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"Me inspirei em 'O Iluminado'", diz Charlize Theron sobre sua Rainha Má

Charlize Theron como a Rainha Má em cena de "Branca de Neve e o Caçador" - Divulgação
Charlize Theron como a Rainha Má em cena de "Branca de Neve e o Caçador" Imagem: Divulgação

Mariane Morisawa

Do UOL, em Los Angeles e Brighton (Inglaterra)

01/06/2012 07h00

Charlize Theron, 36, procura se afastar o máximo possível das personagens apenas lindas e loiras. Depois de ganhar o Oscar por “Monster - Desejo Assassino”, em 2004, ela enfileirou uma galeria de mulheres desafiadoras, como Josey Aimes (“Terra Fria”) e Mavis Gary (“Jovens Adultos”). Agora, vive a rainha Ravenna, também conhecida como Rainha Má ou Madrasta Má, em “Branca de Neve e o Caçador”, de Rupert Sanders, estreia desta sexta-feira (1). Raptada para ser a noiva de um rei quando tinha 8 anos, ela mais tarde se casa com o pai de Branca de Neve (Kristen Stewart) e aprisiona a garota no castelo, enquanto se alimenta de corações de mocinhas para manter-se jovem. Articulada e brincalhona, a atriz falou ao UOL em duas oportunidades.

CHRIS HEMSWORTH

  • Divulgação

    Ator de "Thor" que interpreta o caçador conta que levou soco de Kristen Stewart nas filmagens de "Branca de Neve".

UOL - É mais divertido ser a rainha má ou a princesa?
Charlize Theron -
Não sei, nunca fiz a princesa!

UOL - Nem brincando, quando era criança?
Theron -
Não, queria ser Daryl Hannah em “Splash”. Queria ser uma sereia.

UOL - Gostou de abraçar seu lado mau?
Theron -
Vi grande potencial, como revolucionar algo que é tão icônico? Depois desses anos interpretando personagens que as pessoas consideram más, percebi que isso não existe. Tanto para mim quanto para Kristen, a ideia era fazer duas mulheres reais, mesmo havendo elementos mágicos.

UOL - Como se preparou para fazer a Rainha Má?
Theron -
Participei de novas versões do roteiro com os escritores. Foi muito legal. Assim encontramos os personagens. Tentamos entender quem ela era, de que precisava, qual eram suas motivações. Estava zapeando na televisão um dia e parei em “O Iluminado”. A performance de Jack Nicholson realmente me inspirou, essa ideia de alguém preso numa espécie de castelo e vagarosamente enlouquecendo.

UOL - Sua personagem é obcecada com sua beleza.
Theron -
Neste filme tentamos mostrar que a beleza é seu poder. A mãe de Branca de Neve, pouco antes de morrer, quando ela tinha 8 anos, reconhece a beleza interior de sua filha e diz para a menina nunca perder aquilo. A mãe de Ravenna, minha personagem, vê sua filha tornar-se à força noiva de um rei e diz que a única maneira de sobreviver é ser poderosa e, para ela, só dá para ser poderosa sendo bela e jovem. Quando Ravenna começa a envelhecer, sofre porque seu poder está indo embora.

UOL - O filme é uma reflexão sobre a beleza e o medo do envelhecimento.
Theron -
Mesmo na sociedade, as mulheres não querem envelhecer não por vaidade necessariamente, mas porque ouvimos que o valor das mulheres está na juventude. Claro que para todos significa enfrentar sua mortalidade. Seu corpo começa a falhar. De repente, você não pode correr quilômetros e fumar um maço de cigarros como quando tinha 21 anos.

UOL - Mas certamente você é muito observada e envelhecer deve piorar as inseguranças...
Theron -
Todo o mundo tem inseguranças. Se alguém disser que não tem, é ridículo. Sou como todo mundo. Tenho de lidar com isso sozinha, é parte da vida.

