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Destaque no Festival do Rio, filme húngaro reconstitui ataques violentos a famílias ciganas

Cena do filme "Apenas o Vento", do diretor Benedek Fliegauf  - Divulgação
Cena do filme "Apenas o Vento", do diretor Benedek Fliegauf Imagem: Divulgação

Chico Firemann

Do Uol, em São Paulo

02/10/2012 07h00

“Apenas o Vento”, que integra a seleção do Festival do Rio, é um filme de suspense travestido de drama étnico. Desde os primeiros minutos, o diretor Benedek Fliegauf deixa claro que a história se desenvolve num período e numa região da Hungria em que famílias de origem cigana são assassinadas por milícias locais. A ameaça de que essa violência atinja a família de protagonistas atravessa o filme, mas o cineasta nunca a deixa em primeiro plano.

O modelo é o de ficção documental, que virou padrão de cinema e linguagem própria para os diretores do Leste Europeu. O cineasta acompanha em detalhes um dia inteiro nas vidas dos personagens, seguindo-os da hora em que se levantam ao momento em que vão dormir. O registro dos passos dos protagonistas  ajuda a compor o cenário em torno deles, uma Hungria suja, com uma população vivendo em estado miserável, bem diferente do país que aparece nos filmes de Béla Tarr.

O estado de tensão por causa dos crimes na região – crimes reais que aconteceram no país entre 2008 e 2009 – não interfere no cotidiano dos personagens e chega a constrastar com a investigação microscópica que o diretor faz de seu país. Ao traçar um caminho diferente para cada um dos membros da família, Fliegauf parece querer retratar uma Hungria divida, utilizando cada personagem para atingir camadas diferentes de sua observação sobre o lugar.

Enquanto a mãe representa um olhar desiludido e a filha mostra a conformação de uma geração diante da falta de perspectivas, o filho caçula é um sopro de esperança. Esperança projetada fora dali, mais especificamente no Canadá, onde mora o pai da família.

O filme ganhou o Grande Prêmio do Júri no último Festival de Berlim e é o representante da Hungria na corrida pelo Oscar de filme estrangeiro, uma decisão ousada diante de um longa que não está interessado em abrandar sua visão ácida sobre o país. O desfecho do filme, que promove o reencontro dos personagens e o cruzamento das linhas narrativas, mostra que assim como os personagens, parece não acreditar mais no país em que vive.


Apenas o Vento (Csak a szél) / (Just the Wind), Diretor: Benedek Fliegauf. Hungria / Alemanha / França, 2012. 86 min. Mostra: EXPECTATIVA. Leg Elet Português. 14.

2/10/2012 - Est Sesc Botafogo 3  - 23:45 - BT332

3/10/2012 - Est Vivo Gávea 1 - 15:10 - GV127

3/10/2012 - Est Vivo Gávea 4 - 17:20 - GV429

6/10/2012 - Est Sesc Rio 1  - 18:20 - ER166

* A programação é de responsabilidade da organização do Festival do Rio 2012. É recomendável checar horários e lotação no site oficial do evento ou nos telefones de informação listados.