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Meryl Streep brinca que é "dama que passa a ferro" e diz que nos EUA de hoje, Thatcher seria uma liberal

Meryl Streep posa com cartaz de "A Dama de Ferro" (14/11/2011) - Luke MacGregor/Reuters
Meryl Streep posa com cartaz de "A Dama de Ferro" (14/11/2011) Imagem: Luke MacGregor/Reuters

Ana Maria Bahiana

Do UOL, em Los Angeles

18/02/2012 07h00

“Eu não sou a dama de ferro! Eu sou a dama que passa a ferro!” - Meryl Streep, à vontade em jeans, suéter de caxemira, botas e maquiagem mínima, dá uma de suas sonoras gargalhadas. O riso é tamanho que Meryl tem uma crise de soluços e pede um copo de água para se recompor e poder voltar a falar sobre o papel que levou-a a vitórias no Globo de Ouro e nos prêmios BAFTA, e sua 17ª indicação ao Oscar - Margaret Thatcher, primeira ministra da Grã Bretanha de 1979 a 1990.

A DAMA DE HOLLYWOOD

  • Com 17 indicações ao Oscar em seu currículo e um recém-recebido Urso de Ouro honorário, Meryl Streep usa seu talento e o status de uma das maiores atrizes de Hollywood para dar vida à controversa ex-primeira ministra britânica Margaret Thatcher

 


“Posso dizer que tenho quase nada em comum com ela a não ser o fato de ser uma mulher decidida a ocupar seu lugar no mundo. Politicamente, obviamente, estamos em campos opostos. Quando ela foi eleita em 1979, eu e meus amigos estávamos torcendo pelo outro time, e fiquei ao mesmo tempo furiosa com as posturas políticas dela e, secretamente, empolgadíssima porque uma mulher tinha subido a um cargo de enorme poder por conta exclusivamente de seu talento e seu empenho”.

Em “A Dama de Ferro”, Streep interpreta Thatcher da sua ascensão ao poder aos dias de hoje, quando a ex-primeira-ministra - agora Baronesa Thatcher - tem 86 anos e sofre dos estágios iniciais do mal de Alzheimer. “Isso representou sobretudo um desafio físico para mim”, Meryl diz. “Nosso orçamento era muito reduzido e nossos dias de trabalho, por conta disso, eram muito longos. Permanecer na postura e com os movimentos de uma pessoa de idade avançada são muito cansativos, fisicamente. Procurei usar esse cansaço, essa frustração, para ancorar na interpretação. No fim do dia, tudo o que eu queria era um banho quente e uma massagem!”

Ser Thatcher levou Meryl a compreender melhor a mente da mulher que ela ao mesmo tempo admirou e detestou: “A independência, a suplantação de obstáculos, eram o tema de sua vida”. Outras descobertas que surpreenderam Streep foram o amor da primeira-ministra por um bom uísque - “malte único, tomado puro” -, sua devoção ao marido (interpretado magistralmente por Jim Broadbent) e sua paixão pela culinária “Ela nunca teve um cozinheiro. Isso foi espantoso para mim. Desde ‘A Escolha de Sofia’ eu não ponho os pés na minha própria cozinha”.

Descobrir um lado progressista na poderosa e temida primeira ministra também foi outra surpresa para Meryl. “Thatcher apoiava as causas feministas, o direito das mulheres à contracepção e ao aborto, e foi uma das primeiras pessoas numa posição de governo a tomar consciência do aquecimento global. Aqui nos Estados Unidos, hoje, Thatcher seria considerada uma liberal”. Meryl toma outro gole de água e acrescenta: “Veja que tristes tempos vivemos”.