Em Berlim, diretor e atores de "Xingu" defendem filme e a preservação da cultura indígena
Diferentemente da primeira sessão pública de "Xingu" no sábado (11), que quase lotou e teve muitos aplausos no fim, a projeção especial do filme para a imprensa que acompanha o Festival de Berlim nesta quarta (15) não atraiu a atenção dos jornalistas estrangeiros. Mesmo assim, o diretor Cao Hamburger, os atores João Miguel e Caio Blat, e as produtoras Andrea Barata Ribeiro e Bel Berlink demonstraram disposição em falar sobre o filme durante a entrevista coletiva que se seguiu para uma platéia formada quase toda por brasileiros.
É a segunda vez de Hamburger no festival alemão. Ele esteve aqui em 2007, com "O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias". Blat veio no ano passado, para defender "Bróder". E Miguel está participando do evento pela primeira vez, embora tenha atuado em outros filmes que passaram pela Berlinale. "É o lugar certo para o 'Xingu' estar", disse o diretor.
Produção da O2 Filmes, de Fernando Meirelles, "Xingu" mostra a aventura dos irmãos Villas-Bôas pelo interior do país. Na década de 1940, Orlando, Cláudio e Leonardo Villas-Bôas (Felipe Camargo, Miguel e Blat, respectivamente) juntaram-se às expedições organizadas pelo governo brasileiro para desbravar uma região inexplorada. Suas vidas foram transformadas pelo contato com tribos indígenas que encontraram pelo caminho e eles acabaram tendo um papel determinante na criação do Parque Nacional do Xingu, em 1961.
Além de resgatar uma parte importante da história do Brasil que foi esquecida ao longo do tempo, "Xingu" também mostra como a paixão de três irmãos por uma cultura desconhecida fez com que se tornassem pais de um projeto de preservação sem precedentes. E como a opção deles de praticamente se "exilarem" no interior do país os aproximou e os afastou como família em momentos diferentes de suas vidas.
Um dos pontos mais delicados do filme diz respeito à participação de Leonardo no projeto e as razões pelas quais ele acabou tendo que abandonar a região do Alto Xingu por ter engravidado uma índia. "Todos os três [irmãos] ficaram apaixonados pela cultura que encontraram", explicou Hamburger. "Daí a ter uma relação amorosa com uma das índias não seria muito difícil. Mas decidimos colocar isso no filme para mostrar também como os inimigos deles usavam qualquer coisa para atingí-los."
Hamburger destacou também a contribuição dos índios que trabalharam no filme - cerca de 200. "Fiquei surpreso com a rapidez com que eles entenderam o jogo da encenação, essa brincadeira da interpretação, e como eles absorveram o processo cinematográfico", disse ele. "Foi uma experiência muito rica."
Foi a família Villas-Bôas que levou a ideia do projeto para a O2 Filmes. Hamburger disse que conseguiu controle criativo da viúva de Orlando e de seu filho depois de convencê-los que não seria produtivo esperar por aprovação dos materiais. "Eles foram compreensivos e nos abriram todos os arquivos, inclusive o escritório de Orlando, que está todo preservado em São Paulo", contou o diretor. "Mas ainda não assistiram ao filme pronto. Só viram o trailer e gostaram muito, ficaram emocionados com a semelhança dos atores."
Sobre a repercussão entre os índios, Miguel, que interpreta Claudio, disse que recebeu um e-mail de índios que conheceram e conviveram com os irmãos, impressionados que ficaram com a interpretação do ator na tela. "Esse é um dos maiores elogios que se pode ter", disse ele. "Ouvir de alguém quen conviveu com o personagem uma coisa dessas."
Barata Ribeiro disse que "Xingu" está atraindo o interesse dos compradores estrangeiros no European Film Market (EFM), que se realiza paralelamente ao festival. Mas os contratos ainda não foram fechados. "Estamos trabalhando com uma duistribuidora francesa", explicou ela. "E só vamos ter uma ideia de como foi quando o festival e o mercado terminarem."
TRAILER DE "XINGU"
Hamburger disse que vai continuar no tema da cultura indígena. Ele está trabalhando no roteiro de “Isolados”, como já havia anunciado durante o Amazonas Film Festival. Escrito em parceria com a documentarista Maíra Buehler, o longa de ficção aborda a questão dos grupos indígenas brasileiros que permanecem em isolamento ainda nos dias de hoje. “São tribos inteiras que fogem do contato com os brancos”, disse o diretor. "Quero investigar esse universo.
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