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Documentarista norte-americana mostra palafitas de Salvador em festival de artes no Texas

Cena do documentário - Divulgação
Cena do documentário Imagem: Divulgação

Natalia Engler

Do UOL, em São Paulo

12/03/2012 07h00Atualizada em 12/03/2012 15h53

Em 2005, a norte-americana Annie Eastman conheceu o diretor Daniel Junge, que chegara há pouco ao Brasil para filmar o documentário “Mataram Irmã Dorothy” (2008), sobre a religiosa morta no interior do Pará a mando de fazendeiros que se opunham ao seu trabalho social com as comunidades locais. Annie acabou se tornando co-produtora do projeto, mas aquele não era o primeiro documentário em solo brasileiro com que trabalhava.

Há 13 anos, a paixão de Annie pela capoeira fez com que largasse a faculdade nos Estados Unidos e viesse para o Brasil treinar o esporte onde ele se originara. Foi esse impulso que acabaria dando origem ao projeto do documentário “Bay of All Saints”, que terá exibição nesta segunda-feira (12), no festival de artes South by Southwest, em Austin, no Texas.

“Eu consegui um trabalho voluntário com uma ONG chamada GRUCON (Grupo União e Consciência Negra), que atuava em Massaranduba, um bairro pobre em Salvador. Passei 18 meses morando nesta comunidade, dando aulas de inglês para crianças, e fiquei mais e mais interessada no Brasil, sua cultura, seu povo, sua história, a língua portuguesa. Comecei a filmar ‘Bay of All Saints’ no final de 2004, e logo após eu conheci Daniel Junge, um diretor norte americano que estava começando a filmar ‘Mataram Irmã Dorothy’, e ele me chamou pra ajudar com o projeto por causa da minha familiaridade com Brasil e com o português”, contou Annie ao UOL por e-mail, de Austin.

“Bay of All Saints” acompanha três mães solteiras, moradoras de palafitas no bairro de Massaranduba (também conhecido como Alagados), em Salvador, durante uma tentativa de desocupação por parte do governo local. A cineasta acompanhou os personagens até maio de 2011.

Annie já estava morando em Massaranduba quando soube que o órgão de desenvolvimento do Estado da Bahia tinha um projeto para erradicar as palafitas e transferir os moradores para moradias populares. Por intermédio de Norato, um homem que conserta geladeiras no local e é filho de um importante mestre de capoeira, a cineasta conheceu as famílias que entrariam no filme. A intervenção de Norato também garantiu que Annie não tivesse problemas com roubos durante as filmagens.

Annie acredita que a universalidade do tema deve atrair o público americano. “Acho que os temas do filme são universais: a necessidade de um lugar para chamar de lar e a necessidade de uma família. Estas são coisas com que todos temos relação, pobres ou ricos, brasileiros ou de outras nacionalidades. Eu acredito que o público americano tem um apetite crescente por histórias de mulheres e também pelo Brasil”, afirma.

No Brasil, “Bay of All Saints” será exibido com o título de "Da Maré" em São Paulo e no Rio, durante o festival de documentários É Tudo Verdade, que começa no dia 22 de março.

“Bay of All Saints” será exibido no SXSW nesta segunda, às 15h30, no horário local (18h30, no horário de Brasília), e ainda terá mais duas sessões, nos dias 13 e 14 de março.

Brasil no SXSW
Além de “Bay of All Saints”, outro representante brasileiro também participa do festival: o longa de ficção “Trabalhar Cansa”, da dupla paulista Marco Dutra e Juliana Rojas, que teve sua primeira exibição nesta sexta-feira (9). Os diretores não puderam estar presentes na exibição, mas Marco disse ao UOL que um amigo seu que mora nos Estados Unidos esteve na sessão do filme e contou que tudo correu muito bem e que o público local de Austin “adorou o filme e o achou com cara de filme de terror, muito tenso’”.

O festival South by Southwest é realizado entre 9 e 18 de março e ainda conta com shows  e palestras.