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"Na Estrada": Garrett Hedlund diz que sempre foi inconformado como seu personagem no filme

Garrett Hedlund em cena de "Na Estrada"  - Divulgação
Garrett Hedlund em cena de "Na Estrada" Imagem: Divulgação

Thiago Stivaletti

Do UOL, de Cannes

23/07/2012 17h55Atualizada em 23/07/2012 18h00

Garrett Hedlund era o que se pode chamar de típico caipira americano. O rapaz de 27 anos, loiro e de olhos azul-turquesa expressivos, cresceu numa fazenda de gado com a família em Minnesota, no Meio-Oeste americano, mas odiava todos os trabalhos na fazenda.

Para escapar para a cidade grande, pensou em ser jogador de beisebol, mas a carreira não foi para frente. Aos 19 anos, foi para Los Angeles e foi aprovado para um pequeno papel no épico “Troia”, estrelado por Brad Pitt – com quem é comparado até hoje. Sete anos depois, outro papel de destaque no remake de “Tron” ao lado de Jeff Bridges, antes de chegar a seu trabalho mais importante até hoje: Dean Moriarty, o amigo aventureiro de Sal Paradise em “Na Estrada”, de Walter Salles, que está em cartaz nos cinemas do Brasil.

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  • Divulgação / Playarte

    Walter Salles afirmou que o objetivo do filme era emprestar visão contemporânea à história sobre o romance escrito no ápice da geração beat de 1960

As filmagens de “Na Estrada” renderam-lhe outro presente: o namoro com a atriz Kirsten Dunst, de “Spiderman” e “Melancolia”, que no novo filme vive sua esposa, Camille. Além disso, o filme também lhe rendeu um novo convite: nos próximos meses, ele será visto ao lado de Justin Timberlake e Carey Mulligan em “Inside Llewyn Davis”, novo filme dos irmãos Coen sobre a cena folk de Nova York.

Confira abaixo uma entrevista com Garrett feita durante a divulgação de “Na Estrada” no último Festival de Cannes, em maio:

UOL - Você fez muita pesquisa para viver Dean Moriarty, alter ego de Neal Cassady, um dos ícones da cultura beat nos anos 60?

Garrett Hedlund - Sim. O Dean me tirou de uma concha introvertida em que eu morava. Há seis anos, quando começamos a preparação para o filme, consegui as fitas com as conversas de Jack Kerouac e ficava ouvindo-as no meu trailer o tempo todo. Para interpretar Dean, você tem que estar bem vivo e fazer as pessoas se impressionarem com a experiência de vida desse homem. Neal Cassidy foi um pai maravilhoso, sua mulher e filhos o amavam muito. Posso dizer que ele é o maior homem que eu nunca conheci.

UOL - Walter disse que um dos motivos que o fez escolhê-lo é que você mantinha um diário da sua viagem da sua cidade até Los Angeles. Você acredita que isso foi decisivo na hora de escolher você para o papel?

Garrett Hedlund - Quando li o livro pela primeira vez eu tinha 17 anos, e a pessoa que ia dirigir o projeto na época era Francis Ford Coppola. Era um sonho distante para mim. Oito anos depois, no outono de 2006, já havia um roteiro circulando, mas meus agentes me disseram que o projeto não estava nem perto de sair.

Na época, eu não conseguia trabalho em Los Angeles, então voltei para Minnesota para ajudar meu pai na fazenda. Assim que cheguei em Fargo, recebi um telefonema de meu agente dizendo que Walter Salles queria me conhecer dali a três dias – e eu nem tinha uma passagem de volta...

O diário falava da felicidade de voltar para casa. Lembro que terminava com uma frase do tipo: “Assim que desliguei o telefone, eu sabia que meu pai estava feliz por me ter em casa de novo.” Mas nunca pensei em lê-lo para Walter, tinha vergonha.


UOL - Kerouac e Cassady fizeram a viagem logo depois da Segunda Guerra. Você acha que seria possível fazer essa mesma viagem hoje, em que os tempos (e a cultura) são outros?

Acho que sim. Esses caras não eram comuns. É como dizia Einstein: os grandes espíritos enfrentam a oposição das mentes medíocres porque não se conformam a estes últimos. Quando eu era mais jovem, fui exatamente esse tipo de pessoa inconformada. Segui meu sonho de ser ator mesmo ouvindo do meu irmão mais velho: “Você quer ser ator?! Você não é um ator! Tom Hanks é um ator!” (risos).

Sempre vai haver um tipo de gente que só consegue viver com aventura. Muitas outras pessoas podem perfeitamente viver com um trabalho das 9h às 5h, mas algumas simplesmente não conseguem suportar. Hoje em dia, de certo modo, é ainda mais fácil: se você quer muito viajar, é só pôr o pé na estrada.

UOL - Como é trabalhar com Walter Salles?

É como se curvar diante de uma estátua. Adoro como ele aprecia a beleza imperfeita das coisas. É assim que ele consegue captar momentos como os de "Central do Brasil", ou a cena em que a menina gira cada vez mais rápido suspensa na corda em "Abril Despedaçado".

A cada momento durante as filmagens, é como se ele dissesse para deixar o ego de lado e dançar junto com ele. Além disso, Walter fez um trabalho maravilhoso dando às personagens femininas uma importância maior do que elas têm no livro.