Elogiado pela crítica americana, Rodrigo Santoro agora leva "Heleno" a Miami; veja trailer inédito
Depois de participar dos festivais de Toronto e Cartagena (Colômbia), ter seu desempenho elogiado pelas revistas norte-americanas “The Hollywood Reporter” e “Variety” e ver o filme que produziu ser comparado ao “Touro Indomável” (1980) de Martin Scorsese, Rodrigo Santoro agora leva seu “Heleno” ao Festival Internacional de Cinema de Miami, onde será exibido no dia 4 de março, poucas semanas antes de sua estreia nos cinemas brasileiros, em 23 de março.
“Heleno”, de José Henrique Fonseca, traz Santoro no papel de Heleno de Freitas, jogador de futebol ídolo do Botafogo nos anos 1940, conhecido por seu grande talento, seu temperamento difícil e sua paixão pelas mulheres.
“As reações têm sido muito positivas, desde Toronto, onde tivemos uma bela resposta do público e boas críticas. Também recebemos um prêmio no Festival de Havana e agora em Cartagena a recepção foi bem calorosa. Esperamos que em Miami também seja. Parece-me que o fato de que o filme conta a história de um jogador de futebol acaba provocando uma forte identificação por partes dos latinos. O que esperamos é que no Brasil, até por se tratar de uma personagem que é parte do patrimônio do futebol brasileiro, o filme também encontre seu público”, disse Santoro em entrevista ao UOL por e-mail, de Cartagena, onde o filme foi exibido nesta segunda-feira (27).
VEJA TRAILER INÉDITO DE "HELENO"
“Heleno” é o segundo longa de José Henrique Fonseca (“O Homem do Ano”), que contou por telefone que tinha Rodrigo Santoro em mente para o papel do protagonista desde que se envolveu no projeto. “Eu já sabia da história do Heleno de Freitas e, quando eu entrei mais na pesquisa, eu só via o Rodrigo ali, não via outro ator. Nós já éramos amigos e eu achei que ele era o perfil certo para esse filme. Brinquei com ele, ‘se você não fizer, eu não faço’. Também o chamei para produzir porque acho que o ator entrar como produtor aumenta o envolvimento, o comprometimento”, diz.
Além do porte físico de galã, Fonseca via em Santoro um caráter completamente oposto ao de Heleno e achava que isso enriqueceria o personagem. “Eu gosto dessa medida, de ter um ator como o Rodrigo, que é equilibrado e doce, totalmente diferente do personagem, que era irascível. Acho sempre interessante trabalhar com as antíteses. Acho que o fato do Rodrigo ter feito o Heleno trouxe complexidade para o personagem, que era o que eu queria”.
O ator diz que, para ele, interpretar uma pessoa real não é nem mais difícil nem mais fácil do que interpretar um personagem fictício, apenas um processo diferente. “Trabalhando com o elemento real, de certa forma você está comprometido com as referências, desde fotografias até a imagem que existe na cabeça das pessoas. Por outro lado, já possui um ponto de partida para a criação da personagem. No caso de uma personagem fictícia, a liberdade é completa. Mas, em compensação é preciso criar esse ponto de partida”, diz.
Fonseca conta que teve muito cuidado ao trabalhar o roteiro para tentar traçar um retrato rigoroso de Heleno, ainda que ficcionalizado. “Procuramos um rigor o tempo todo, para fugir dos causos, das coisas polêmicas e engraçadas que sempre ouvimos falar. Tivemos um cuidado muito grande para tratar o personagem. Tive acesso aos originais da biografia que ainda não tinha sido publicada ["Nunca Houve um Homem Como Heleno" (2006), de Marcos Eduardo Neves], entrevistei pessoas que conheceram ele e ainda estavam vivas, fui atrás dos textos que o Gabriel García Marquez escreveu sobre ele. Deixei muita coisa de fora porque eu não tinha certeza. Algumas coisas foram criadas por mim e pelos roteiristas, porque eu estou fazendo dramaturgia, ficção. Quando eu falo em rigor, é a colocação de um personagem dentro de um universo. Mostrar como a vida depende muito de um toque do destino, como as coisas mudam ou por causa do próprio personagem, ou por algo externo”.
Fonseca insiste que seu filme é sobre um personagem, não sobre futebol, e diz que não se preocupou em fazer uma produção que pudesse atingir os fãs do esporte. “O futebol está ali –tem um jogo que é recorrente na história, o Rodrigo treinou com o Claudio Adão –, mas eu não tive essa preocupação. Quem gosta de futebol, vai se interessar. Talvez não o garotão que vai a jogos, mas o cara que gosta de futebol culturalmente, que já ouviu falar desses jogadores dos anos 1940. Os anos 1940 foram quando o Brasil começou a se apaixonar pelo futebol. O Heleno, ao lado do Leônidas da Silva, foi o ídolo dessa época. Mas eles não tiveram a oportunidade de jogar uma Copa do Mundo, porque os mundiais de 1942 e 1946 não aconteceram por causa da Segunda Guerra”.
Fiel ao período que retrata, Fonseca achou que a fotografia em preto e branco, assinada por Walter Carvalho, era a mais adequada para seu filme. “O preto e branco é a fantasia. A cor é a realidade. Eu queria trazer essa fantasia para o filme, trazer essa irrealidade. E também porque eu vejo filmes desde os 10 anos, o preto e branco está no meu inconsciente. Eu não poderia ter passado sem fazer um filme preto e branco na minha carreira. Quando pintou essa história, eu vi que era o momento”, diz.
“Heleno” é a produção mais independente da carreira de Fonseca e não teve o respaldo de um estúdio até perto da conclusão do projeto. “Esse filme eu fiz por causa do Eike Batista. Ele confiou no filme e entrou com metade do orçamento. Sem ele, o filme não teria acontecido. E foi tudo top de linha, filmamos com os melhores equipamentos e a melhor equipe”, conta.
Depois do lançamento de “Heleno”, Santoro vai se dedicar a promover “O que Esperar Quando Você Está Esperando”, que estrela ao lado de Jennifer Lopez. Fonseca, por outro lado, já está trabalhando na segunda temporada da série “Mandrake”, da HBO, inspirada em um personagem de seu pai, o escritor Rubem Fonseca.
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