Topo

"Estava esperando alguém com problemas diferentes", diz Carey Mulligan sobre "Shame"

Carey Mulligan em cena de "Shame", de Steve McQueen - Divulgação
Carey Mulligan em cena de "Shame", de Steve McQueen Imagem: Divulgação

Cindy Pearlman

Do New York Times, em Chicago

15/03/2012 07h00Atualizada em 15/03/2012 19h58

Nas telas, Carey Mulligan passa a imagem de uma mulher comum, bela e encantadora – mas não da mesma forma que uma estrela de cinema. Ela é a garota que mora ao lado... se você morasse no melhor bairro que já existiu.
 
Fora das telas, a imagem de Mulligan é exatamente a mesma.

 
“Eu adoro quando as pessoas me perguntam como estou lidando com tudo o que tem acontecido comigo”, diz a atriz britânica de 26 anos. “‘Lidar’ é uma palavra interessante. É muito fácil lidar quando você recebe tantos trabalhos ótimos.”

Mulligan recebeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz por “Educação” (2009), está filmando atualmente “O Grande Gatsby” de Baz Luhrmann (com Leonardo DiCaprio como Jay Gatsby, Mulligan como Daisy Buchanan e Tobey Maguire como Nick Carraway), está nos cinemas como o thriller “Drive”, coestrelado por Ryan Gosling, e está promovendo o novo filme de Steve McQueen, “Shame”, que chega aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira (16). Este último trata de um rico nova-iorquino chamado Brandon (Michael Fassbender), que é secretamente viciado em sexo. Mas seus segredos são ameaçados quando sua irmã problemática, Sissy (Mulligan), chega sem aviso para uma estadia prolongada.
 
“É um filme muito duro e honesto sobre pessoas que lidam com vícios e compulsões”, diz Mulligan. A primeira aparição de Sissy deixa claro que o filme não amenizará nada. Ao ouvir ruídos e sem perceber que sua irmã chegou, Brandon abre a porta do chuveiro e encontra Sissy lá, totalmente nua.
 
“Eu não acredito em fazer cenas de nudez a menos que sejam adequadas ao papel. Nesse caso não se trata de parecer perfeita. A garota é altamente problemática.”  O papel a atraiu por ser diferente de tudo o que já tinha feito nas telas.  “Eu não acredito em fazer papéis semelhantes aos que já fiz no passado. Isso me pareceu um novo território. Eu estava aguardando para receber alguém com problemas diferentes.”

 
“É uma história sobre pessoas lutando com a solidão. É uma história humana. Isso importa muito mais para mim do que o tamanho do filme ou se está destinado a ser um grande sucesso de bilheteria. As histórias mais interessantes frequentemente estão em filmes menores como ‘Shame’ ou ‘Drive’. Você vê nesses filmes pessoas que simplesmente sangram. Você penetra na medula delas.”

"Drive"
O drama “Drive”, aclamado pela crítica, apresenta Gosling como um motorista de cenas de ação no cinema conhecido apenas como “Driver” (motorista), que tem um segundo emprego noturno como motorista de carro de fuga para assaltantes. Ele vive uma vida estéril, sem emoção, até conhecer uma mulher (Mulligan) em seu prédio, que está criando um menino pequeno enquanto seu marido está preso. Quando o marido é solto, Driver concorda em ajudá-lo a realizar um último crime, para proteger a mãe e o menino, que estão sendo ameaçados por seus antigos associados.
 
“É um conto de fadas de gângster, surreal, com uma estranha história de amor entre minha personagem e Driver. Você sabe que eles estão condenados, mas mesmo assim torce por eles. O filme também conta com uns gângsteres malucos e Albert Brooks.”
 
“Soa louco, mas foi fascinante.”

Ascenção
A carreira de Mulligan definitivamente está em rápida ascensão nos dois últimos anos, mas ela diz que até o momento isso não teve um grande impacto em sua vida fora das telas.  “Poucas pessoas me abordam. Eu costumo ter uma aparência muito diferente nas ruas do que nos filmes. Eu tenho o que chamam de rosto maleável – eu não tenho um aspecto muito distinto.”
 
