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Ator português "sofre" com calor e treina "sotaque brasileiro" em filmagens no Rio

Em sentido anti-horário: Joaquim de Almeira (de pé), Pietro Mário, José Wilker (de costas), Zeca Cenociz, o diretor Marcos Jorge e Munir Kanaan durante gravação de "As Fantásticas Aventuras de um Capitão" (12/4/2012) - Davi de Almeida/Divulgação
Em sentido anti-horário: Joaquim de Almeira (de pé), Pietro Mário, José Wilker (de costas), Zeca Cenociz, o diretor Marcos Jorge e Munir Kanaan durante gravação de "As Fantásticas Aventuras de um Capitão" (12/4/2012) Imagem: Davi de Almeida/Divulgação

Renato Damião

Do UOL, no Rio

13/04/2012 15h46

O longa-metragem “As Fantásticas Aventuras de um Capitão”, baseado no livro “Os Velhos Marinheiros”, de Jorge Amado, está sendo gravado há três semanas em locações no Rio de Janeiro, e o pesado figurino usado nas filmagens tem causado incômodo - pelo menos no intérprete do protagonista da história, o ator português Joaquim de Almeida, que mora há 36 anos nos Estados Unidos e já participou de dezenas de produções americanas e europeias.

“O próximo filme que eu fizer no Brasil vou perguntar se as filmagens não podem ser no inverno”, brincou o português, que já gravou no país “O Xângo de Baker Street”, baseado na obra de Jô Soares, e "Vermelho Brasil".
 
Joaquim conversou com o UOL com exclusividade, no intervalo das filmagens realizadas nesta quinta-feira (12), em um colégio de freiras desativado no bairro do Alto da Boa Vista, zona norte do Rio de Janeiro. No set foi montado o Bar de Periperi, onde os personagens vividos por Joaquim e por José Wilker disputam uma partida de pôquer. Além da dupla de atores, Munir Kanaan, Duda Ribeiro, Zeca Cenovictz e Pietro Mário participaram das gravações no dia.
 
No filme dirigido por Marcos Jorge, do premiado “Estômago”, Joaquim é o capitão Vasco Moscoso de Aragão, que vive de contar histórias mirabolantes. Ao chegar na fictícia cidade de Periperi, Vasco vai precisar encarar as desconfianças de Chico Pacheco, vivido por José Wilker, que não acredita nas histórias dele.  “O Chico até o momento em que o Vasco chega é o principal contador de histórias da cidade, era ele o cara que levava as novidades para cidade. Quando o Vasco chega, os acontecimentos que o Chico narra ficam menos interessantes e ele resolve investigar para saber se tudo é real”, revelou Wilker.

“Esse filme me fez lembrar de quando eu era criança e brincava de criar personagens sem saber ainda que um dia eu seria ator”, relembrou Joaquim que dá vida ao capitão da juventude à vida adulta. Outra dificuldade do personagem, para ele, é o sotaque do português falado no Brasil. “Tive aula com uma preparadora durante três semanas”, disse.

Joaquim não é o único integrante estrangeiro do set. A produção de efeitos especiais ficou nas mãos do espanhol Juan Tomicic e a maquiagem nas da argentina Lucila Robirosa, a mesma de “O Segredo dos seus Olhos”, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010.

  • Davi de Almeida/Divulgação

    José Wilker e Zeca Cenovicz em cena de "As Fantásticas Aventuras de um Capitão"

“Se o Brasil tivesse US$ 150 milhões para fazer um filme tenho certeza que faria melhor que os americanos”, diz Juan Tomicic, produtor de efeitos especiais

Para dar maior veracidade às historias narradas por Vasco, a produção de “As Fantásticas Aventuras de um Capitão” conta com o especialista em efeitos especiais Juan Tomicic. O espanhol tem no currículo filmes como “Sem Notícias de Deus” e “Estado de Sítio”, além de oito prêmios Goya, considerado o Oscar espanhol. No Brasil, ele trabalhou no longa “31 Minutos”, com previsão de estreia para agosto de 2012.

“Vivi e trabalhei minha vida toda na Europa, mas tenho pensado em trabalhar mais na América Latina. Tenho visto coisas boas sendo feitas, mas ainda não temos a mão de obra necessária. Gostaria que os efeitos fossem feitos aqui e não fora do país”, comentou o produtor, que trabalha com computação gráfica e cromaqui.

“O mais difícil nesse filme são as passagens de um plano para o outro e o passado do capitão que aparece nas cenas”, disse Juan, explicando que conforme o capitão Vasco vai narrando suas aventuras, os personagens que estão ouvindo também presenciam as ações da historia.

Para Juan, não há diferença entre uma produção brasileira e uma européia a não ser pelo orçamento. “ ‘As Aventuras de Tintin' custou US$ 150 milhões, se o Brasil tivesse esse dinheiro para fazer um filme tenho certeza que faria melhor que os americanos”, opinou o produtor de efeitos especiais.

Para ele os bons efeitos especiais são os que não são notados. “Não gosto que o efeito seja um espetáculo por si só”, disse Juan. A idéia é reforçada por Marcos Jorge. “Os efeitos não são complicadíssimos, eles vêm pra me ajudar a contar a historia”, explicou.

“Pauto minha carreira por filmes inteligentes e populares”, diz Marcos Jorge

“As Fantásticas Aventuras de um Capitão” é o terceiro longa-metragem de Marcos Jorge que conquistou crítica e público com “Estômago”. Marcos foi convidado pela produtora Total Filmes para dirigir o filme e acabou também escrevendo o projeto. O roteiro começou a ser feito em 2010, mas o projeto já existe na Warner Bros há mais de dez anos, de acordo com a produtora Walkíria Barborsa.

“Eu li vários livros do Jorge Amado na minha infância e adolescência, e havia lido ‘Os Velhos Marinheiros’, mas resolvi reler o livro para saber se era interessante, e relendo tive um déjà vu. Me imaginei de novo lendo aquele livro quando era garoto e foi muito legal ter esse momento de voltar a extrema juventude. Imaginei o prazer que o público brasileiro vai ter ao ver essa historia na tela“, opinou Marcos que pela primeira vez trabalhou com uma adaptação literária para o cinema.

A complexidade da obra literária foi simplificada pelas mãos do diretor e roteirista que preferiu priorizar a relação entre Vasco e Chico. “Um dos meus cuidados em relação a esse romance foi em ser muito fiel ao que o Jorge Amado escreveu e desenhou na sua cabeça, por vários motivos. Primeiro por que é muito bom o que ele escreveu, segundo por que ele mesmo, o Jorge Amado, era muito ligado a esse romance”, disse Marcos que visitou a Fundação Casa de Jorge Amado, na Bahia, antes de começar a escrever o roteiro.

“Em alguns momentos, no processo de escrever o roteiro, eu sentia a minha parceria com o Jorge Amado. Através do livro eu percebia que eu estava escrevendo com ele, transformando junto com ele, dando vida cinematográfica ao que ele havia escrito”, afirmou Marcos que considera a historia universal, e por isso decidiu que a narrativa não deveria se passar na Bahia.

Além do Rio de Janeiro, o longa terá gravações em Tiradentes e São João del Rei, em Minas Gerais. Com lançamento previsto para o final de 2012, “As Fantásticas Aventuras de um Capitão” promete ser um filme para toda a família. “O objetivo do meu trabalho com o cinema é fazer filmes que possam ser inteligentes e ao mesmo tempo populares, que é o que o Jorge Amado fazia”, finalizou Marcos Jorge.