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Críticos e sindicatos deixam mais fáceis as apostas nos vencedores do Oscar

Chico Fireman

Do UOL, em São Paulo

25/02/2012 07h00

O caminho para chegar aos vencedores do Oscar é mais longo e cheio de atalhos do que se imagina. Os critérios utilizados pelos integrantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas nem sempre têm a ver com suas avaliações pessoais sobre os filmes exibidos no ano anterior, mas com a exposição e a celebração que estes longas ganham na mídia especializada.  
 
Ninguém no Oscar é pago para ir ao cinema. A maioria dos membros da Academia, segundo do jornal "The Los Angeles Times", não faz filmes há muito tempo. A média de idade é de 62 anos. Por isso, de uma maneira geral, os acadêmicos precisam de uma ajudinha para escolher seus favoritos. E quem dá essa ajuda? Basicamente, os críticos.
 
Hoje, o número de associações de especialistas em cinema é enorme. Uma para cada grande cidade americana. E cada uma dela tem seus premiados no fim do ano. Mas algumas têm peso maior na corrida do Oscar. O Globo de Ouro, prêmio dos jornalistas estrangeiros em Los Angeles, e o Critics Choice, entregue pelos comentaristas de TV, são os mais influentes.
 
Somados aos pitacos dos críticos, os integrantes da Academia recorrem também aos prêmios dos sindicatos de cada categoria, cujo universo de votantes é semelhante ao do Oscar, e ao BAFTA, a premiação máxima do cinema britânico que, há muito tempo, abre pouco espaço para produções locais em troca de celebrar as estrelas e os filmes de Hollywood. Veja no quadro abaixo os filmes e profissionais que levaram os prêmios desses "termômetros" do Oscar.

 
Sendo assim, não é muito difícil fazer previsões para a noite deste domingo.
 
Melhor filme
O Artista”, longa de Michel Hazanavicius, não chegou à reta final da campanha para o Oscar apenas por suas qualidades. A ajudinha dos críticos foi providencial. O filme ganhou as categorias principais do Globo de Ouro, do Critics Choice e ainda venceu o BAFTA. Para se qualificar mais ainda, teve o apoio da indústria, levando os prêmios dos sindicatos dos produtores e diretores.
 
Isso com uma importante ressalva: trata-se de um filme francês, embora a barreira da língua --os americanos não gostam de ler legendas-- tenha sido superada pela ausência do som, já que o longa que homenageia o início do cinema é mudo. Soma-se então um fato histórico: se vencer, o longa será o primeiro filme silencioso a receber o Oscar desde “Asas”, que levou o prêmio em 1929.
 
A vitória, então, parece óbvia, a menos que a Academia resolva aprontar. E temos exemplos recentes: em 2005, “Crash - No Limite” surpreendeu a todos ao tirar o Oscar de melhor filme de “O Segredo de Brokeback Mountain”, de Ang Lee. Os velhinhos da Academia pareciam 1) ter rejeitado um filme com temática gay; 2) ter se identificado com o retrato de sua cidade, Los Angeles.
 
Neste ano, uma rejeição a “O Artista” parece improvável justamente porque o filme evoca um cinema ingênuo que se perdeu no tempo e na revolução tecnológica. E os membros da Academia devem estar saudosos de filmes assim. No entanto, caso eles ignorem o longa de Hazanavicius, podem escolher “Os Descendentes”, de Alexander Payne. No Globo de Ouro, os dois filmes não se enfrentaram porque existem categorias para comédias e dramas. Cada um ganhou na sua área. Mas é só isso.

  • Montagem/UOL

    Cenas dos filmes "A Invenção de Hugo Cabret", "O Artista" e "Os Descendentes"

 
Existem outras possibilidades, mas todas parecem menores. “A Invenção de Hugo Cabret” tem a assinatura de Martin Scorsese, mas precisaria ter tido um apoio mais maciço dos críticos para superar um certo estigma de filme infanto-juvenil. Só ganhou prêmios técnicos no BAFTA e no Critics Choice e não passou da indicação nos sindicatos de produtores e diretores. Levou o prêmio de direção no Globo de Ouro, mas lá eles gostam de premiar "estrelas".
 
Histórias Cruzadas” é um azarão. Não ganhou nada relevante (apenas o prêmio de elenco do sindicato dos atores),  mas se a Academia resolver taxar “O Artista” como um filme francês, “Os Descendentes” como um filme alternativo e “Hugo” como um filme infantil, o candidato que melhor preenche as qualificações de ser prata da casa, ter um tema adulto e uma história universal e edificante é este aqui.
 
