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Na seleção do Festival do Rio, "Europa Morta" fracassa em sua tentativa de revelar fantasmas

Cena de "Europa Morta", terror psicológico dirigo por Tony Krawitz (2012) - Divulgação
Cena de "Europa Morta", terror psicológico dirigo por Tony Krawitz (2012) Imagem: Divulgação

Chico Fireman

Especial para o Uol, do Rio

01/10/2012 13h56

O cartaz de “Europa Morta”, que integra a seleção do Festival do Rio, vende o filme como o novo longa do produtor responsável por “Reino Animal” e “Shame”. A comparação é a pior propaganda que o trabalho do diretor Tony Krawitz poderia receber porque, já nos primeiros 20 minutos de sessão, o espectador percebe a armadilha: além de não ter qualquer relação, temática ou formal com os dois filmes citados, “Europa Morta” é um desacerto completo.

O protagonista, um fotógrafo que vive na Austrália, é convidado para levar uma exposição para a Grécia, terra natal de sua família. Os pais rejeitam a ideia da viagem porque teriam deixado por lá um passado amaldiçoado. O filho rebelde não pensa duas vezes e parte para Atenas, onde começa uma viagem que o diretor pretende que seja transformadora, mas cuja única mudança é no tamanho da paciência do espectador para aguentar 84 minutos de tortura.

A aura de terror psicológico do início do filme oferece um ponto de partida interessante, mas sob o pretexto de revelar verdades e filosofar sobre uma espécie de inconsciente coletivo europeu, a trama ganha contornos de novela mexicana. Estripulias tanto na maneira escandalosa como apresenta cada “revelação” quanto na interminável sucessão de novos elementos desnecessários que incorpora para deixar o ponto principal para os últimos dez minutos.

Na condição de profeta do apocalipse, o protagonista passeia por Atenas, Paris e Budapeste, em busca dos segredos de sua família e, pelo menos da visão dos envolvidos, termina jogando luz sobre um continente que vive até hoje com as consequências de seus pecados. O diretor se dedica a denunciá-los, passando pelo comércio sexual de adolescentes, a condição de vida dos  imigrantes ilegais e a herança de superstição que impregna parte da Europa.    

Com tantas pretensões, difícil dar conta de tudo. O diretor não deu. A roteirista não deu. E nem o produtor, cujo currículo também inclui a animação “Mary e Max” e o vencedor do Oscar “O Discurso do Rei”, conseguiu colocar ordem no negócio. Nenhum dos três teve a habilidade para transformar a cena em que o mistério do filme é revelado num momento cinematográfico.