos são difíceis de distinguir, dependendo do ponto de vista de quem os descreve.

Um filme sobre Hoover dirigido por Clint Eastwood, nesta altura do campeonato, interessa muito mais pelo que o diretor tem a dizer e sobre como vê o personagem do que pela possibilidade de contar algo de novo ou fazer alguma revelação.

Para o espectador brasileiro, que sabe pouco ou simplesmente ignora Hoover, “J. Edgar” apresenta algumas dificuldades.

Eastwood optou por observar o seu personagem em dois momentos específicos, o início e o fim de sua carreira. E, como indica o título do filme, mostrar não apenas o diretor do FBI, mas também o homem por trás daquele sobrenome.

“J. Edgar” é narrado o tempo todo entre estes dois tempos, a primavera e o outono, digamos assim, do personagem. Na primeira estação, conhecemos o homem obcecado com a ideia de tornar a polícia federal americana mais eficiente, por meio de técnicas científicas, e como desenvolveu o anticomunismo que o levaria a agir até fora da lei.


 


Na segunda estação, Hoover é visto envelhecido, já sem escrúpulo algum, usando os dossiês secretos que colecionou ao longo da carreira para chantagear políticos e figuras públicas. Tem dificuldades em notar que o seu tempo está acabando e acredita firmemente que seu poder é inesgotável.

Apenas três pessoas privam da intimidade de Hoover, na visão que Eastwood expõe em “J. Edgar”. O diretor do FBI é muito ligado à mãe, que o criou e, de certa forma, o moldou. Também é próximo de Helen Gandy, que o rejeitou como namorado e o serviu como secretária por mais de quatro décadas. E, por fim, é apaixonado pelo agente Clyde Tolson, com quem manteve uma discretíssima relação ao longo de anos e anos.

O Hoover de Eastwood é, basicamente, um homem mau. Além de chantagista, é mentiroso, inventa feitos a seu respeito, trata mal os funcionários, trama contra os adversários e é impiedoso com todos que o cercam.

Ao mesmo tempo, expõe os sentimentos íntimos apenas em situações extremas. Veste um vestido da mãe quando ela morre. Beija Tolson na boca depois de levar um soco dele. Deixa nas mãos de Gandy o poder de se livrar de seus arquivos secretos.

Vendo apenas “J. Edgar”, sem conhecer nada mais a respeito do personagem, o espectador pode sair com a impressão de que há alguma relação entre a falta de escrúpulos do diretor do FBI e a sua homossexualidade reprimida.