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Mostra na Cinemateca comemora centenário de Mazzaropi com filmes em cópias restauradas

Amácio Mazzaropi em cena do filme "O Puritano da Rua Augusta" - Divulgação
Amácio Mazzaropi em cena do filme "O Puritano da Rua Augusta" Imagem: Divulgação

Sérgio Alpendre

Do UOL, em São Paulo

03/04/2012 07h00

Começa nesta terça-feira (3), na Cinemateca Brasileira, em São Paulo (Salas BNDES e Petrobras) um ciclo dedicado ao centenário de um dos grandes comediantes do cinema brasileiro, Amácio Mazzaropi.

Nascido a 9 de abril de 1912, Mazzaropi iniciou a carreira com Sai da Frente, comédia dirigida por Abílio Pereira de Almeida, que dirigiria depois outros filmes com o ator. Desde então tem participado do imaginário popular brasileiro com comédias leves, muitas vezes ingênuas, mas que revelam inteligência e generosidade por trás de suas histórias simples de pessoas simples.

O grosso de sua produção está nos anos 1950, década em que apareceu pela primeira vez, e principalmente nos anos 1960, quando rodou alguns de seus melhores filmes: "Zé do Periquito", "O Lamparina, e o melhor de todos, "O Puritano da Rua Augusta", que abre a mostra da Cinemateca. Todos esses, mais "O Corintiano", passam em cópias restauradas.

O mais emblemático de seus primeiros filmes é sem dúvida "Candinho" (1953), no qual vemos pela primeira vez o famoso caipira. Esse tipo carismático que ele repetiu em diversos personagens, guardadas algumas diferenças, poderia ser chamado de "o Carlitos de Mazzaropi" (no sentido de que o autor ficaria marcado por ele, assim como Chaplin ficara marcado como Carlitos, o vagabundo).

"Jeca Tatu" (1959), de Milton Amaral, é outro de seus filmes mais famosos (e talvez seja o mais bem-sucedido de todos), com o personagem do caipira sendo aperfeiçoado e se tornando maior do que o próprio criador. O caipira cheio de preguiça e malemolência, mas também de simpatia e bom coração.

Após esse filme de enorme sucesso de público, Mazzaropi atingiu a maturidade como persona cinematográfica. Sua presença em cena passa a ser sempre muito consciente da potência que emana de seus personagens. De fato, podemos chamar de auge de sua carreira, do ponto de vista artístico, o período que vai de 1961 a 1965.

Mazzaropi começa a dirigir seus próprios filmes em 1960, mesmo ano em que Jerry Lewis começou a dirigir os dele. Como o astro americano, Mazzaropi não parou de produzir e interpretar para outros diretores, como o talentoso Glauco Mirko Laurelli, em "O Lamparina" (1964), a divertida sátira aos filmes de cangaço populares na época, em "O Vendedor de Linguiça" (1962), e em "Casinha Pequenina" (1963).

"Zé do Periquito" (1961) merece um maior destaque nesse período. Nele vemos uma certa sofisticação da direção, algo que não era tão evidente até então. Segundo o site do Museu Mazzaropi e a "Enciclopédia do Cinema Brasileiro" organizada por Fernão Ramos e Luiz Felipe Miranda, foi o segundo filme dirigido pelo próprio ator, o que parece ser mais acurado. Já segundo a informação da Cinemateca Brasileira, a direção coube a Milton Amaral e Ismar Porto. Seja como for, é um dos que não se deve perder.

"O Puritano da Rua Augusta" (1965), ponto máximo de sua filmografia, explora com o bom humor habitual e o olhar privilegiado do comediante o batido tema do conflito de gerações, tendo nesse caso o rock como pano de fundo. Dirigido pelo próprio Mazzaropi, impressiona pela riqueza da encenação e pela habilidade com que o autor retratou os conflitos dos personagens. É aquela velha história: se você puder ver só um filme da mostra...

Após "O Puritano da Rua Augusta", Mazzaropi ainda realizou bons filmes, encerrando a carreira em 1980 com "O Jeca e a Égua Milagrosa". Alguns desses filmes, como "Betão Ronca Ferro" (1970) ou "Um Caipira em Bariloche" (1973 - o mais recente da mostra), têm defensores entusiasmados. Mas é inevitável a constatação de que seu período áureo havia ficado para trás.

O simplório "O Corintiano", por exemplo, primeiro longa após o auge entre 1961 e 1965, remete aos seus trabalhos da década anterior em mais de um aspecto. É agradável e tal, mas falta alguma coisa, algum ingrediente mágico que não está mais ali. Falta também a sofisticação dos longas anteriores feitos na década de 1960. Claro está que tal opinião está longe de ser unânime.

Nos últimos anos, duas homenagens ao velho caipira apareceram nas telas brasileiras. Primeiro de forma mais direta, com "Tapete Vermelho", de Luis Alberto Pereira, no qual Matheus Nachtergaele vira o mundo porque quer ver uma película de Mazzaropi. No ano passado, uma homenagem singela surgiu pela direção de Selton Mello, com "O Palhaço". São mostras de que o Jeca ainda está "vivinho da silva" no panteão do cinema brasileiro.


CENTENÁRIO DE MAZZAROPI
Quando:
3 a 15 de abril
Onde: Cinemateca Brasileira (lgo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Mariana, tel 0/xx/11/3512-6111 - ramal 215)
Quanto: R$ 8
Programação completa no site da Cinemateca