Topo

Para Walter Salles, competir em Cannes é como jogar contra o Barcelona

O cineasta brasileiro Walter Salles durante o Festival de Cannes 2012 (20/5/12) - Ian Langsdon/EFE
O cineasta brasileiro Walter Salles durante o Festival de Cannes 2012 (20/5/12) Imagem: Ian Langsdon/EFE

Thiago Stivaletti

Do UOL, em Cannes

22/05/2012 17h23

O cineasta carioca Walter Salles já está há dois dias no Festival de Cannes, na França, para começar a extensa agenda de divulgação de seu filme "Na Estrada", exibido nesta quarta (23) pela competição à Palma de Ouro. Salles reconhece que a competição é acirrada. "É um pouco como jogar no campo do Barcelona. Do outro lado, você tem 21 Messis contra você", brincou durante entrevista nesta terça-feira (22). Apesar disso, o diretor não demonstra sinais de ansiedade – toda a imprensa francesa já assistiu ao filme, que estreia na França com 350 cópias, e a resposta foi muito positiva. O longa estreia no dia 13 de julho no Brasil.

PROCESSO DIFÍCIL

  • Divulgação

    Ao ser selecionado para o Festival de Cannes 2012, Walter Salles contou que chegou a pensar que "Na Estrada" nunca sairia do papel.

"Esse filme nasce amanhã depois de 18 meses de gestação. É uma honra enorme ser selecionado. Soube que 1.800 filmes foram enviados para os organizadores de Cannes", disse. "Mas o segredo é nunca pensar na premiação. Por exemplo, um dos filmes de que mais gostei no ano passado foi ‘Habemus Papam’, do Nani Moretti, que não saiu premiado."

Na sessão de gala nesta quarta, estarão presentes os atores do filme (Viggo Mortensen, Kristen Stewart, Kirsten Dunst, Sam Riley, Garret Hedlund) e Roman Coppola, filho de Francis Ford Coppola e um dos produtores do filme.

Longa estrada
Inspirado no livro "On the Road", de Jack Kerouac, o filme mostra dois amigos, futuros escritores, que abandonam suas vidas confortáveis em Nova York para cair na estrada em busca de liberdade e novas experiências. "O livro é um amor de juventude que eu nunca esqueci. Quando foi lançado em 1957, dividiu a crítica. O protagonista, Dean Moriarty, não é um personagem confortável para um certo moralismo americano. Por isso esse projeto levou tanto tempo para ser realizado e não conseguiu ser financiado nos EUA, foi bancado por distribuidores europeus independentes", contou o diretor. Há duas semanas, a produção conseguiu um distribuidor nos EUA.

Salles conta que o filme foi fruto do processo físico e emocional mais complicado de sua carreira – a viagem exaustiva totalizou 100 mil quilômetros entre EUA e Canadá. Uma das viagens foi feita da Costa Leste à Oeste americana em três semanas, com uma equipe de apenas seis pessoas, incluindo o ator Garret Hedlund, no Hudson 1949 que também é personagem do filme. "O carro quebrava o tempo todo. Conhecemos todos os mecânicos das estradas por onde passamos", brincou.

Tão jovens
"Na Estrada" lhe impôs um desafio semelhante ao de seu road movie anterior, "Diários de Motocicleta" (2004). "Mostramos esses artistas da geração beat ainda muito jovens, na mesma idade em que retratamos Che Guevara em ‘Diários’. Meu desafio com os atores era fazer com que os personagens não tivessem consciência do que seriam mais tarde", explicou.

Por enquanto, Salles não quer falar muito sobre seu próximo projeto. A única certeza é que irá filmá-lo no Brasil – há muitos anos, o diretor fez a promessa de nunca emendar duas produções internacionais consecutivas. "Acredito plenamente que a força de um cineasta está nas suas raízes", explicou.

Nesta terça à tarde, ele apresentou em Cannes a sessão da cópia restaurada do documentário "Cabra Marcado para Morrer" (1985) no lugar do diretor Eduardo Coutinho, que foi internado no Rio de Janeiro por complicações decorrentes de uma pneumonia.

TRAILER DO FILME "NA ESTRADA"