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Com bruxas, fantasmas e zumbis, "ParaNorman" discute em stop motion o que é ser normal

Cena do filme "ParaNorman", que estreia na sexta-feira (7) - Reprodução
Cena do filme "ParaNorman", que estreia na sexta-feira (7) Imagem: Reprodução

Mariane Morisawa

Do UOL, de Los Angeles

05/09/2012 07h00

Quando era criança, o diretor e roteirista Chris Butler odiava a escola e não conseguia se encaixar. Foi desse sentimento que nasceu a história de “ParaNorman”, que ele dirige em parceria com Sam Fell (de “Por Água Abaixo”) e estreia nesta sexta-feira (7). O protagonista é um menino incompreendido porque consegue falar com os mortos – vários deles bem divertidos. “Há muito de mim em Norman. Eu me lembro como era me sentir assim”, disse Butler ao UOL, em Los Angeles.

Para dar mais realismo à trama, Butler e Fell viajaram a Salem, Massachussetts, onde ocorreram julgamentos de bruxas no século 17. “Achei que tinha a ver, porque a caça às bruxas eram pessoas fazendo julgamento das outras pessoas, decidindo o que era normal. Os primeiros julgados eram marginais da sociedade por causa da cor da pele ou da idade. Parecia um material rico, importante e real para explorar”, disse Butler.

A viagem teve suas aventuras: o diretor tentou achar o hotel mais assombrado de todo o Estado. “Fiquei a noite inteira esperando ser visitado, e nada aconteceu! Foi muito decepcionante”, contou. “Não sei se acredito em fantasmas, mas certamente tenho fascinação.” Quando era pequeno, sua avó dizia que um dia morreria, mas que sempre estaria por perto para protegê-lo. “Acho uma ótima maneira de falar com as crianças sobre coisas difíceis como a morte.”

Assista ao trailer do filme

É a mesma opinião de Travis Knight, principal animador e diretor da Laika, produtora do filme (e de “Coraline”). “Passo três anos fazendo um filme, quero que tenha ressonância, significado, mesmo que seja para o público infantil. É preciso ir a lugares sombrios, contanto que chegue ao outro lado bem. Essas são as obras que queremos fazer.” Ele acredita que as crianças têm fascínio pelo desconhecido, sejam bruxas, fantasmas ou zumbis – todos aparecem em “ParaNorman”.

“Elas gostam daquilo que não entendem. E isso vale para fantasias, super-heróis e terror. Se forem bem feitas, são uma metáfora para outros aspectos da vida”, afirmou. “Há muitos elementos fantásticos neste filme, como fantasmas e zumbis, mas na verdade é uma história de amadurecimento, de um garoto que descobre que o melhor é cultivar as características que tornam você único e não tentar suprimi-las e se conformar. Essa é uma mensagem que as crianças precisam ouvir.” Apesar de haver algumas cenas mais assustadoras, o produtor e os diretores acreditam que a idade para assistir depende da criança.

Muitos filmes e programas inspiraram “ParaNorman”, como “Scooby-Doo”, “Caça-Fantasmas” e “Poltergeist”. “Desde o começo sabia que ia ser um grupo de garotos, numa Kombi. Uma coisa que nunca fez sentido em Scooby-Doo é que eles jamais seriam amigos na vida real, porque são tipos tão diferentes. Então, coloquei esses tipos diferentes dentro da van, porque sabia que ia acontecer um monte de coisas. É meio como se fosse: e se o Scooby-Doo fosse real?”, brincou Butler.

Fazer uma história desse tipo em stop motion representou grandes desafios. “Não escrevi para ser fácil, queria que fosse ousado”, disse Butler. Travis Knight, que dirige o estúdio, ainda coloca a mão na animação. “Gosto de pegar uma figura sem vida interior e, no fim do processo, fazer com que pareça viver e respirar. É importante não perder a conexão com essa mágica”, disse.

Para ele, fazer stop motion não tem nada a ver com paciência. “Se você nos vir trabalhando, vai nos ouvir berrando algumas vezes, porque é frustrante. O essencial é ser capaz de focar por períodos longos de tempo, porque tudo é minucioso, tedioso, move-se aos milímetros. E é exaustivo fisicamente, porque você fica 12 horas por dia nas posições mais estranhas, machuca os dedos com arame, e mentalmente, pois cada pedacinho do que acontece na sua cabeça. No final, porém, é muito recompensador.” O estúdio Laika procura misturar essa técnica antiga do stop motion com novas tecnologias e efeitos especiais para renovar o gênero.