“Ocasionalmente os paparazzi tiram fotos minhas quando estou em Nova York ou Londres. É claro, se você estiver filmando algo nas ruas de Nova York, as pessoas vão te reconhecer.”


Como a vida dela fora das telas é bastante pé no chão, Mulligan acha graça das revistas a procurarem para aparecer em suas capas, em roupas de alta moda.  “Minha vida é muito não convencional. Eu nunca tive nenhum interesse real em moda, mas agora faço muitas sessões de foto para revistas onde estou toda produzida.”
 
“Eu usei brincos milionários em uma sessão de fotos e havia um homem portando arma, sentado lá em um canto. Ele estava lá para proteger os brincos. Eu ficava brincando que iria ao toalete e não voltaria. E por algum motivo ele não achava graça.”
 
“A simples ideia de eu ter tanto dinheiro em mim era desconcertante.”
 
Início
Nascida em Londres, Mulligan experimentou representar pela primeira vez em uma montagem escolar de “Charity, Meu Amor” e seu interesse foi despertado. Quando o ator Julian Fellowes deu uma palestra em sua escola, ela pediu a ele orientação para uma carreira. Ele a apresentou a um assistente de diretor de elenco – cuja empresa, por sorte, estava à procura de uma desconhecida para interpretar Kitty Bennet em “Orgulho e Preconceito” (2005).
 
Mulligan conseguiu o papel e em seguida fez uma interpretação aclamada pela crítica na minissérie “Bleak House” (2005). De lá para cá ela esteve em “Educação” (2009), “Em Busca de Uma Nova Chance” (2009), “Inimigos Públicos” (2009), “Entre Irmãos” (2009), “Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme” (2010) e “Não Me Abandone Jamais” (2010).  Mas o público começou a notá-la quando Mulligan foi indicada ao Oscar pelo pouco visto “Educação”.
 
“Eu estava em Los Angeles assistindo sozinha ao anúncio dos indicados. Quando disseram meu nome, eu fiquei em choque! Então me recordo de uma foto minha aparecendo na tele e de ter pensado, ‘Uau, eu preciso de uma foto melhor. Aquela foto não é muito lisonjeira. Eu a odeio’.”

 
Ela diz que trabalhar com pesos-pesados como Michael Douglas e Susan Sarandon, com quem ela coestrelou em “Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme” e “Em Busca de Uma Nova Chance”, respectivamente, foram seus pontos altos até o momento.  “Você realmente precisa estar à altura. Para mim, como atriz, trata-se de estar preparada a cada minuto, para estar pronta para responder a qualquer coisa que esses profissionais improvisem.”
 
“Também é empolgante porque penso: ‘Este é o sonho. Eu estou atuando com Susan e ela é minha heroína em muitos aspectos’. O que acho empolgante é que os grandes astros são pessoas genuínas. Eles são brilhantes.”

"O Grande Gatsby"
Mas os detalhes práticos da representação ainda a atraem. Ela mergulhou alegremente na pesquisa para “O Grande Gatsby”.  “Nós realizamos uma semana de workshop em Nova York antes das filmagens, para apenas ler o roteiro e mergulharmos na época. Baz nos deu pastas de pesquisa imensas com livros, artigos e até mesmo palestras sobre a economia daquela época. Ele encheu iPods com música daquela era.”
 
“É o papel de uma vida.”
 
Vida pessoal
Quanto a sua vida pessoal, a atriz namorou brevemente com Shia LaBeouf, seu coastro em “Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme”, mas ela prefere não discutir esses assuntos.  “Minha tendência é não falar a respeito, porque não é relevante para meu trabalho. Eu acredito em discutir o trabalho. O restante... eu não gosto de falar a respeito.”
 
“Por que alguém se interessaria?”