O resto não deve incomodar muito. “A Árvore da Vida”, embora tenha o voto declarado de Madonna, deve ser difícil demais para a Academia. “Meia-Noite em Paris” tem um alcance reduzido. “O Homem que Mudou o Jogo” e “Cavalo de Guerra” não emplacaram nos grandes prêmios e “Tão Forte e Tão Perto” parece estar na lista apenas por causa da campanha de marketing.
 
Direção

  • Montagem/UOL

    Os diretores Alexander Payne, Martin Scorsese, Michel Hazanavicius, Terrence Malick e Woody Allen

Seguindo a linha de pensamento da categoria principal, Michel Hazanavicius tem tudo para receber seu Oscar. Raramente os prêmios de filme e diretor vão para produções distintas. Nos últimos dez anos, isso só aconteceu duas vezes: em 2005, com o já citado “Crash” e em 2002, quando Roman Polanski ganhou no susto por “O Pianista” e “Chicago” levou na categoria principal.
 
Hazanavicius recebeu os prêmios do BAFTA, do Critics Choice e, o mais importante, o do sindicato dos diretores. Seu maior adversário é Martin Scorsese, que ganhou o Globo de Ouro. Como o nome conta um pouco mais nesta categoria, apostar no cineasta veterano não é tão arriscado assim. Seria uma maneira de celebrar “Hugo”, destinado a vencer somente prêmios técnicos. Mas as chances são mais remotas.
 
Alexander Payne, de “Os Descendentes”, é uma terceira opção, mas não tem um currículo de vitória que indique uma surpresa. Woody Allen, favorito para ganhar em roteiro original por “Meia-Noite em Paris” é meio café com leite. Já Terrence Malick, o diretor bissexto, só venceria se houvesse um tsunami de conjunto da obra na Academia. Ele até que ganhou uma boa quantidade de prêmios, mas todos em agremiações menos importantes.
 
Ator

  • Montagem/UOL

    Os atores Jean Dujardin, George Clooney, Brad Pitt, Gary Oldman e Demian Bichir

No começo da corrida ao Oscar, parecia certo que George Clooney levaria seu segundo Oscar por “Os Descendentes”. Além de ser extremamente popular dentro da Academia, ele estava sendo lembrado em prêmios menores e ganhou o Critics Choice e o Globo de Ouro de ator dramático. Seu adversário parecia ser o amigo Brad Pitt, de “O Homem que Mudou o Jogo”, que também foi lembrado por algumas associações de críticos e ainda não tem um Oscar.
 
Mas os ventos da mudança chegaram e, com o crescimento do favoritismo de “O Artista” nos quesitos principais, a interpretação silenciosa de Jean Dujardin começou a crescer. Ele tinha apenas o Globo de Ouro de ator de comédia (geralmente o Oscar privilegia os dramas), mas veio em seguida o prêmio do sindicato e o BAFTA. Agora, ele divide o favoritismo com Clooney, com a vantagem de estar no “filme do ano”.
 
Se não ganhou nem o BAFTA, o prêmio da Academia Britânica, o prestígio de Gary Oldman dificilmente será suficiente para que seu papel em “O Espião que Sabia Demais” leve o Oscar. Mais difícil ainda é uma vitória do mexicano Demián Bichir, por “A Better Life”. Sua indicação, por si só, já foi uma das maiores surpresas da lista do Oscar neste ano.
 
Atriz

  • Montagem/UOL

    As atrizes Meryl Streep, Viola Davis, Michelle Williams, Glenn Close e Rooney Mara

Esta deve ser uma das categorias mais disputadas deste ano. Assim como em melhor ator, há duas favoritas. Como ganhou o prêmio do sindicato, que tem boa parte dos votantes do Oscar, Viola Davis, de “Histórias Cruzadas”, aparentemente é quem tem mais chances. Ela levou também o Critics Choice, mas tem em sua principal rival uma lenda.
 
Meryl Streep foi a vencedora do Globo de Ouro de atriz dramática e ganhou o BAFTA por seu retrato de Margaret Thatcher em “A Dama de Ferro”. Pode ser finalmente a vez da atriz ganhar seu terceiro Oscar (informação importante: o segundo foi há 29 anos) e se livrar do estigma de "hors-concours". O Oscar adora figuras históricas, o que torna essa décima sétima indicação mais atraente do que todas as últimas vezes em que Meryl foi finalista.
 
Michelle Williams, de “Sete Dias com Marilyn”,  levou o Globo de Ouro de comédia, mas isso não deve contar muito por aqui. Glenn Close, uma veterana seis vezes indicada e nunca premiada, poderia ser uma zebra, caso o papel em “Albert Nobbs” tivesse recebido mais reconhecimento. Já Rooney Mara, de “Millenium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres”  certamente vai ficar muito feliz por um dia ter disputado o Oscar.