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"Deus e Alá estavam do nosso lado", diz diretor de filme que fala da imigração libanesa no Brasil

"A Última Estação", de Marcio Curi, se inicia na década de 1950, quando dois irmãos libaneses chegam ao Brasil para tentar construir uma nova vida - Divulgação
"A Última Estação", de Marcio Curi, se inicia na década de 1950, quando dois irmãos libaneses chegam ao Brasil para tentar construir uma nova vida Imagem: Divulgação

James Cimino

Do UOL, em Brasília

18/09/2012 12h57

Durante debate sobre seu longa “A Última Estação”, que retrata a história da imigração libanesa no Brasil, o diretor Márcio Curi contou como superou as dificuldades para filmar em português e em árabe. “Deus e Alá estavam do nosso lado. A princípio estabeleci que a língua oficial do set seria o inglês, mas que as pessoas poderiam conversar entre si na língua que achassem mais conveniente. No fim, mesmo na base da mímica em alguns caso, acabou dando tudo certo.”

Co-produzido por brasileiros e libaneses, o filme, que custou R$ 3,4 milhões, narra a saga de Tarik (Mounir Maasri), um imigrante libanês que se sente um fracassado por não ter conseguido cumprir a promessa que fizera a sua mãe de ganhar dinheiro no Brasil e voltar ao Líbano. Incapaz de se desapegar da tradição, parte em uma viagem em busca de cinco amigos que fizera no navio que lhes trouxe de sua terra natal.

Foi um tanto difícil convencer os produtores libaneses a investir nessa história. A imigração, para eles, ainda é uma cicatriz que sangra

Márcio Curi

“Ele queria ver se os amigos estavam como ele, apegados a isso, e descobre que a maioria deles mudou e se adaptou ao Brasil, mesmo que, em alguns casos, ainda preservem uma parte da tradição. Foi um tanto difícil convencer os produtores libaneses a investir nessa história. A imigração, para eles, ainda é uma cicatriz que sangra, porque muitos dos que deixaram o país não foram bem sucedidos. Especialmente porque eles viviam uma espécie de esquizofrenia. Não eram mais libaneses, mas tampouco eram brasileiros. Então eu lhes dizia que tínhamos quem estabelecer uma ponte entre o novo e o velho Líbano, já que o Brasil tem nove milhões de descendentes de libaneses, o triplo da população do nosso país”, conta Mounir Maasri o ator libanês que dá vida a Tarik.

Di Moretti, o roteirista do filme, diz ter tido uma preocupação de retratar o orgulho de um povo que, desde os atentados terroristas de 11 de setembro, sofreu com o preconceito. No filme, é nessa mesma data em que o protagonista decide empreender sua jornada pelo interior do Brasil até, finalmente, chegar a Beirute.

De acordo com o roteirista, havia uma intenção inicial em retratar as culturas não apenas no tocante a seus aspectos discordantes, mas principalmente em seus aspectos comuns. Em uma das cenas, Tarik encontra um de seus amigos em Belém do Pará. Pouco depois de rezarem em direção a Meca, os dois assistem à procissão do Círio de Nazaré. Tarik observa que a manifestação religiosa “parece a peregrinação a Meca”.

“As histórias todas contadas no filme são baseadas em relatos reais. E queríamos mostrar que eles não são tão diferentes de nós. No entanto eu não quis parecer panfletário demais. Por isso eu coloco aquela cena em que ele fica chocado de ver a filha ficando com um rapaz negro. Ele no fundo não aceita as diferenças, mas com o decorrer do filme, ele acaba se transformando e aprendendo a respeitar isso”, diz Di Moretti.

O diretor Márcio Curi, também filho de libaneses, diz que quis transferir ao protagonista a experiência que teve com seu pai, que era muito conservador e acabou se modificando ao longo do tempo. “Quis passar a ideia de que as pessoas não nascem prontas.” "A Última Estação" tem Elisa Lucinda no elenco e, além do Brasil, será distribuído no Líbano em países muçulmanos do norte da África.

*O repórter James Cimino viajou a convite do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.