Topo

Bertolucci quebra jejum de nove anos com drama sobre meios-irmãos exibido em Cannes

O diretor Bernardo Bertolucci na apresentação do filme "Io E Te" no Festival de Cannes 2012 (23/5/12) - AFP Photo/Valery Hache
O diretor Bernardo Bertolucci na apresentação do filme "Io E Te" no Festival de Cannes 2012 (23/5/12) Imagem: AFP Photo/Valery Hache

Thiago Stivaletti

Do UOL, em Cannes

23/05/2012 11h59

Conhecido por grandes filmes como “O Último Tango em Paris” e “O Último Imperador”, o italiano Bernardo Bertolucci, de 72 anos, quebrou um jejum de nove anos sem filmar – seu último longa foi “Os Sonhadores” (2003). O diretor apresentou em Cannes “Io e Te” (Eu e Tu), drama sobre Lorenzo, um adolescente de 14 anos que diz aos pais que vai fazer uma excursão com a turma da escola, mas na verdade se isola num apartamento no mesmo prédio onde mora.

Lorenzo quer apenas se isolar para pensar na vida, criar formigas e ler seus livros preferidos. Mas seu isolamento é interrompido pela chegada de Olivia, sua meia-irmã de 25 anos dependente de drogas. Eles, que nunca tinham convivido, vão construir uma relação entre eles e se ajudar a curar feridas emocionais. Como em “Os Sonhadores”, os dilemas emocionais da juventude são filmados num único cenário – dessa vez de maneira mais simples e menos ambiciosa artisticamente.

Há alguns anos, Bertolucci vive numa cadeira de rodas por conta de problemas na coluna. “Eu estava vivendo num certo torpor, mas agora finalmente acordei e retomei meu trabalho. Estava me sentindo menos fisicamente capaz do que eu era antes. Mas tudo se tornou mais fácil quando comecei a aceitar esta cadeira de rodas como parte da minha vida”, contou.

O diretor pensou em realizar o filme em 3D, mas percebeu que isso traria muitas complicações técnicas. “Gosto de trabalhar de forma rápida e descontraída. Gostaria de sublinhar as emoções do filme com o 3D, mas tudo bem.”

Volta ao italiano

Há 30 anos, Bertolucci não dirigia um filme inteiramente falado em italiano, sua língua natal. “Eu tinha medo de filmar em italiano porque a considero uma língua muito literária. O aspecto mais frágil dos filmes de Antonioni, por exemplo, são os diálogos. Admiro as falas dos filmes americanos, são simples e eficazes”.

Mas, por trás de tanto tempo afastado da Itália, há ainda um descontentamento com a situação política do país e à era Berlusconi. “A Itália vive uma doença constante e perpétua. Mas não posso fazer nada se a maioria dos italianos vota em alguém que eu prefiro esquecer. Isso é a democracia”, desabafou.