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Will Ferrell e Zach Galifianakis disputam votos e risadas na sátira política "Os Candidatos"

Cena do filme "Os Candidatos", com Zach Galifianakis (à esquerda) e Will Ferrell - Divulgação
Cena do filme "Os Candidatos", com Zach Galifianakis (à esquerda) e Will Ferrell Imagem: Divulgação

Mariana Pasini e Mário Barra

Do UOL, em São Paulo

19/10/2012 05h03

Aproveitando o ápice das eleições nos Estados Unidos e no Brasil, a comédia "Os Candidatos" chega aos cinemas nacionais nesta sexta-feira (19) com uma "disputa" por risadas entre os comediantes Will Ferrell e Zach Galifianakis. Com uma sátira leve mas precisa sobre os bastidores e os trejeitos da política norte-americana, os atores garantem as risadas na produção dirigida por Jay Roach, cineasta que trabalhou na produção da franquia "Entrando Numa Fria".

Explorando o ridículo na política dos EUA

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    O político Cam Brady (Ferrell) tenta de tudo para agradar e conseguir ser reeleito ao Congresso

Assim como seu personagem no filme, Ferrell encontrou um adversário à altura para ridicularizar políticos. Zach Galifianakis consegue como ninguém adotar o jeito de uma pessoa doce demais para se aventurar no ramo, mas que endurece -- e quase apodrece -- conforme a corrida eleitoral se torna mais agressiva.

Ainda que pudesse ter piadas mais sujas, o longa entrega o que se espera: boas risadas e referências ao que há de mais escandaloso na imagem dos políticos norte-americanos reais como partes íntimas expostas em público e mensagens de sexo enviadas por engano.

Ferrell interpreta o experiente Cam Brady, um homem que vive pelo lema "Deus, armas e América" e está próximo a oficializar sua quinta candidatura ao Congresso. Dado a gafes, o político não hesita em usar argumentos esdrúxulos para se defender de deslizes como uma mensagem imprópria na secretária eletrônica de um lar conservador. Na ocasião, a família é surpreendida durante o jantar pelo apetite sexual do político, que errou de número ao mandar um recado para a amante.

Acostumado a não ter adversários em seu distrito do estado norte-americano da Carolina do Norte, Brady se surpreende quando o inocente Marty Huggins, interpretado por Galifianakis, resolve apresentar uma candidatura própria.

Manipulado pelos irmãos Motch (John Lithgow e Dan Aykroyd), raposas políticas que pularam a cerca após terem auxiliado o próprio Brady em sua trajetória política, o novato entra na disputa para atender aos interesses da dupla. O objetivo dos vilôes de verdade: abrir as portas da região para a aplicação do modelo de salários baixos e horas extras de fábricas chinesas dentro do solo norte-americano.

Se o personagem de Ferrell é chegado a falar besteira na hora errada, o de Galifianakis não resiste a agasalhos estampados, cãezinhos pug e chazinho gelado com canudinho. Inofensivo à primeira vista, Huggins vai deixar o experiente congressista preocupado de verdade quando os poderosos Motch contratam Tim Wattley (Dylan McDermott), um agressivo coordenador de campanha que vai ensaiar as respostas e trocar as roupas cafonas do novato. A partir daí, a guerra está declarada, e as piadas ganham mais força.

Os candidatos passam a querer revidar cada investida do oponente de forma cada vez mais baixa. Socar bebês, dormir com a mulher do adversário e até mesmo ludibriar o filho do rival são algumas das táticas -- acidentais ou não -- adotadas pelos rivais.

Os efeitos da campanha na família dos candidatos também rendem boas risadas. As ridículas confissões dos filhos de Huggins e da mulher Mitzi (Sarah Baker) à mesa são exemplos (veja trailer abaixo). Outro destaque vai para a empregada do pai de Huggins, um conservador nato que gosta de lembrar dos "bons tempos", forçando sua criada de ascendência oriental a adotar um sotaque típico das mulheres negras do interior norte-americano.

VEJA TRAILER LEGENDADO DE "OS CANDIDATOS"

Varrendo a bandalheira
Ao comentar o impacto do filme em audiências fora dos Estados Unidos, Galifianakis afirmou que "Os Candidatos" pode mostrar aos estrangeiros como algumas das situações ridículas retratadas na tela existem na política de verdade praticada no país. Ainda que não tenha ideia sobre como cidadãos fora dos Estados Unidos podem estar acostumados a obcenidades em época de eleição, o ator relata como a política pode ser parecida em todo o mundo, ainda que as situações descritas no filme sejam exageradas.

O slogan de Huggins no longa -- "traga as vassouras pois está uma bagunça"-- traz à lembrança o jingle de campanha do político Jânio Quadros no Brasil, durante a corrida à Presidência do país em 1960, que tinha uma letra com versos parecidos: "Varre, varre, vassourinha/ varre, varre a bandalheira", dizia a canção.

O caráter moralizador da propaganda do ex-presidente e ex-governador de São Paulo também podem ser identificadas no personagem de Galifianakis, que acaba se transformando em uma figura conservadora e agressiva ao ser repaginado por Wattley -- mesmo com boas intenções.

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    Dylan McDermott interpreta o coordenador de campanha Tim Wattley em "Os Candidatos"

Voltando ao universo norte-americano, é possível detectar outras alusões aos políticos de verdade como o slogan "Yes, we can", de Barack Obama, e as expressões típicas de debates eleitorais como "elevar a discussão" e "estou apenas fazendo perguntas" -- esta última já foi alvo de piada em "South Park", quando Eric Cartman se transforma em um "jornalista" inquisidor (em inglês).

E o que exatamente os candidatos entendem como perguntas pertinentes? Nada de debates sobre temas relevantes a qualquer administração pública como saúde, educação e transportes. A disputa é mais baseada em jogadas de marketing e na troca de acusações. Brady, por exemplo, é confrontado por Huggins por não saber rezar o Pai-nosso. Na hora de dar o troco, o experiente político tenta levantar suspeições sobre o bigode do novato e uma possível relação com terroristas.

Longe de fazer uma crítica mordaz e séria à política americana, "Os Candidatos" acerta a mão ao mudar seu foco para a interpretação dos comediantes. Ferrell, cada vez mais credenciado para encarnar políticos conservadores após o sucesso na imitação de George W. Bush em "Saturday Night Live", e o ascendente Galifianakis enriquecem um roteiro bem amarrado, com risadas garantidas até o fim.