Topo

Filme com Jack Nicholson representa lado B da geração que invadiu Hollywood nos anos 1970

Karen Black e Jack Nicholson em cena de "Cada um Vive como Quer" (1970), de Bob Rafelson - Divulgação
Karen Black e Jack Nicholson em cena de "Cada um Vive como Quer" (1970), de Bob Rafelson Imagem: Divulgação

Sérgio Alpendre

Do UOL, em São Paulo

23/02/2012 20h19

Depois de "Taxi Driver", o Cine Olido resgata outro filme importante do cinema americano: "Cada um Vive como Quer" (1970), segundo longa-metragem de Bob Rafelson, que reestreia nesta sexta-feira (24), em horários especiais na tradicional e simpática sala do centro paulistano.

O cinema jovem que tomou conta dos grandes estúdios americanos no final dos anos 1960 ficou comumente conhecido como Nova Hollywood. Diretores formados em escolas de cinema reverenciavam ao mesmo tempo os clássicos americanos (John Ford, Howard Hawks) e os modernos europeus (Jean-Luc Godard, Bernardo Bertolucci), em filmes violentos e cheios de invenção formal.

O estopim para essa geração foi "Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas" (1967), de Arthur Penn, filme muito influenciado pelo cinema europeu que inspirou os jovens pela ultraviolência de suas cenas e por seu ritmo ágil. "A Primeira Noite de um Homem", ganhador do Oscar de melhor filme de 1967 e dirigido por Mike Nichols, foi outro que abriu as portas de Hollywood para os jovens diretores, cheios de ideias e possibilidades de lucro para os executivos de terno fora de moda. O sucesso inesperado de "Easy Rider - Sem Destino” (1969), de Dennis Hopper, foi a consagração definitiva dessa geração.

Nesse contexto, diretores como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Brian De Palma e outros, revolucionaram os grandes estúdios com suas explosões de invenção e brutalidade. Hollywood havia mudado para sempre.


Outros diretores foram importantes no processo, mas não tiveram seus nomes catapultados ao panteão dessa juventude cinematográfica. Um deles é Bob Rafelson, cujo filme mais elogiado e famoso é justamente "Cada um Vive Como Quer".

Na história, temos Bobby (Jack Nicholson), um ex-músico que não sabe bem o que quer da vida, mas volta à casa onde cresceu para visitar o pai, gravemente doente. Lá ele encontra os irmãos, e uma mulher que vira sua cabeça (interpretada pela bela Susan Anspach). Apenas para aprofundar a falta de sentido que vê em sua vida.

Vale (re)ver o belo filme de Rafelson, exibido agora em cópia nova em 35mm. Existem bons motivos para se apreciar a maneira como o diretor conduz a narrativa e a escolha do elenco. A começar pela atuação de Jack Nicholson, num momento em que ele fazia a transição de um ator de prestígio para se tornar um astro do cinema (transição completa em "Chinatown" e "Um Estranho no Ninho").

Karen Black não teve a mesma sorte, mas vive aqui o que é provavelmente seu melhor papel no cinema. Como namorada espevitada e ingênua de Nicholson, é dela algumas das falas mais engraçadas do filme.

Falsamente ingênua, podemos dizer. Detentora de uma sinceridade à prova de ambientes hostis, ela conquista o espectador com suas tiradas aparentemente simples, mas que revelam uma pessoa atenta e aberta para a vida.

Infelizmente, a carreira de Rafelson não decolou. Ele ainda fez alguns filmes interessantes como "Dia dos Loucos" (1972), "O Destino Bate à sua Porta" (1981), ambos com Jack Nicholson no papel principal, e "As Montanhas da Lua" (1989). Mas nenhum deles chega perto da qualidade de "Cada um Vive Como Quer".