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Em novo longa, diretor de 24 anos faz crítica a "geração Google e Wikipedia"

Gregório Duvivier e Clarice Falcão em cena do filme "Eu Não Tenho A Menor Ideia Do Que Tô Fazendo Com a Minha Vida" - Divulgação
Gregório Duvivier e Clarice Falcão em cena do filme "Eu Não Tenho A Menor Ideia Do Que Tô Fazendo Com a Minha Vida" Imagem: Divulgação

Renato Damião

Do UOL, no Rio

04/10/2012 00h19

Em 2008, Matheus Souza chamou atenção do Festival do Rio ao exibir seu primeiro longa, o romance indie “Apenas o Fim”, que recebeu Menção Honrosa do Júri Oficial. Três anos depois o jovem cineasta -- de 24 anos -- está de volta ao festival com “Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Tô Fazendo com a Minha Vida”, uma “comédia romântica jovem", como classifica o próprio autor.

Durante a exibição do filme que aconteceu nesta quarta (3) no Centro Cultural da Justiça Federal, Centro do Rio, dentro da Mostra Novos Rumos, Matheus disse que quis fazer um filme sobre "a sua geração". "A minha geração tem uma série de problemas; a gente nasceu no mundo com todos os conceitos prontos, a resposta para qualquer coisa pode ser encontrada na Wikipédia, no Google. Ficamos isolados, sem contato, quase não pensamos por nós mesmos. A Clara procura ser quem é sempre precisar do Wikipedia", ressaltou ele.

Na trama de “Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Tô Fazendo com a Minha Vida”, a jovem Clara, papel de Clarice Falcão, se matricula em uma faculdade de Medicina, a fim de seguir a profissão dos pais e dos tios. Contudo, ela não se identifica com o curso e passa os dias da semana matando aula até conhecer Guilherme (Rodrigo Pandolfo) que trabalha em um boliche. A amizade faz com que Guilherme proponha à Clara um jogo no qual ela experimenta diversas outras profissões.

Mais uma vez Matheus se apropria do universo da cultura pop para construir os diálogos. "Como as pessoas conseguiram viver sem o smarthphone?˜, se indaga Clara enquanto foge de mais uma aula. A trilha sonora privilegia nomes do cenário alternativo como Silva e Tiê.

Ao longo do filme, Clara vai deixando a apatia de lado ao "brincar" de ser advogada - contando mentiras para os pais na hora do jantar -; engenheira - construindo uma casa na árvore -; geógrafa - conhecendo os pontos turísticos do Rio ou mesmo médica - ajudando os familiares a resolverem seus problemas.

A narrativa por vezes ganha tom confessional, seja quando Clara grava seus pensamentos em um gravador, seja quando ela dialoga com a própria câmera. Numa tentativa bem humorada de encontrar seu lugar no mundo, ela finge criar um vídeo para se inscrever no "Big Brother Brasil". "Me aceita Boninho, sou uma ótima personagem, eu não tenho personalidade", proclama Clara em momento de autocrítica.

"Em 'Apenas o Fim' achei que o filme terminava de um jeito apático, sem esperanças. Nesse novo filme que mostrar que nossa geração tem esperanças, que podemos criar novas maneiras de pensar. A Clara percebe esse vazio e resolve fazer algo a respeito", comentou Matheus. O filme, considerado de Baixo Orçamento, custou R$ 20 mil e fez com que o diretor deixasse de pagar suas contas por três meses para ser realizado.

Cumprimentado ao final da sessão por Domingos de Oliveira, Matheus disse que a opção por seguir em um cinema autoral vem da vontade de "fazer coisas diferentes" e classificou seus filmes como "filmes que ficam no meio do caminho". "Faço filmes que ficam no meio de caminho, não são nem populares o suficiente para serem um estouro de bilheteria, nem cabeça o suficiente para ir para Cannes. É difícil investimento para esse tipo de filme", finalizou.