TRAILER DE "BRANCA DE NEVE E O CAÇADOR"

UOL - Você está linda em cada cena do filme, mas como se sente vendo uma versão mais velha?
Theron -
Quando assisti ao filme, não pensei nisso. Mas, quando eles colocaram a maquiagem prostética em mim pela primeira vez, definitivamente tive um momento de pânico. Porque realmente é meu rosto. Você está sentada lá e dois caras adoráveis, sem nenhuma má intenção, dizem assim: “É, essa parte aqui ia ficar flácida...”. E eu pensei: É assim que vou ficar? Mandei uma foto para minha mãe, ela nem acreditou, disse: “Pare de ir para a balada!”. Daí você tem de se colocar de fora, então quando assisto ao filme realmente acho que é a personagem. Tive de trabalhar muito, porque é difícil passar emoção com a prótese. Você tem de exagerar tudo para realmente fazer os músculos mexerem todo aquele látex! Então, boa sorte, garotas, com o Botox! Para mim, não vai acontecer.

UOL - Muitas atrizes temem não conseguir bons papéis no futuro. Você se preocupa com isso?
Theron -
Você sabe quantos anos eu tenho? Então, próxima pergunta! (risos) É tão difícil responder algo assim, porque me sinto como um bebê. Tive sorte. Foram várias oportunidades incríveis nos meus 30 anos. Me pergunte novamente daqui dez ou vinte anos, talvez eu tenha uma resposta melhor. Nunca me senti tão bem como atriz, sinto que as pessoas querem explorar coisas comigo.

UOL - Você usa figurinos incríveis neste filme. Qual foi o seu preferido?
Theron -
Meu favorito é o do casamento, era peça de museu. Foi a coisa mais dolorosa que usei na minha vida. Não pudemos usar as três primeiras tomadas, Rupert me disse: “Você parece uma mula” (risos). Porque eu ficava arrastando o vestido atrás de mim. Falei que era sorte deles que eu faço exercício, porque o vestido pesava uns 20 quilos e eu tinha de parecer a mulher mais elegante do mundo!

UOL - Quem é a mais bela, você ou Kristen?
Theron -
Eu! (risos)

UOL - Por quê?
Theron -
Porque eu sou a mais linda, só isso (risos). Meus amigos me encheram tanto por causa disso. Nunca vão me dar uma folga. Os amigos da Kristen provavelmente fizeram a mesma coisa.

UOL - Você já disse que muitas vezes acha os papéis para mulheres muito unidimensionais. Se elas são fortes, não podem ser femininas também. Interfere no desenvolvimento do roteiro para que isso não aconteça?
Theron -
Cresci com atrizes como Sigourney Weaver, Frances McDormand, Susan Sarandon, Jessica Lange, Meryl Streep. E muitas vezes minha necessidade de acrescentar camadas às personagens vem de assistir a homens, como Gene Hackman, Dustin Hoffman, Jack Nicholson... Às vezes, acho que faltam algumas dimensões às mulheres do cinema. Também é uma questão de fazer aquilo que você acredita e eu acredito que talvez tenhamos ficado mais complexas. Não é ruim, nos torna mais interessantes.

UOL - Você se tornou mãe. Como é a maternidade?
Theron -
É incrível, é tudo o que você sempre ouviu falar. Me tornei uma daquelas mães que só falam sobre isso... Até ser mãe, você não sabe que seu coração pode carregar tanto peso e tanto amor. Ao mesmo tempo, parece que estava destinado a ser assim. Que eu e esse carinha estávamos destinados a ficar juntos.

UOL - Grita com ele como a rainha Ravenna?
Theron -
Sim, o tempo todo. Acho que ele tem de se acostumar a mim, para não ficar chocado aos 2 anos! (risos)

UOL - Está lendo contos de fada?
Theron -
Não, estou inventando histórias bestas agora, porque ele não sabe a diferença! (risos) Ele olha para mim e me acha o máximo! E eu fico: o teto é verde, olhe meu rosto bonito e agora sou um monstro! Posso falar do meu chá, e ele acha que sou Chris Rock.

UOL - Qual seu próximo projeto?
Theron -
Finalmente, vou fazer “Mad Max” (bate na madeira). Devemos começar em julho. Era para ter feito o filme três anos atrás. Acho um grande mundo para revisitar. George Miller quer fazer algo completamente diferente. A personagem não é parecida com nada que já li. Estou morrendo de medo, mas muito empolgada.