Comédia zumbi ironiza mitologia dos mortos-vivos no Festival do Rio
Os zumbis existem no cinema desde anos de 1930, mas somente quando George A. Romero deu aos mortos-vivos um lugar além da vida, no fim da década de 60, é que a epidemia se espalhou pelo planeta e invadiu os gêneros tradicionais. Hoje, mais de 40 anos depois, a cultura zumbi segue firme e forte em sua missão de dominar o mundo, com representantes da Alemanha até o Japão, do Brasil até o Haiti, onde, teoricamente, tudo começou nos rituais de vodu.
Das terras geladas do Canadá veio “Um Pouco Zombie”, destaque do Festival do Rio, exemplo de que o filme de zumbi sofreu mutações secundárias. Utilizando as regras da comédia popular, o filme investe num humor simples, quase ingênuo, que celebra os longas estrelados pelos mortos-vivos nos anos 80, que passavam ao largo da crítica sócio-política que Romero faz em sua hexalogia e, de quebra, criaram um mito, o do zumbi que sai por aí gritando “miolos”!
Mas se há 25 anos, tudo não passava de uma grande piada, nos dias de hoje costurar um filme refereciando aquele subestilo é uma brincadeira deliciosa, sobretudo para o espectador iniciado. O diretor Casey Walker desconstrói o gênero com a história do homem que é picado por uma mosca zumbi, mas só desenvolve parte das características de sua agressora e luta contra sua sina de eterno assassino.
A ironia é regra e Shawn Roberts, que interpreta o personagem principal, entendeu a proposta direitinho. Sua performance caricata - ele é quase um Zacarias dos mortos-vivos - é um dos grandes trunfos do filme. Em menos de 90 minutos, Roberts protagoniza cenas que vão entrar pra antologia lado B dos filmes de zumbi. A melhor delas talvez seja a sequência em que ele vai ao mercadinho em busca de cérebros de animais. Ou - quem sabe? - a cena em que declara amor ao coelho da namorada. Num mundo em que zumbis sérios cada vez mais estão à espreita, “Um Pouco Zombie” joga uma luz de sarcasmo no fim de um túnel cheio de mortos esfomeados.
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