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"Prometheus" traz um inovador da ficção científica de volta a um terreno familiar

Cena de "Prometheus", de Ridley Scott - Divulgação
Cena de "Prometheus", de Ridley Scott Imagem: Divulgação

Gayden Wren

Do New York Times, em Nova York

15/06/2012 07h00

Com a estreia do novo filme de Ridley Scott, “Prometheus”, os olhos do mundo do cinema estão voltados para ele.


Isso não causa surpresa, porque o britânico de 74 anos é um dos cineastas mais importantes do mundo dos últimos 30 anos. Um novo filme do diretor de “Thelma & Louise” (1991), “Gladiador” (2000) e “Falcão Negro em Perigo” (2001) exige atenção da mesma forma que um filme de Martin Scorsese ou Steven Spielberg.

Mesmo assim, “Prometheus” gerou um nível de empolgação muito além dos dois filmes mais recentes de Scott, “Rede de Mentiras” (2008) e “Robin Hood” (2010). Isso porque, pela primeira vez em 30 anos, Scott está voltando para a ficção científica em “Prometheus”, e ele é o homem que, em “Alien, o Oitavo Passageiro” (1979) e “Blade Runner - O Caçador de Androides” (1982), reinventou o filme de ficção científica de formas que repercutem até hoje.


“Star Wars” (“Guerra nas Estrelas”, 1977) de George Lucas injetou vida nova no gênero ficção científica, e seu sucesso estrondoso assegurou que haveria uma onda de filmes do gênero nos anos seguintes –incluindo, notavelmente, “Alien”  e “Blade Runner”.

Mas “Star Wars” era uma homenagem carinhosa aos seriados dos anos 30, como “Flash Gordon”. Lucas gastou mais dinheiro do que os cineastas dos anos 30 jamais sonhariam e recrutou uma classe muito melhor de atores, mas sua estética era semelhante: “Star Wars” era uma história fácil de acompanhar, em ritmo rápido, com heróis bem definidos, vilões vestidos de preto e poucos nuances cinzentos. Não era “Flash Gordon”, mas os velhos fãs de “Flash Gordon” não tiveram dificuldade para abraçá-lo.

Dois anos depois, entretanto, saiu “Alien”, e os fãs de “Flash Gordon” não sabiam o que pensar. Três anos depois veio “Blade Runner” e isso não ajudou.

Parte do problema, certamente, era que “Alien” era um filme de horror vestido de ficção científica, enquanto “Blade Runner”, apesar de seus androides e carros voadores, era um filme policial. Ambos eram muito mais complexos, do ponto de vista narrativo, do que “Star Wars”, e muito mais assustadores.

Os aspectos mais importantes que Scott trouxe à mesa, entretanto, estavam no roteiro, na direção de arte e na interpretação.

As visões de futuro de “Alien” e “Blade Runner” foram tiradas do mundo dos anos 70 e 80. Não era difícil imaginar como tínhamos chegado daqui até ali e isso tornava o universo moral dos filmes muito mais complicado.

Na superfície, a história de “Alien” era ainda mais simples do que a de “Star Wars”: a tripulação de uma nave traz sem saber para bordo um monstro voraz, e a questão é se conseguirão se livrar do monstro antes que ele os pegue.


Mas à medida que o filme se desenvolve, fica claro que a história por trás da história é ainda mais assustadora: a tripulação do Nostromo foi exposta pela enorme corporação que a emprega. Para a corporação, a criatura alienígena não é uma ameaça, mas uma oportunidade, uma força devastadora que pode ser transformada em arma para fins militares. Como ficou ainda mais claro nos filmes posteriores da série, nos quais Scott não esteve envolvido, o verdadeiro monstro em “Alien” não é o alienígena, mas a corporação.

Scott fez isso de novo em “Blade Runner”, baseado em uma história do prolífico escritor de ficção científica, Philip K. Dick. O policial Rick Deckard (Harrison Ford) é encarregado de caçar um trio de “replicantes”, androides de aparência humana, fugitivos. Mas à medida que ele investiga o caso, Deckard descobre que há muito mais por trás disso do que lhe disseram. Ele percebe que os androides não são monstros –é o governo e a semigovernamental Tyrell Corporation que são os monstros. No final os replicantes são mais humanos que os burocratas sem alma que os caçam.

Não é difícil extrair desses mundos futuristas uma crítica à América corporativa dos anos 80. Pegando algumas ideias de “2001 –Uma Odisseia no Espaço” (1968) de Stanley Kubrick, ambos os filmes descrevem um mundo que é reconhecidamente um produto do nosso, beirando o distópico, mas acima de tudo familiar. Não se trata do exagerado mundo de pesadelo das máquinas de “O Exterminador do Futuro” (1984), mas sim nosso próprio mundo, visto pelo prisma da ficção científica.

Scott consegue isso, em grande parte, por meio da direção de arte. “Alien” e “Blade Runner” descartam igualmente tanto as naves espaciais elegantes quanto os heróis e vilões cartunescos de “Star Wars” e seus antecessores, buscando um tom muito diferente. Essa “ficção científica industrial” busca não o ousadamente original, mas sim algo perturbadoramente familiar. Scott conduz seus atores na mesma direção, buscando um senso de realismo enfadonho, em vez do tipo de glamour presente em grande parte da ficção científica anterior.


Nos anos após “Alien, o Oitavo Passageiro” ter lançado a ficção científica industrial, surgiu um grande número de imitadores. “Outland –Comando Titânio” (1981) de Peter Hyams, por exemplo, prevê uma colônia remota de mineração em Júpiter que lembra o Velho Oeste, mas que é mostrada em detalhes sujos não vistos antes de “Alien”. “O Enigma de Outro Mundo” (1982), “Estranhos Prazeres” (1995), “O Enigma do Horizonte” (1997), “Cidade das Sombras” (1998), “Matrix” (1999) e “Sunshine –Alerta Solar” (2007) têm uma clara dívida para com o estilo de ficção científica industrial de Scott, e o pioneiro do “ciberpunk”, William Gibson, notou as semelhanças entre seu romance inovador “Neuromancer” (1984) e “Blade Runner”.

Mas no geral, o modelo mais elegante de “Star Wars” prevaleceu, provavelmente por não ser apenas mais barato e mais fácil de fazer, mas também por ser mais atraente nas bilheterias: “Alien, o Oitava Passageiro” e “Blade Runner –O Caçador de Androides” são clássicos reconhecidos, mas “Star Wars” arrecadou três vezes mais do que ambos os filmes somados. O retorno de filmes seguindo o modelo “Star Wars”, como “E.T. –O Extraterrestre” (1982), “Independence Day” (1996), “MIB –Homens de Preto” (1997) e os filmes da série “Star Trek” (“Jornada nas Estrelas”) mais que validam a sabedoria financeira da escolha.

Todavia, o poder da visão de Scott não é alterado. Os trailers de “Prometheus” deixam claro que o filme, que ocorre no mesmo universo fictício de “Alien”, marca um retorno à ficção científica industrial por um homem que, mais que qualquer outro, inventou o subgênero.

Os fãs de “Alien” e “Blade Runner” estão compreensivelmente ávidos para ver o que ele criou desta vez.