Para diretor de "Rock of Ages", filme é uma brincadeira com o hard rock dos anos 80
Rock of Ages começou como um musical estilo jukebox – pouca trama, muita música—não na Broadway, mas num clube noturno de Hollywood Boulevard, em Hollywood, em 2005. Era mais show que peça, com a plateia participando em vários momentos, a banda em primeiro plano no palco (com o baterista tocando numa jaula com um cartaz pendurado: Favor Não Alimentar o Baterista).
Como nas sessões cult de Rocky Horror Show, as pessoas iam ver e rever o espetáculo, fantasiadas no melhor estilo glam rock dos anos 1980. Era, em essência, o primeiro grito de nostalgia da geração que tinha sido adolescente quando as hair bands dos anos 80 – Styx, Journey, Whitesnake, Bon Jovi, Guns 'n' Roses, Poison, Twisted Sister-- dominavam a parada de sucessos, a MTV e, especialmente, a cena musical de Los Angeles.
Sucesso na cidade, Rock of Ages migrou rapidamente para a "off Broadway" em 2008 e para a Broadway, onde está até hoje, um ano depois. Na mesma época, a New Line, uma divisão da Warner, opcionou os direitos da peça para o cinema. “Eles me chamaram porque estavam contentes com Hairspray”, diz o diretor e coreógrafo Adam Shankan, que também havia dirigido o musical de 2007 para a New Line. “Há muitos paralelos entre os dois – a memória de uma outra era musical, o elenco misturando estrelas e desconhecidos, cantores e atores. Desde o começo foi esse formato que impus ao material.”
Shankman viveu os 1980 de perto, muito de perto. Formou-se no colégio em1982, viu seu primeiro show no famoso Roxy, no coração da Sunset Strip – o trecho que reúne o maior número por metro quadrado de clubes de rock de Los Angeles – e cresceu a duas quadras dali, trabalhando como estagiário no escritório do pai, empresário de várias bandas e cantores. “Este filme para mim é meio “querido diário”, ele diz, rindo. “Foi um período muito divertido e muito cafona. Quando vejo minhas fotos da época eu fico horrorizado.”
Assista trailer legendado de "Rock of Ages: O Filme"
Peça essencial para a adaptação cinematográfica era a escalação de um ator para o papel de Stacey Jaxx, o rockstar problemático, claramente inspirado em Axl Rose, que é o centro da trama. Shakman imediatamente pensou em Tom Cruise: “Eu precisava de alguém com carisma de estrela mas que soubesse não se levar a sério. Quando vi Tom fazendo aquela ponta em 'Trovão Tropical' (como um grotesco executivo de estúdio, NR), eu vi que ele seria perfeito. E quando ele me disse que tinha adorado Hairspray, sabia que tínhamos fechado um acordo.”
Cruise passou seis meses treinando dança e canto exclusivamente para viver Jaxx – um mês apenas em aulas de canto, 5 horas por dia, todos os dias (“tive medo de que ele fosse estourar a garganta”, Shakman confessa). Para o restante do elenco Shankman procurou atores que comprovadamente sabiam cantar – como Catherine Zeta Jones, que começou no teatro musical em seu nativo País de Gales, ou Alec Balwin e Russel Brand, que já havia cantado em filmes e peças – ou profissionais do mundo da música : Mary J. Blige, o popstar latino Diego Boneta (que já havia feito sucesso como ator, entre outras coisas, na novela Rebeldes) e a estrela country Julianne Hough.
Este filme para mim é meio 'querido diário'. Foi um período muito divertido e muito cafona. Quando vejo minhas fotos da época eu fico horrorizado
“Confesso que fiquei com muito medo quando aceitei o projeto e vi a categoria do elenco”, diz Boneta. “ Mas logo na primeira leitura eu percebi que para quase todos nós o projeto trazia alguma coisa nova – Tom estava cantando e dançando pela primeira vez, Julianne estava atuando pela primeira vez… isso me deixou mais à vontade.”
Diego e Julianne vivem dois personagens importantes na trama, o barman Drew, que sonha em ser astro de rock, e Sherrie, a inocente garota do interior que chega a Los Angeles repleta de fantasias e acaba virando stripper na boate de Mary J. Blige. “Eu também cheguei aqui achando que ia ser a nova Judy Garland”, diz Hough. “Eu sempre quis cantar, dançar e atuar, e desembarquei aqui com 2 mil dólares no bolso—menti para o meu pai que eram 5 mil, senão ele não me deixava vir. Dei duro até conseguir minha primeira oportunidade de verdade. É claro que compreendo minha personagem.”
Russel Brand –- talvez o elemento mais naturalmente roqueiro do elenco— tem um papel muito especial: Lonny, o assistente de Dennis, dono do (fictício) clube The Bourbon (uma referëncia ao Whisky, tempo do rock dos anos 1960, 70 e 80) que declara seu amor por Dennis ao som de “Can’t Fight This Feeling”, sucesso de 1984 do REO Speedwagon. “Isso foi ideia do Adam Shakman, na peça eles são amigos e colegas, não namorados”, diz Brand. “ Então obviamente isso é a expressão de alguma coisa na vida de Adam… Mas eu adorei. Faz sentido. E seu tiver que ser namorado gay de alguem, melhor ser de Alec Baldwin, que é um cavalheiro. Ele é sábio, digno, elegante, brilhante e resmungão..uma espécie de urso grizzly formado por Yale.”
"Rock of Ages" tem uma série de detalhes não muito fiéis aos fatos da época, e é muito mais uma brincadeira com um sub-gênero do rock dos anos 1980 do que uma panorâmica sobre a cena musical da época. O que é exatamente a intenção de Shankman. “Curiosamente, o que parece ter permanecido dessa época, o que ouço no rádio, não são as coisas artísticas e geniais como David Bowie ou “Sledgehammer” de Peter Gabriel, mas “Here I Go”, “Pour Some Sugar on Me “ e “Every Rose Has Its Thorn””, diz Shankman. “Mas 'Rock of Ages' não é nem sobre isso – é sobre um pedaço bem pequeno desse universo, num determinado lugar, num período de tempo. E é uma fantasia sobre isso.”
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