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Apostando no ineditismo e em clássicos, Mostra de Cinema de São Paulo chega à 36ª edição

Vampiro do filme ""Nosferatu"" (1922), de Friedrich Werner Murnau, que será exibido na Mostra - Divulgação
Vampiro do filme ''Nosferatu'' (1922), de Friedrich Werner Murnau, que será exibido na Mostra Imagem: Divulgação

Chico Fireman

Especial para o UOL, em São Paulo

17/10/2012 07h00

A morte de Leon Cakoff, que completou um ano no último domingo (14), parecia indicar uma crise num dos maiores e mais tradicionais eventos cinematográficos do país. Cinéfilos de todo o Brasil questionavam o futuro da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que chega, na sexta-feira (19), a sua 36ª edição, a  primeira sem a participação de seu criador e curador. “No”, drama político do chileno Pablo Larraín, foi o filme escolhido para abrir o evento, numa sessão restrita a convidados. 

Sob o comando da viúva de Cakoff, Renata de Almeida, que já codirigia o evento, a Mostra volta a crescer. Serão exibidos cerca de 350 títulos, cem a mais do que na versão encolhida do ano passado, mas fica mantida a polêmica regra estabelecida em 2011, seguindo determinação do criador do evento: apenas filmes estrangeiros inéditos no Brasil fazem parte da programação.

Com a decisão, títulos importantes como os vencedores dos festivais de Berlim e Veneza, “César Deve Morrer”, dos irmãos Taviani, e “Pietà”, de Kim ki-duk, respectivamente, não estarão na programação da Mostra porque foram exibidos semanas atrás durante o Festival do Rio.

Entre os principais destaques deste ano estão os novos filmes de alguns dos principais cineastas em atividade, que são habitués da Mostra, como “O Gebo e a Sombra”, do centenário português Manoel de Oliveira (“Um Filme Falado”), que terá sua estreia internacional no evento; “Um Alguém Apaixonado”, segunda incursão internacional do iraniano Abbas Kiarostami (“Cópia Fiel”); “A Bela Que Dorme”, do italiano Marco Bellocchio (“Bom Dia, Noite”); a comédia “A Parte dos Anjos”, do inglês Ken Loach (“À Procura de Eric”); e “Outrage: Beyond”, do japonês Takeshi Kitano (“Dolls”).    

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    Gael García Bernal em cena de "No", filme de Pablo Larraín que abre a 36ª Mostra de SP

Na falta do vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, “Amour”, de Michael Haneke, que deverá permanecer inédito nas mostras de cinema brasileiras, segundo a distribuidora Imovision, a Mostra terá outros filmes premiados no festival francês. Entre eles, “Reality”,  novo trabalho do diretor de “Gomorra”, Matteo Garrone, vencedor do Grande Prêmio do Júri; “A Caça”, de Thomas Vintenberg, que rendeu para Mads Mikkelsen o prêmio de melhor ator; e “Além das Montanhas”,  de Cristian Mungiu (“4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias”), cujas atrizes Cosmina Stratan e Cristina Flutur dividiram o prêmio de interpretação feminina. 

Apesar do número maior de filmes na edição deste ano, apenas 30% deles serão exibidos em película, segundo Renata de Almeida. A diretora da Mostra explica que a oferta de filmes em 35 milímetros caiu muito e o evento, seguindo o exemplo de outros festivais de cinema, está priorizando o DCP, considerado o melhor formato digital disponível no mercado hoje. Quando não existir cópia em película ou DCP, a prioridade será o blu-ray.  

Retrospectivas
O maior homenageado no evento deste ano será o diretor russo Andrei Tarkóvski, que ganhará uma retrospectiva completa de seus trabalhos como diretor, incluindo os clássicos “Andrei Rublev” e “Stalker”, além de filmes inspirados na obra do cineasta. A Mostra também reservará espaço para a exposição de fotos “Luz Instantânea: as Polaroides de Andrei Tarkovsky”, que ocupará o Museu de Arte de São Paulo.

Além de Tarkóvski, haverá outras homenagens. O japonês Minoru Shibuya, que foi assistente de Yasujiro Ozu, terá seis de seus títulos como diretor exibidos no evento. O romeno Sergei Loznitsa, de “Minha Felicidade”, que é um dos convidados da Mostra, ganhará uma retrospectiva completa de seus trabalhos, 14 curtas, médias e longa-metragens, entre eles “Na Neblina”, seu projeto mais recente, prêmio da crítica internacional em Cannes.

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    Animação "Frankenweenie", novo longa de Tim Burton, será o filme de encerramento em 2012

Já o português Miguel Gomes, com apenas três longas no currículo, ganhou uma precoce homenagem do evento, com a exibição de sua obra completa. Será a chance do cinéfilo que estiver em São Paulo terá para ver “Tabu”, seu novo e celebrado filme, que pelas regras do ineditismo, não teria espaço na seção Perspectiva Internacional já que integrou a seleção do Festival do Rio.

O evento, que se encerrará com a apresentação do clássico silencioso “Nosferatu”, de F.W. Murnau, na área externa do Auditório do Ibirapuera no dia 2 de novembro, também contará com versões restauradas de outros filmes que ajudaram a escrever a história do cinema.

“Lawrence da Arábia”, o épico de David Lean que ganhou uma tonelada de Oscars, terá sua primeira exibição já nesta sexta-feira (19), enquanto o maior dos western-spaghetti, “Era uma Vez no Oeste”, de Sergio Leone, terá sessões na segunda semana do evento. E, no meio de tantos nomes alternativos, a Mostra abriu espaço até para Steven Spielberg. Uma cópia nova de “Tubarão”, primeiro grande sucesso do cineasta mais popular de todos os tempos, está escalada para ocupar cinco sessões no festival.