Ben Affleck defende escolhas para recontar invasão de embaixada americana em "Argo"
Em novembro de 1979, durante a Revolução Islâmica que derrubou o xá do Irã, a embaixada dos Estados Unidos foi invadida e 52 funcionários foram feitos reféns dos militantes. Seis funcionários consulares conseguiram fugir pelos fundos do prédio, o mais distante do local invadido, refugiando-se na residência do embaixador canadense.
Os reféns da embaixada permaneceram em cativeiro, submetidos a péssimas condições físicas e psicológicas, durante 444 dias. Os seis refugiados na casa do embaixador canadense saíram do Irã em segurança e ilesos, em janeiro de 1980.
A fantástica história real de como eles conseguiram fugir de Teerã literalmente sob as barbas dos aiatolás, sem dar um tiro e sem criar mais uma crise internacional, é a inspiração para "Argo", terceiro filme de Ben Affleck como diretor. Trabalhando também diante das câmeras -- no papel de Tony Mendez, o agente da CIA que inventou o estratagema e coordenou o resgate -- Affleck criou um excelente thriller de ação e espionagem, inteligente, humano e, supreendentemente, muito engraçado.
Explicar o porquê estragaria o prazer de acompanhar as extraordinárias aventuras de Mendez e seus colaboradores em Hollywood -- o especialista em efeitos de maquiagem John Chambers (John Goodman) e o produtor Lester Siegel (Alan Arkin).
“Hollywood é um lugar muito louco e diverso”, diz Affleck. “É onde se fazem grandes filmes e também uma quantidade de porcaria. E uma quantidade enorme de coisas tão loucas e absurdas que niguém pode acreditar que é verdade. Por isso o absurdo que está no centro do filme é possível"
Affleck ainda elogia o desempenho de Goodman e Arkin. "John e Alan são perfeitos, eles ao mesmo tempo debocham de Hollywood e declaram seu amor pelo lugar e pelo trabalho que fazem. É o que torna possível toda essa história louca.”
Argo fez enorme sucesso em sua passagem pelo Festival de Toronto, no Canadá, mas, ao mesmo tempo, provocou a ira dos locais, que se acharam reduzidos a meros coadjuvantes dos norte-americanos no evento que ficou conhecido como "Canadian Caper".
Affleck responde dizendo que o filme não é um documentário: “Ele se inspira nos fatos reais, mas não é um relato rigoroso dos fatos. Tivemos que tomar algumas liberdades com a história para tornar o filme mais interessante", argumenta o diretor. "O papel dos canadenses foi enorme, e reconhecemos isso no filme. Mas, ao mesmo tempo, a ideia maluca que possibilita o resgate foi mesmo obra da coragem e da inventividade de Tony Mendez.”
VEJA TRAILER LEGENDADO DE "ARGO"
Para o cineasta e ator, o grande desafio de "Argo" foi reconstruir um lugar e uma época: Teerã em plena Revolução Islâmica foi remontada em Istambul, na Turquia. Depois, Affleck teve de lidar com os diferentes tons da narrativa.
"Meus primeiros dois filmes se passavam em Boston e eram dramas de crime, moralmente ambíguos”, diz. “Já neste novo filme existem três tons distintos: a intriga política do início, depois a sátira hollywoodiana e, finalmente, o thriller cru intenso no terço final do longa. Para mim esse foi um tremendo desafio, porque não queria que a plateia achasse que estava vendo três filmes.”
Um elemento interessante de "Argo" é sua abertura : em forma de storyboards, é contada a história do Irã desde os tempos do império persa até os anos 1970, incluindo todas as manipulações do Ocidente para manter o controle sobre a região e seu petróleo. “Eu quis dar às pessoas uma ideia da situação política da Pérsia moderna, pano de fundo para nossa história", afirma Affleck. "se eu começasse o filme com um bando de muçulmanos queimando bandeiras norte-americanas e gritando “Morte à América’, isto poderia ser em qualquer lugar."
O objetivo do diretor foi fugir de estereótipos que o público dos Estados Unidos poderia nutrir sobre como o Oriente Médio odeia o país. "Queria que o público compreendesse a história atrás de tudo isso, o padrão dos acontecimentos históricos. Creio que isso torna a experiência de ver o filme melhor e mais rica."
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