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Diretor de "Festa de Família" volta a Cannes com drama pesado sobre pedofilia

Cena do filme "Jagten" ("The Hunt"), de Thomas Vinterberg - Divulgação
Cena do filme "Jagten" ("The Hunt"), de Thomas Vinterberg Imagem: Divulgação

Thiago Stivaletti

Do UOL, em Cannes

20/05/2012 14h05

Em 1998, o dinamarquês Thomas Vinterberg chacoalhou Cannes e saiu premiado com o polêmico "Festa de Família", primeiro filme do movimento Dogma. Quatorze anos depois, ele volta ao festival com "Jagten" ("A Caça"), um pesado drama sobre pedofilia estrelado por Mads Mikkelsen (o vilão Le Chiffre de "007 – Cassino Royale").

"A Caça" veio provar que não faltam temas pesados na competição do festival neste ano. Depois do banho de sangue no americano "Os Infratores", do exorcismo no romeno "Além das Colinas" e da doença degenerativa no francês "Amour", o filme de Vinterberg retoma um tema bastante batido no cinema nos últimos anos: a pedofilia.

Lucas, um homem divorciado de 40 anos, tenta restabelecer sua vida numa pequena comunidade ao lado do filho adolescente. Em sua rotina, ele costuma encontrar a menina Klara, de cinco anos de idade, que adora brincar com a cachorra dele. Um dia, Klara dá a entender aos pais que Lucas a "tocou". Logo, toda a comunidade o está condenando sem direito a julgamento, e Lucas começa a sofrer todo tipo de violência, física e moral.

Amor, medo e crianças
"Há 13 anos, um psicólogo infantil bateu à minha porta querendo me apresentar um material sobre a fantasia das crianças. Ele falava sobre o conceito de memória reprimida e tinha uma teoria de que o pensamento é como um vírus. Não dei bola para o material e não o li. Dez anos depois, eu precisei de terapia e liguei para ele. Para ser educado, decidi ler o material, e fiquei chocado", declarou o diretor.

"O filme é menos sobre pedofilia e mais sobre como as crianças são objeto de nosso maior amor, e com isso também se tornam o objeto de nossos maiores medos", comentou Mikkelsen.

"A Caça" se ressente bastante do tema desgastado, de algumas sérias inverossimilhanças – por que em nenhum momento Lucas chama um advogado para ajudá-lo, e sim enfrenta tudo sozinho? E força um pouco a barra ao tratar seu protagonista como uma vítima absoluta da sociedade. Mas o terço final é recheado de cenas fortes e carregadas de mistério, o que pode levar o filme a cair no gosto do júri presidido pelo italiano Nani Moretti.