Michael Haneke ganha Palma de Ouro com "Amour"; "Na Estrada", de Salles, fica sem prêmios
Apenas três anos depois de vencer a Palma de Ouro com “A Fita Branca”, o austríaco Michael Haneke tornou-se bicampeão do prêmio máximo do Festival de Cannes com o filme francês “Amour”, sobre um homem idoso que precisa cuidar da esposa depois que ela sobre um derrame. Mais conhecido por filmes como “Funny Games” e “A Professora de Piano”, Haneke entrou num seleto clube de duplos vencedores da Palma que inclui o sérvio Emir Kusturica e os belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne.
O presidente do júri, o italiano Nani Moretti, anunciou o prêmio fazendo uma menção especial aos dois atores principais do filme, os franceses Jean-Louis Trintignant (“A Fraternidade é Vermelha”) e Emmanuelle Riva (“Hiroshima Meu Amor”). Depois da cerimônia, ele deu a entender que só não premiou os atores porque o regulamento proíbe outros prêmios ao filme vencedor da Palma. “Estou feliz de não estar sozinho aqui para receber este prêmio, mas com meus amigos. Os atores são a essência do meu filme”, disse Haneke ao receber o prêmio.
“Na Estrada”, de Walter Salles, saiu sem nenhum prêmio do festival. O filme recebeu uma acolhida apenas morna da imprensa internacional.
Mexicano polêmico
Sem nenhum forte favorito até o final do festival, Moretti confessou que nenhum dos prêmios foi dado por unanimidade pelos jurados. “Percebi que a maioria dos diretores tinham mais amor ao seu próprio estilo do que a seus personagens”, alfinetou. Já o estilista o Jean-Paul Gaultier, membro do júri, afirmou que o filme de Haneke o fez chorar.
O Grande Prêmio do Júri, segundo lugar na competição, ficou com o italiano “Reality”, de Matteo Garrone, sobre um peixeiro humilde que começa a enlouquecer com o sonho de entrar para o "Big Brother". O ator principal do filme, Aniello Arena, é um presidiário preso há 18 anos na Itália.
O prêmio mais controvertido foi o de melhor diretor para o mexicano Carlos Reygadas por “Post Tenebras Lux”, filme incompreensível que recebeu muitas críticas negativas de toda a imprensa. “Não sei como a imprensa recebeu o filme, mas alguns jurados ficaram tocados pela sua linguagem. Muitas emoções do filme continuaram a crescer dentro de nós”, disse Moretti.
Ao agradecer seu Prêmio do Júri por "The Angel’s Share", o britânico Ken Loach mencionou a crise econômica na Europa. "Mando minha solidariedade a todos aqueles que resistem hoje às medidas de austeridade e cortes na economia", destacou.
Le Chiffre premiado
O prêmio de melhor ator foi para o dinamarquês Mads Mikkelsen, o vilão Le Chiffre de “007 – Cassino Royale”, pelo filme “Jagten” (A Caça), como um homem acusado de pedofilia por sua comunidade. “Obrigado por ter me convidado ao seu universo de amor e medo”, agradeceu ele ao diretor Thomas Vinterberg. As melhores atrizes foram as romenas Cosmina Stratan e Cristina Flutur, de “Dupã Dealuri” (Além das colinas), de Cristian Mungiu.
Segundo Moretti, outros dois filmes dividiram bastante as opiniões do júri: o francês “Holy Motors”, de Léos Carax, e o austríaco “Paradise: Love”, de Ulrich Seidl. Ambos terminaram sem nenhum prêmio.
O prêmio Caméra d’Or, para um filme de diretor estreante, foi para o americano “Beasts of the Southern Wild”, de Behn Zeitlin, que já havia vencido dois prêmios no Festival de Sundance em janeiro. O júri do prêmio foi presidido pelo brasileiro Cacá Diegues.
Palma de Ouro
“Amour”, de Michael Haneke (França)
(com menção aos atores Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva)
Grande Prêmio do Júri
“Reality”, de Matteo Garrone (Itália)
Melhor Atriz
Cosmina Stratan e Cristina Flutur, por “Dupã Dealuri”, de Cristian Mungiu (Romênia)
Melhor Ator
Mads Mikkelsen, por “Jagten” (A Caça), de Thomas Vinterberg (Dinamarca)
Melhor Diretor
Carlos Reygadas, por “Post Tenebras Lux” (México)
Melhor Roteiro
“Dupã Dealuri” (Além das Colinas), de Cristian Mungiu (Romênia)
Prêmio do Júri
“The Angel’s Share”, de Ken Loach (Reino Unido)
Caméra d’Or – melhor filme de diretor estreante
“Beasts of the Southern Wild”, de Behn Zeitlin (EUA)
Melhor curta-metragem
“Silêncio”, de L. Rezan Yesilbas (Turquia)
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