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Gaiteiro que quer fazer um filme é destaque da 2ª noite do Festival de Brasília

Dirceu Cialinski e seu amigo Gregório em cena de "Um Filme para Dirceu": humor e emoção (19/9/2012) - Divulgação
Dirceu Cialinski e seu amigo Gregório em cena de "Um Filme para Dirceu": humor e emoção (19/9/2012) Imagem: Divulgação

James Cimino

Do UOL, em Brasília

19/09/2012 15h14

“No princípio, eu e o Greg, o meu amigo que aparece no filme, a gente queria alguém que filmasse a gente, com qualquer câmera, fazendo as nossas ‘arte’.” É assim que o gaiteiro Dirceu Cielinski conta, com forte sotaque sulista, como nasceu o documentário “Um Filme para Dirceu”, da diretora paranaense Ana Joahnn, em que relata a luta do descendente de poloneses de São Bento do Sul (SC) para realizar um filme sobre sua vida.

As “artes” de Dirceu, no entanto, não se limitam apenas às brincadeiras com seu amigo Greg, seu carisma inato, seu comportamento irreverente e seu constante sorriso mesmo perante as situações mais adversas. O filme retrata todo o processo e as dificuldades de se fazer um filme.

Também retrata a cultura dos pequenos agricultores de origem alemã e polonesa do interior do Paraná e Santa Catarina por meio dos bailões de CTG (Centros de Tradições Gauchescas) e dos casamentos caipiras em festas juninas. Um filme que, segundo Dirceu, “é a cara do Sul”.

“Realmente o filme mostra essa cultura dos vales, da música gaúcha, que a gente quase não vê ser retratada no cinema. Mas o filme não tinha a intenção primordial de mostrar isso. É que o Dirceu está inserido nesse ambiente”, conta a diretora.

Outro aspecto interessante do processo é a relação entre documentarista e personagem, que durou três anos. Após sofrer uma mialgia na coluna, Dirceu fica em uma cadeira de rodas por um ano e vai a Curitiba buscar tratamento. Lá, volta a andar, embora com dificuldade, e procura por meio da lista telefônica alguém que tenha coragem de filmar sua história.

O filme mostra essa cultura dos vales, da música gaúcha, que a gente quase não vê ser retratada no cinema.

Ana Joahnn

Acaba encontrando Ana, que além de ter abraçado o projeto, vira sua confidente. No entanto, a diretora é quase um não personagem do filme. Sua presença é notada apenas pela voz, durante as filmagens, e pelas ligações telefônicas, que ela filma com uma câmera em seu escritório em que aparece apenas de costas.

Essas conversas, feitas à revelia de Dirceu, trazem momentos hilários e dramáticos do filme. Em um deles, o rapaz conta que tem uma notícia ruim para contar. “Tua mulher te largou?”, pergunta Ana. “E isso lá é notícia ruim?”, responde Dirceu com sua ironia característica.

“Eu fiquei surpreso quando vi o filme, porque não sabia que a Ana estava filmando nossas conversas. A gente quer sempre aparecer bem, né?”, diz o rapaz, que no princípio queria que o filme o ajudasse a ser um gaiteiro famoso.

Durante o processo, no entanto, o sonho de Dirceu não vingou. Cansado de tentar a carreira artística e de gastar dinheiro, casado e com dois filhos (“é só as pernas que não funcionam”, brinca), agora o rapaz quer ter “uma vida tranquila e com as contas em dia”.

No entanto, nos corredores do festival, o rapaz recebia tratamento de estrela. Foi bastante cumprimentado, elogiado e estava o tempo todo cercado de artistas e jornalistas. Questionado sobre qual seu próximo sonho, responde: “Eu sou um palhaço nato, né? Até em velório eu faço graça. Então eu penso em um dia ser um personagem de um filme de comédia.”

*O repórter James Cimino viajou a convite do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro