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Comédia romântica indie mostra a criação da mulher perfeita

Zoe Kazan e Paul Dano em cena de "Ruby Sparks - A Namorada Perfeita" (2012) - Divulgação
Zoe Kazan e Paul Dano em cena de "Ruby Sparks - A Namorada Perfeita" (2012) Imagem: Divulgação

Chico Fireman

Do UOL, no Rio

30/09/2012 14h45

“Ruby Sparks – A Namorada Perfeita” parece uma daquelas comédias românticas que infestavam a "Sessão da Tarde", da Rede Globo, nos anos 80: um filme sobre a complexidade das relações simples, cheio de trejeitos e lugares comuns e com uma pitada de fantasia. A questão é que a embalagem indie que o casal Jonathan Dayton e Valerie Faris empresta ao longa o coloca num plano diferente, onde as liberdades narrativas parecem mais à vontade. 

A dupla, responsável por “Pequena Miss Sunshine”, evoluiu bastante em seu trabalho na direção. Se em seu filme de estreia, tudo parecia calculado demais, “Ruby Sparks” evita maneirismos e flui com uma leveza invejável, mesmo quando tenta oferecer uma reflexão mais profunda sobre solidão. O protagonista, vivido por Paul Dano, em sua segunda colaboração com os diretores, é um homem que busca na ficção a solução para seu problema de isolamento, sua carência emocional. A garota perfeita sai da imaginação dele.

O texto de Zoe Kazan, coprotagonista e roteirista estreante, impressiona por algumas sutilezas diante de uma história que poderia facilmente cair na simplificação. Zoe não tem experiência, mas tem pedigree. Ela é filha de Nicholas Kazan, roteirista que assinou “O Reverso da Fortuna”, e neta de Elia Kazan, um dos grandes nomes do cinema americano nos anos 40 e 50, que revolucionou a direção de atores introduzindo o método do Actors Studio, que formou Marlon Brando e Paul Newman, entre outros.

Mesmo sem revolucionar nada, Dayton e Faris também parecem deixar os atores à vontade durante as filmagens. Zoe e Dano, namorados por trás das câmeras, agem como se estivessem em casa, o que dá ao filme a espontaneidade que falta em “Pequena Miss Sunshine” e que faz com que o caráter fantástico da história se insira com mais facilidade ao conjunto. Até Annette Bening e Antonio Banderas, atores mais experientes, entram na brincadeira.

“Ruby Sparks” está bem longe de ser um grande filme. Peca quando materializa algumas das obsessões de seus personagens, como na cena em que os protagonistas vivem um momento de criador e criatura. O desfecho também pode ser interpretado como conciliador e maniqueísta, mas parece coerente com o material despretensioso que Faris e Dayton oferecem. Os seis anos que separam “Miss Sunshine” deste novo trabalho indica que os diretores descobriram como equilibrar a dose de melancolia em sua obra e agora querem falar para um público maior.