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João Miguel, de "À Beira do Caminho", diz que quase desistiu do cinema em seu primeiro filme

João Miguel em cena de "À Beira do Caminho" - Divulgação
João Miguel em cena de "À Beira do Caminho" Imagem: Divulgação

Ana Okada

Do UOL, em São Paulo

11/08/2012 07h00

Com um currículo de 22 filmes feitos em nove anos, o ator João Miguel, protagonista de "À Beira do Caminho", que estreou nesta sexta-feira (10), diz que ficou tão envolvido com as filmagens de "Cinema, Aspirinas e Urubus" (2005), primeiro filme em que faz um dos protagonistas, que quase desistiu do cinema. "Lembro que falei no meio das filmagens: 'Cara, esse negócio de cinema não vai dar para mim, não'", conta.

"Eu sonhava que estava filmando. [Na cama], virando para um lado, virando para o outro, pegando o travesseiro, parecia que eu estava filmando. Falei: 'Rapaz, esse negócio não dá para fazer por muito tempo'. Dias depois, ouvi até o barulho da câmera [fora do set]", revela. Mesmo com o choque da primeira experiência, o ator continuou nas telas e ganhou diversos prêmios, muitos deles por "Aspirinas".

João começou a atuar com nove anos. No teatro, ficou conhecido pelo monólogo "O Bispo", sobre o artista Bispo do Rosário, que lhe rendeu o convite para ir para o cinema. Com a experiência que obteve nas telas e na TV, o ator diz que mantém o "espírito de buscador", que aprendeu a cultivar no teatro. "Isso me faz sempre estar perguntando, questionando, procurando caminhos para encontrar o personagem."

O ator define o personagem João, de "À Beira do Caminho", como "um desafio enorme", por ser o mais introspectivo que ele já interpretou. Para compô-lo, ele fez aulas de direção de caminhão e conversou com alguns caminhoneiros. Ele conta que o longa é o que ele "mais chorou na vida", não só pela história em si, mas porque ele perdeu um amigo, Sotigui Kouyathé, durante as filmagens.

"Considerava ele como uma espécie de pai. Tenho pai, mãe, mas acho que a gente pode ter mais de um pai, também. Acho que o filme fala disso, da possibilidade de você criar vínculos familiares que não sejam de sangue. É muito legal como isso aparece no filme sem que seja de uma maneira didática. Para mim, foi muito forte o Sotigui ter ido no momento em que eu faço um personagem que sente a dor da perda, foi extremamente curativo para mim estar trabalhando como ator. Era a possibilidade de passar coisas boas para ele, de transformar a dor da perda em outra coisa."

Miguel viajou de Petrolina a São Paulo com o menino Duda, interpretado por Vinicius Nascimento. Quando os dois se encontraram pela primeira vez no set de filmagens, o ator revela que pregou uma peça no jovem. "A gente já tinha se cruzado, e ele veio cheio de intimidade pro meu lado. Aí já mandei ele fechar a cara logo, como o João, e falei: 'Que ousadia é essa, rapaz? Te conheço?'. E começou nossa brincadeira."

Ele conta que lidar com o Vinicius exigiu cuidados especiais. "Com o Vinicius, não tem como dar mais ou menos [de si], tem que dar tudo. Para mim, foi um grande aprendizado lembrar que a cena é um lugar sagrado. Não dá para dosar. É um espaço, inclusive, que tive para ser generoso, e com uma criança você vê isso. Não tem técnica, propriamente, então é com o coração. Você tem que ser generoso para a cena acontecer e pode, inclusive, ganhar um amigo. Ele é um cara que, mesmo distante, sempre penso nele."

Além de aparecer em "Beira", João Miguel estará nos filmes "A Hora e a Vez de Augusto Matraga", de Vinícius Coimbra; "Era Uma Vez Veronica", de Marcelo Gomes; "Éden", de Bruno Safadi; "O Periscópio", de Kiko Goifmann; e "Bonitinha, mas Ordinária", de Moacyr Góes.

O ator também está escrevendo um roteiro, que pretende dirigir, e diz que gostaria de trabalhar fora do Brasil – principalmente com diretores argentinos. "Tem diretores que admiro muito, como o Pablo Trapero e a Lucrecia Martel. Se um dia acontecer, vai ser muito bom, tem vários que eu adoro como espectador. Mas também penso em continuar fazendo cinema no meu país: esse país tem muita história para contar."

TRAILER DE "À BEIRA DO CAMINHO"