Cineasta francês radicado na Bahia adapta conto de Stefan Zweig "A Coleção Invisível"
O conto original foi escrito por um austríaco de nascimento que fugiu da Alemanha nazista. O filme em que ele se baseia é dirigido por um francês que escolheu a Bahia para morar. Cheio de sotaques, "A Coleção Invisível", adaptação de um texto de Stefan Zweig, primeiro longa de ficção de Bernard Attal, é um dos trabalhos selecionados para a Premiére Brasil, seleção de filmes nacionais do Festival do Rio.
A história do conto se passa na Alemanha da década de 20, que vivia os efeitos de uma crise econômica devastadora, mas o cineasta queria simplificar a produção. "Eu não podia fazer um filme de época, então, eu e o Sérgio [Machado, corroteirista], procuramos uma realidade semelhante para ser cenário do filme e achamos isso no Sul da Bahia”, afirma, referindo-se à região cacaueira, que entrou em decadência depois da praga da vassoura-de-bruxa.
Com o roteiro definido, Attal foi buscar seus atores principais. Conheceu Vladimir Brichta por acaso, quando ele encenava um espetáculo teatral em Salvador. "É um ator que as pessoas associam muito à comédia romântica, mas eu fiquei encantado com a versatilidade da interpretação dele", afirma. O diretor enviou uma cópia do roteiro para Brichta, que se empolgou com ideia.
O ator, que emagreceu vários quilos para fazer o personagem, interpreta um homem que enxerga no encontro com um colecionador de gravuras raras uma oportunidade de se reerguer na vida. Para conseguir trazer Walmor Chagas para o elenco, Attal teve que suar. Viajou algumas vezes para o sítio do ator no Vale do Paraíba, interior de São Paulo, para convencê-lo a aceitar o papel do colecionador. “Ele é muito seletivo com seus trabalhos e não sabia se queria fazer porque teria que sair do sítio dele”, diz.
Mas a insistência fez o veterano ator topar a empreitada e o resultado, para o diretor, superou expectativas: “estava preocupado, intimidado, mas o Walmor se revelou um ator extremamente generoso, principalmente com os outros atores. Ele observa, ouve e ajuda a tornar o trabalhos do colegas mais eficiente. A troca entre ele e o Vladimir foi fantástica”.
Fã do cinema que tem sido produzido no Nordeste do país nos últimos anos, Attal afirma que espera que seu filme dialogue com o tipo de cinema feito por Karim Aïnouz, Marcelo Gomes e Sérgio Machado. “Acho que começamos bem. O Festival do Rio é a maior vitrine para o cinema feito no Brasil e apresenta um recorte bem diversificado do que se produz por aqui”, avalia Attal, que pretende aproveitar o evento para atrair apoiadores e lançar o filme em circuito já no começo do ano que vem. “No Brasil, o trabalho do cineasta só termina depois da distribuição do filme”, conclui.
Attal reluta em se comparar com Zweig. Ambos tem histórias de encantamento pelo Brasil, mas em contextos diferentes. “Acho que tenho uma visão parecida da que ele tinha do país, de enxergar um ‘país do futuro’ (título de um conto do escritor) e que muita gente não entende”, explica. O cineasta francês não esconde seu amor pela Bahia. Ele, que casou com uma baiana, é radicado em Salvador desde 2005 e já frequenta a cidade há pelo menos doze anos. “Acho que a Bahia tem uma mistura cultural fascinante. É o centro de criação cultural no país”, confessa.
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