Topo

Michael Haneke volta a Cannes e mostra mulher à beira da morte no duro "Amour"

Cena do filme "Amour" ("Love"), de Michael Haneke - Divulgação
Cena do filme "Amour" ("Love"), de Michael Haneke Imagem: Divulgação

Thiago Stivaletti

Do UOL, em Cannes

20/05/2012 08h17

O que é o amor no cinema? Normalmente, um momento romântico entre um casal bonito e jovem. Na vida real, pode ser a rotina de um casal idoso, em que a mulher sofreu um derrame, e o homem precisa cuidar dela na saúde ou na doença, nos momentos de lucidez ou delírio, ajudando a sair do banheiro ou trocar a fralda.

O austríaco Michael Haneke, diretor de "A Professora de Piano", voltou à competição do Festival de Cannes com "Amour", em que o sentimento perde a aura romântica para receber toda a dureza da vida real. Um filme bem menos ambicioso que "A Fita Branca", que lhe deu a Palma de Ouro em 2009, mas de grande impacto, que foi bem aplaudido ao final da sessão de imprensa.

Além de Isabelle Huppert, em seu terceiro trabalho com o diretor, o filme marca a volta de dois atores franceses veteraníssimos: Emmanuelle Riva, 85, musa do clássico "Hiroshima Mon Amour" (1959), e Jean-Louis Trintignant, 82, de "A Fraternidade é Vermelha" (1994), que não fazia um filme há 14 anos. Enquanto Trintingnant (o marido) sofreu muito nas gravações, Riva e Huppert (mãe e filha no filme) dizem que a filmagem foi tranquila e alegre, apesar do tema difícil. "Nos filmes de Haneke não são os atores que sofrem. São os espectadores", brincou Huppert.

Stress da pomba

"Quando chegamos a uma certa idade, sempre somos confrontados com o sofrimento de alguém que amamos", disse Haneke, que rejeitou a imagem de especialista da violência no cinema, em filmes como "Caché". "Certamente é mais difícil ver meus filmes do que fazê-los. Nunca me pergunto se posso ou não mostrar a violência, ou de que maneira. Apenas tento mostrar a violência, o amor ou qualquer sentimento com a maior força possível", explicou o diretor.

"Claude Chabrol sempre me dizia que os mortos não podem corroer os vivos. Esse filme mostra que os vivos não podem corroer os mortos", disse Huppert. Trintignant, que não gosta de se ver na tela, contou que pela primeira vez na carreira de mais de 100 filmes ficou feliz com o resultado. "Nunca tive um diretor mais exigente. É uma felicidade filmar com ele, mas também muito difícil. Não recomendo a vocês", brincou o ator, segundo o qual até a pomba que aparece numa cena não aguentou e teve um colapso ao filmar com Haneke.