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"Queremos mostrar um Chile 'chileno'", diz diretor do filme vencedor de Sundance 2012

Francisca Gavilán interpreta Violeta Parra, em "Violeta foi para o Céu", do chileno Andrés Wood - Divulgação
Francisca Gavilán interpreta Violeta Parra, em "Violeta foi para o Céu", do chileno Andrés Wood Imagem: Divulgação

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

06/06/2012 07h00

O filme "Violeta Foi para o Céu", do diretor chileno Andrés Wood (“Machuca”, 2004), tinha tudo para fazer sucesso somente em seu país. Isso porque retrata a história de Violeta Parra, a cantora que lutou a vida inteira para manter viva a música folclórica do Chile, além de compor canções contra a injustiça social em seu país. A produção, no entanto, vem chamando a atenção do público e crítica de outros países. Levou o prêmio de melhor filme internacional em Sundance em janeiro deste ano, o grande prêmio do júri do Festival de Miami, além de ter sido escolhido para abrir a disputa do Cine Ceará, em Fortaleza, no dia 1º de junho.

Nesta sexta-feira (8), “Violeta” chega aos cinemas do Rio de Janeiro e São Paulo, e o UOL entrevistou o diretor e a protagonista, Francisca Gavilán, que contaram um pouco mais sobre o caráter universal do filme. “Violeta Foi para o Céu”, baseado nas memórias do filho da cantora, Ángel Parra, concentra-se nos dramas, nas paixões e nas passagens trágicas da vida da artista. A trajetória de Violeta é costurada pelas suas grandes obras na música e nas artes plásticas. Em 1964, ela conseguiu com que suas pinturas e bordados fossem exibidos no Museu do Louvre, em Paris, tornando-se a primeira mulher a expor no local.

Wood levou dez anos buscando a melhor maneira de retratá-la. “Comecei a pensar o que me interessava nela e cheguei à conclusão que era a sua personalidade, unida à genialidade”, afirmou o diretor. “Começamos o filme no seu mundo interior e depois passeamos por sua obra”. 

O diretor acredita que foi justamente a escolha de se voltar para a vida dessa mulher intensa que fez com que o filme superasse as fronteiras chilenas. “As pessoas estão entendendo [o filme] e isso me surpreende positivamente. Ele tem vida própria e se conecta emocionalmente com o público e é isso que me interessa”, afirmou. “Não queremos mostrar um Chile estrangeiro, queremos mostrar um Chile chileno”, disse ele.

Para a atriz Francisca Gavilán, que encarnou Violeta Parra, o fato de as pessoas reconhecerem algumas canções da artista também ajuda nessa conexão. Mercedes Sosa e Milton Nascimento já gravaram “Volver a los 17” e Elis Regina, “Gracias a La Vida”. Francisca, que se preparou durante dez meses para o papel, canta todas as músicas do filme. Por causa do bom desempenho, atriz agora faz apresentações pelo seu país com músicas de Violeta. A atuação também rendeu a Francisca o prêmio de melhor atriz no Festival de Guadalajara, no México.

Ela no entanto admite que só se aprofundou na vida da artista após ser escolhida para o papel. “Em casa, meus pais escutavam Violeta, como muitos chilenos. Quando nasci, nos anos 1970, época em que aconteceu o golpe de estado, ela era muito ouvida. Mas não sabia muito mais que isso, porque os chilenos conhecem muito pouco seus ídolos”, disse ela. Andrés também acredita que o filme tem ajudado os chilenos a reconhecerem a importância de Violeta. No Chile, a produção já foi vista por mais de 400 mil pessoas.

A produtora brasileira BossaNovaFilms também viu que o filme era mais que a história do ícone da cultura chilena e resolveu assumir a coprodução do longa. “Quando lemos ‘Violeta’, entendemos que era um filme universal. O mundo inteiro vai ter interesse em conhecer a história dessa mulher incrível”, disse Denise Gomes, produtora-executiva da BossaNova, que também negocia a estreia da minissérie de três episódios sobre a vida de Violeta, que Andrés gravou paralelamente ao longa, ainda este ano na TV paga.

A parceria entre Andrés e a BossaNova não para em “Violeta”. Agora a empresa brasileira quer que ele dirija uma produção que conecte o Brasil e o Chile, mas que, dessa vez, seja majoritariamente brasileira.