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Sacha Baron Cohen diz que América Latina é fonte de "excelentes ditadores"

O ator Sacha Baron Cohen, vestido como seu novo personagem, "O Ditador" - Keith Bedford/Reuters
O ator Sacha Baron Cohen, vestido como seu novo personagem, "O Ditador" Imagem: Keith Bedford/Reuters

Ana Maria Bahiana

Do UOL, em Los Angeles

22/08/2012 07h00

Vestido dos pés à cabeça como o temido General Aladeen da fictícia república africana de Wadiya, Sacha Baron Cohen também incorpora o personagem na hora de dar entrevistas para promover seu novo filme, “O Ditador”, que estreia no Brasil nesta sexta-feira (24). Cohen/Aladeen observa uma jornalista japonesa num canto da antessala do centro de conferências de um hotel de luxo, reservado para as entrevistas. “Ei, você!”, ele berra, gesticulando para que a moça se aproxime. “Quando você fez a operação para virar mulher? Ficou bem feita, mas eu sempre consigo notar porque faltam os peitos, não é? Venha ao meu quarto depois. Não vai doer muito”.

Os 50 minutos seguintes não foram muito diferentes. Depois de exigir que os jornalistas se levantassem, ficassem em posição de sentido quando ele entrasse oficialmente na sala e que se dirigissem a ele apenas como “Líder Supremo”, o ditador contou a uma repórter filipina que adorava seu povo. “Muito bom para cuidar das crianças, limpar cocô, muito eficiente”. Ele também pediu que outra mulher tirasse as calças. “Para eu poder saber se tive relação sexual com você. Eu esqueço os rostos, mas sempre me lembro do resto”. Ainda ordenou a um repórter francês que tirasse “o queijo da boca, não entendo nada do que você diz.”

Quanto ao Brasil, Cohen/Aladeen exigiu ser “convidado para aquela fabulosa orgia que vocês organizam todos os anos” e elogiou “a América Latina em geral – vocês são uma fonte de excelentes ditadores.”  Mas essas colocações não foram nada se comparadas a outras observações sobre política e cinema. Veja a entrevista.


UOL - Líder Supremo, bem vindo aos Estados Unidos.  O que está achando da visita?
Sacha Baron Cohen/Aladeen - Morte à América! Mas aqui é ótimo para fazer compras. Fui ontem à loja da Prada e comprei três ternos e duas vendedoras. Elas estão lá em cima na minha suíte se recuperando das concussões.

Gosto muito do cinema americano. Especialmente os de ficção científica, como aquele, como se chama mesmo? Ah! “A Lista de Schindler”. É maravilhoso, tão imaginativo, tão fantástico.

Sacha Baron Cohen encarnando o general Aladeen

O senhor acompanha o cinema americano?
Gosto muito do cinema americano. Especialmente os de ficção científica, como aquele, como se chama mesmo? Ah!  “A Lista de Schindler”.  É maravilhoso, tão imaginativo, tão fantástico. Eu e meu amigo Ahmadinejad vimos juntos e rimos muito, tomamos champanhe no final. É claro que sou um astro de cinema em Wadiya, e já estrelei filmes excelentes como “A Decapitação do Soldado Ryan”, “Mensagem-Bomba Para Você” e uma comédia romântica inspirada nas aventuras de Dominic Strauss Kahn intitulada “O Planeta do Estupro”. Meus filmes fizeram mais dinheiro que aquele tal de “Titanic”, que aliás é sobre um navio afundado por Israel em 1912. Não foi um iceberg, foi um Goldberg. É fato.

Será que Scorsese não seria um favorito?
O baixinho? Mandei alguns associados meus fazerem uma visita a esse rapaz as 3 da manhã, eles entraram pela janela, mas tiveram o cuidado de fechar logo depois. Foram muito educados. Não se preocupem, ele ainda está vivo. Eu vi aquele filme dele, o tal de “Hugo”. Longo demais. Ridículo. [Em 2011, Cohen fez uma participação em "A Invenção de Hugo Cabret", em que viveu o guarda estação de trem].

Meu estilista favorito é John Galliano, apesar de suas opiniões liberais.

Sacha Baron Cohen encarnando o general Aladeen

Quais são seus ídolos, as maiores influências no seu trabalho?
O grande Saddam Hussein em primeiro lugar. E Cheney, é claro. Kim Jung-Ill foi uma grande influência para todos nós, ditadores de uma geração mais jovem. Ele contribuiu muito para a disseminação da compaixão, sabedoria e herpes pelo mundo. Ele viveu como morreu: em sapatos de salto de três centímetros de altura. Já o filho dele, Kim Jun-Un… é gordo demais. É que ele gosta demais de rosquinhas, enfia logo umas cinco na boca e fica com aquela cara de quem está prendendo um peido. Ele precisa de um estilista. Todo ditador que se preza tem que ter seu visual. Neste momento ele está entre Elvis Gordo e Elvis no Exército. E ele tem ciúme de mim, porque acabei de ser escolhido como o Ditador Mais Sexy do Ano. Mas não se deve subestimar os norte-coreanos, eles estão bem perto de conseguir construir um navio para vir até aqui. E é claro que temos os clássicos: os alemães, especialmente Hitler! E os do leste europeu, Stalin! Ceausescu! Pena que Stalin roubava no gamão e era um anfitrião tão ruim, sempre servindo vinho de quinta categoria…

TRAILER LEGENDADO DO FILME "O DITADOR"

O senhor disse que todo ditador precisa ter estilo. Qual o seu estilo?
É essencial que um ditador tenha estilo, senão ele se torna alvo de zombaria. Khadafi sabia se vestir, sempre simples, mas com muita classe. Ahamadinejad, coitado, parece sempre um informante do “Miami Vice”. Tem que melhorar muito. Meu estilista favorito é John Galliano, apesar de suas opiniões liberais.

Qual seria o seu plano para a paz mundial?
Paz? Que paz? Paz é uma bobagem. Quem precisa de paz? É feito democracia, que ideia ridícula. Para que criar um congresso, todo mundo fica só falando, jogando tempo fora. Eu faço mais em meu país enquanto mijo do que vocês durante seis meses dessa bobagem de democracia! É ridículo, todo mundo votando, não importa que seja aleijado ou negro ou mulher! Que bagunça!

Qual é a melhor e pior parte de ser um ditador?
A melhor é que todo o povo te ama. A pior é que está ficando cada vez mais difícil ser um ditador. Antigamente bastava assassinar seu pai, era mais elegante, mais rápido. Agora é preciso fraudar eleições, aprisionar metade do país… dá tanto trabalho…

Qual sua opinião sobre Sacha Baron Cohen?
Me parece insignificante. Muito limitado. Para ser honesto, não vejo esses comediantes sionistas.