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Diretor escandaliza Veneza com cena de sexo com crucifixo em "Paradise Faith"

Cena de "Paradise: Faith" - Divulgação
Cena de "Paradise: Faith" Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo*

31/08/2012 14h16

O filme do austríaco Ulrich Seidl, "Paradise Faith", escandalizou o Festival de Veneza nesta sexta-feira (31) com uma cena de sexo com um crucifixo. O longa compete pelo Leão de Ouro no evento, junto com outros 17 filmes.

"Faith provoca escândalo", afirma o jornal italiano Coriere della Sera ao resenhar o filme decididamente anticlerical, protagonizado por uma fervorosa católica que se flagela, usa o cilício, caminha pela casa de joelhos, impreca os pecadores e chega a se masturbar com um crucifixo.

Ao ser acusado de blasfêmia, o diretor explicou que o filme trata, na verdade, de uma mulher em conflito com seus desejos: "Esse filme irá chocar alguns e outros ficarão irritados com essa mulher que procura apenas satisfazer seus próprios desejos. Queria representar uma mulher que tem amor por Jesus e está em conflito entre o amor que sente por ele e por seu marido".

"Paraíso: Fé" faz parte de uma trilogia do autor que mostra a relação de três mulheres com suas mudanças físicas e como enfrentam a sociedade de consumo e os padrões de beleza.

A cena, na qual a católica Anna Maria, uma auxiliar de raio-x, lentamente tira o crucifixo da parede de seu quarto, o acaricia, o beija, torna a beijá-lo cada vez mais intensamente, até que finalmente se masturba com ele sob as cobertas, é certamente uma das mais impressionantes do cinema contemporâneo.


O filme é uma história de excessos místicos na qual inclusive a fotografia do papa Bento XVI é difamada, arrancou risos e foi aplaudido durante a primeira projeção à imprensa especializada e provavelmente gerará reações na Itália, um dos países mais católicos do planeta, e no Vaticano.

Para Anna Maria, o caminho que a levará ao paraíso reside em Jesus, e por isso decide percorrer toda a cidade de Viena com uma imagem da Virgem Maria de cerca de quarenta centímetros nas mãos batendo de porta em porta para convencer as pessoas a se unirem ao cristianismo.

O retorno inesperado após anos de ausência de seu marido, um muçulmano egípcio prostrado em uma cadeira de rodas, termina por reforçar sua fé.

"A protagonista não entende que a adoração cega pro Cristo a converte em um ser inumano, incapaz de sentir amor e de comunicar a mais importante virtude cristã: amar ao próximo", comentou o diretor.

O filme, que faz parte da trilogia Paradise (os outros dois são "Paradise: Love" e "Paradise: Hope"), do diretor Seidl, produzido por França, Áustria e Alemanha, denuncia com uma linguagem irônica o fanatismo religioso.

"Somos as tropas de assalto da Igreja" é o lema da comunidade religiosa a qual a protagonista pertence, que encarna a paixão tanto espiritual quanto carnal por Cristo.

O diretor, renomado documentarista, premiado em 2001 em Veneza por seu primeiro longa-metragem "Hundstage", disse ter se inspirado nas peregrinações religiosas para convencer adeptos.

"Ela é uma mulher decepcionada com o amor, com os homens e frustrada sexualmente. Sente um vazio interior", explicou. O evento ocorre até o dia 8 de setembro. (*Com agências de notícias)