Escolhido para abrir Festival do Rio, "Gonzaga" desvenda relação entre sanfoneiro e filho
Embora não quisesse se envolver em mais uma biografia após o sucesso de “Dois Filhos de Francisco”, o diretor Breno Silveira não conseguiu se manter afastado do gênero. Depois de receber fitas com entrevistas feitas por Gonzaguinha com seu pai, Luiz Gonzaga, o cineasta percebeu o valor do que tinha em mãos e investiu em um de seus projetos mais ambiciosos: “Gonzaga – De Pai Para Filho”.
Com a responsabilidade de abrir o Festival do Rio, que começa nesta quinta-feira (27), o longa explora as nuances da relação de pai e filho entre Gonzaga (1912-1989) e Gonzaguinha (1945-1991) – e é antes um drama épico e familiar do que uma biografia propriamente dita dos músicos.
“Assim como ‘Dois Filhos’, o filme tem uma mola maior. Fala sobre esses dois caras que nunca se entenderam, mas estão numa relação em que um começou a carreira por causa do outro. A história é emocionante, tem um drama bonito”, destaca Silveira, afirmando que achou no longa o seu próprio “Peixe Grande” – referência ao filme de Tim Burton no qual o protagonista tenta entender quem foi seu pai por meio de histórias.
As gravações de Gonzaga e Gonzaguinha, ponto de partida para o filme, chegaram ao cineasta há sete anos, por meio da produtora Marcia Braga e de Maria Hernandez – que assina o argumento do filme –, que acharam que Silveira seria a melhor opção para retratar a relação entre os dois. Depois de ouvir as conversas, ele aceitou o desafio. “Aquilo ficou gravado no meu coração. Era um homem entendendo o próprio pai e a si mesmo, perguntando por que ele o abandonou no morro, sobre a relação com a mãe”, lembra.
Desde então, Silveira e sua equipe trabalharam intensamente na preparação do longa. Ao lado da roteirista Patrícia Andrade, ele fez várias versões do roteiro, enquanto investia também na busca por personagens e na construção de locações - no filme, aliás, foram recriados o morro no qual Gonzaguinha viveu no Rio de Janeiro e cidades nordestinas das épocas em que a história acontece. E os anos de dedicação compensaram: “Sete anos foi o tempo para colocar o filme de pé. É um épico, uma superprodução”, orgulha-se o diretor.
Atuações
Dentre todos esses processos para fazer “Gonzaga – De Pai Para Filho”, a procura pelos atores que iriam dar vida à Gonzaga e Gonzaguinha em várias fases de sua vida foi talvez o mais trabalhoso. “Precisávamos encontrar pessoas que sejam parecidas, cantem, toquem sanfona. Eram tantos requisitos que essa pessoa deve estar em algum lugar do país”, brinca o cineasta.
Para encontrar os atores, a equipe foi ao nordeste e fez um processo seletivo que teve mais de cinco mil inscritos, entre atores profissionais e amadores. Deles, dez foram levados para o Rio de Janeiro, onde enfrentaram dois meses de treinamento de elenco com Sergio Penna, que trabalhou em filmes como "Carandiru". De lá, saíram dois intérpretes de Gonzaga, o sanfoneiro Nivaldo Expedito de Carvalho, conhecido como Chambinho do Acordeon; e o guia de museu Adélio Lima, que surpreenderam Silveira com suas atuações.
Já ao buscar os intérpretes do filho, o cineasta teve a sorte de se deparar, durante a fase de testes, com o ator Júlio Andrade, a quem definiu como “uma reencarnação do Gonzaguinha”. “Ele é parecido fisicamente e tem uma atuação brilhante. É uma das melhores do filme”, diz Silveira, que não esconde sua preferência por trabalhar com atores menos conhecidos do público. “Você se transporta mais facilmente, acredita mais no trabalho daquele ator que não é o mesmo da TV”, declara.
Familiarizado com a cultura nordestina por ter raízes pernambucanas na família de seu pai, Silveira revela que se preocupou em fazer um filme à altura do mito de Gonzaga. “Eu tenho uma relação forte com o nordeste e entendo o tamanho de Gonzaga. E tinha que colocar no filme pelo menos uma fração desse mito”, conta.
“Aquilo ficou gravado no meu coração. Era um homem entendendo o próprio pai e a si mesmo"
Para ser fiel à história dos músicos, o diretor entrou em contato com a família de ambos, que além de auxiliá-lo com a parte burocrática de liberação de músicas para a trilha sonora, ainda contribuiu como fotos e depoimentos. “Essa história foi composta de muitas conversas com os filhos. Tentei estar próximo da família, informando sobre as filmagens”, relembra.
Ao avaliar seu novo trabalho, Silveira mostra-se satisfeito e confiante quanto à recepção que o filme terá no Festival do Rio. “O filme tem seu impacto e consegue contagiar uma plateia. Com certeza os organizadores viram um filme grande”, comenta, afirmando estar “honrado” em ter a chance de abrir o evento.
O cineasta ainda revela torcer para que o longa tenha uma boa repercussão internacional, assim como aconteceu com “Dois Filhos de Francisco”: “Justamente por ser muito brasileiro, ele é um filme internacional e tem chances de rodar o mundo”.
Futuro do filme
Com muitas horas de gravação, não foi tudo de “Gonzaga – De Pai Para Filho” que pôde ser transportado para o resultado final que será exibido nos cinemas a partir do dia 26 de outubro. Mas as horas extras poderão ser vistas em breve como uma série exibida na Globo.
Depois de negociações com a emissora, ficou acertado que ela irá exibir parte do material bruto do longa. “É um filme gigante, então a série vai mostrar uma parte que não coube”, conta Silveira, acrescentando que mostrou o material ao produtor e diretor Guel Arraes, que logo manifestou interesse no projeto.
Segundo o cineasta, ele próprio deve estar à frente do projeto. Silveira ainda adiantou que é provável que a série comece a ser exibida no começo de 2013, mas ainda não há uma data confirmada.
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