Topo

Com Pitanga, Selton Mello e Santoro, animação de história do Brasil concorre no Festival do Rio

Cena de "Uma história de amor e fúria" - Divulgação
Cena de "Uma história de amor e fúria" Imagem: Divulgação

Fabíola Ortiz

Do UOL, no Rio de Janeiro

09/10/2012 01h53

“Selton Mello é descoladíssimo nessa história de dublagem. Para mim, foi fantástico fazer animação, mesmo na solidão da minha cabine”, disse Camila Pitanga ao comparar a sua atuação no primeiro longa animado brasileiro ao qual a atriz empresta sua voz, junto com o ator Selton Mello e Rodrigo Santoro.

“Uma História de Amor e Fúria”, de Luiz Bolognesi, é seu primeiro trabalho no mundo de animação, que também estreia como primeiro desenho animado a ser exibido na mostra competitiva da Première Brasil, no Festival de Cinema do Rio.

O filme de animação retrata uma história de amor entre um herói imortal (na voz de Selton) e Janaína, a mulher por quem é apaixonado há 600 anos, interpretada por Pitanga.

Em 75 minutos, “Uma História de Amor e Fúria” percorre séculos do passado do Brasil, desde a colonização com a chegada dos portugueses e o confronto com os franceses que tinham como aliados os tupinambás; em seguida, Selton dá voz ao negro Balaio, no Maranhão, líder do movimento que rebelou-se contra as tropas do governo chamado Balaiada, na primeira metade do século 19.

Depois, o personagem de Selton viaja no tempo e chega no ano de 1968 na pele de um guerrilheiro do movimento armado contra a ditadura, tornando-se um preso político e um dos líderes do movimento do tráfico Falange Vermelha. Já a última parada é no ano de 2096, em que o cenário futurista da cidade do Rio de Janeiro é dominado por milícias e vive uma crise de água e poluição dos mares.

Um épico em HQ

Com um toque de história em quadrinho, Luiz Bolognesi foi capaz de criar um épico que atravessa seis séculos de história. “Assim como eu sou viciado em HQ, eu também sou em história. E o protagonista atravessa a história do Brasil. Como estudei antropologia, sempre olho para a história e vejo um thriller, algo extremamente vivo e absolutamente dramático”, disse o diretor.

Até chegar a sua estreia como realizador, Bolognesi já passou por grandes produções tendo roteirizado “Bicho de Sete Cabeças” (2001), “O Mundo em Duas Voltas” (2007), “Chega de Saudade” (2007) e “As Melhores Coisas do Mundo “(2010), que receberam prêmios de melhor roteiro da Academia Brasileira e festivais de Recife e Brasília.

O projeto da animação levou dez anos para ser concretizado. A ideia veio no momento em que lançou “Bicho de Sete Cabeças”, protagonizado por Rodrigo Santoro. Foram dois anos de elaboração do roteiro junto com sua esposa Laís Bodanzky e, depois, seis anos de produção.

“É um trabalho de muito detalhe. Escolhi fazer no lápis e papel os desenhos com técnica 2D, um trabalho artesanal, muito delicado e intenso”, admitiu Bolognesi que conseguiu manter a equipe de produção do filme por quase uma década trabalhando junta pela realização do longa de R$ 4,5 milhões.

“É importante essa animação para várias gerações de animadores. Os atores gravaram a primeira vez há seis anos, mas todo ano eles voltavam para o estúdio. Selton gravou comigo umas oito vezes e a Camila, umas seis vezes”, lembra.

A escolha dos atores não foi por acaso, garante Bolognesi. Apesar de ter sido a sua primeira grande experiência numa animação, Pitanga já havia tido uma participação na dublagem de “Atlantis: O Reino Perdido”, da Disney.

Santoro dublou o ratinho de “Stuart Little” e “Rio”, começando agora com a segunda parte. Já Selton, que teve sua formação como dublador, já dublou filmes como “Karatê Kid” e “Indiana Jones” e, depois da fama, emprestou sua voz aos protagonistas de “A Nova Onda do Imperador” e “Irmão Urso”.

“Eu precisava de atores geniais que se dedicassem ao filme. Eles são a alma do filme, depois a gente deu o corpo. Resolvi convidar os grandes atores que eram capazes de, apenas no estúdio sentados no banquinho, darem todo o sentimento para depois desenharmos em cima. Eu ousei, mas eles seguraram essa missão”, disse o diretor.

Ao contrário de muitos desenhos brasileiros, “Uma História de Amor e Fúria” é destinado ao público jovem e adulto. Bolognesi admite que não é comum fazer este tipo de animação no Brasil.  “A grande diferença é que o desenho animado é adulto, tem sensualidade e violência”, salientou.

O lançamento nacional está previsto para março ou abril de 2013.

Ao final da pré-estreia no Cine Odeon, na noite desta segunda-feira (8), Camila Pitanga ainda estava emocionada. Ela disse ao UOL que se comoveu ao ver pela primeira vez o desenho finalizado.

“Tenho uma paixão pelo projeto que fala do nosso país, da nossa história. Isso me cativou. Eu acompanhei todo o projeto, gravei durante cinco anos. A gente até chegou a gravar em tupinambá no começo do filme”, lembra a atriz.

Pitanga afirma ter gostado da experiência e, se tiver outra oportunidade, garante que pretende se lançar à interpretação para desenhos. “Se for nesse tipo de filme sim. Não é um filme de animação pura e simplesmente, é um filme que traz uma reflexão sobre a nossa história”.

Santoro conta que, diferentemente de um longa com set de filmagem, a narrativa da animação é diferente e “possibilita a fantasia e o delírio”.

“Eu sou um marinheiro meio de primeira viagem, mas foi um prazer e uma diversão fazer”, disse.