Menina de 6 anos é cotada para o Oscar de atriz por "Indomável Sonhadora"
Chico Fireman
Especial para o Uol, do Rio
03/10/2012 07h00
Quvenzhané Wallis tinha apenas seis anos quando interpretou a protagonista de “Indomável Sonhadora”, título brasileiro de gosto duvidoso para “Beasts of the Southern Wild” (Feras do Sul Selvagem, numa tradução livre), o belo filme de estreia do diretor Benh Zeilin. Quvenzhané Wallis vai ter oito anos se for indicada ao Oscar de melhor atriz por sua performance no filme, que é um dos principais destaques desta edição do Festival do Rio.
Interpretações infantis sempre geram controvérsias. Afinal, onde termina o “ser criança” e começa o trabalho de ator em si? Mas o fato é que a presença da menina nas telas é magnética. Não é à toa que ela aparece na maioria das listas de apostas para o prêmio da Academia. Isso desde que o filme apareceu no Festival de Sundance, em janeiro deste ano.
A garota interpreta Hushpuppy, uma criança que mora com o pai numa região de várzea na Louisiana, sul dos EUA, lugar ameaçado pelas enchentes e condenado pelas autoridades. Wallis é o maior cartão de visitas para o longa de Zeitlin, premiado como o melhor diretor estreante em Cannes, mas está longe de ser o único. Embora o roteiro apresente várias pequenas armadilhas para cooptar o espectador, a construção do filme é tão genuína que ninguém se sente culpado em cair em todas elas.
Mesmo ainda inaugurando seu cinema, o diretor consegue alcançar um difícil equilíbrio entre o cinema de cunho social, a denúncia, e o lúdico, o fantástico. O cenário impressiona por si só: um estado de miséria absoluta, onde a fartura de peixes e frutos do mar convive com a precariedade e a falta de higiene das pessoas que moram no local. Um lugar onde Hushpuppy faz a única coisa que pode: ser criança, o que envolve conversar com fantasmas, dar vida a seres monstruosos e imaginar.
A personagem principal do filme costura a realidade que vê em sua frente com seus desejos de um mundo idealizado, repleto de uma magia bruta, uma magia da natureza, a única que ela, em sua inocência, consegue visualizar. Se seu pai, interpretado pelo também ótimo Dwight Henry, é, ao mesmo tempo, sua raiz e sua força, é ele também que fornece a Hushpuppy sua herança mágica. Na convivência entre os dois, o espectador encontra uma história de amores brutos, um retrato ultrarrealista do isolamento e um pequeno conto em que o encontro com as fadas é rápido, mas serve para carregar as baterias.
* A programação é de responsabilidade da organização do Festival do Rio 2012. É recomendável checar horários e lotação no site oficial do evento ou nos telefones de informação listados.